O principal líder da oposição recebeu 44,3% dos votos (Philimon Bulawayo/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de agosto de 2018 às 13h49.
O líder da oposição no Zimbábue, Nelson Chamisa, rejeitou nesta sexta-feira (3) os "resultados falsos sem verificar", que deram a vitória ao presidente Emmerson Mnangagwa nas primeiras eleições desde a queda de Robert Mugabe em novembro.
O Zimbábue amanheceu nesta sexta com o anúncio de que Mnangagwa, ex-braço direito de Mugabe, havia sido eleito presidente com 50,8% dos votos, de acordo com a Comissão Eleitoral, o que evita um segundo turno.
Nelson Chamisa obteve 44,3% dos votos, anunciou nesta madrugada a presidente da Comissão, Priscilla Chigumba, em entrevista coletiva na capital, Harare.
https://twitter.com/nelsonchamisa/status/1025249973439549440
Inconformado, o líder da oposição rejeitou os resultados no Twitter, denunciando que são "resultados falsos sem verificar".
"O escândalo da ZEC (a Comissão Eleitoral) publicando resultados falsos sem verificar é lamentável", tuitou Chamisa.
"O nível de opacidade, a falta de verdade, a deterioração moral e a ausência de valores são desconcertantes", acrescentou.
Mnangagwa foi, por mais de 30 anos, um aliado fiel do presidente e autocrata zimbabuano Robert Mugabe. Dirige o país desde novembro, após um golpe militar que obrigou Mugabe a renunciar. Foi escolhido pelo partido no poder, o ZANU-PF, para lhe suceder.
Desde sua independência da Grã-Bretanha em 1980, o país teve apenas dois chefes de Estado, ambos do ZANU-PF: Mugabe e Mnangagwa.
Esta semana, Mnangagwa disse que sua vitória significa um "novo começo" para o país.
"Embora tenhamos estado divididos nas urnas, estamos unidos em nossos sonhos", escreveu no Twitter.
Em Harare, a capital, a polícia invadiu com escudos e cilindros de gás lacrimogêneo o Hotel Bronte, onde Chamisa pretendia conceder uma entrevista coletiva, mas os agentes saíram do local pouco depois.
Na quarta-feira, o anúncio de uma vitória esmagadora do ZANU-PF nas legislativas provocou protestos de partidários da oposição para denunciar fraude eleitoral. Os militares atiraram nos manifestantes, deixando seis mortos na capital.
Na quinta-feira, os militares patrulharam o centro de Harare, onde a Polícia do Batalhão de Choque estava estacionada diante da sede do opositor MDC, enquanto um grupo de soldados vigiava os escritórios do partido governista.
Nesta sexta-feira, as ruas da capital voltaram a sua movimentação habitual, onde os partidários do ZANU-PF festejavam o resultado.
"Este é um novo Zimbábue, estamos felizes", disse Tendai Mugadzi, de 32 anos, que não se preocupou com a apertada margem de vitória para evitar um segundo turno. "Apenas mostra que esta foi uma eleição livre e justa", afirmou.
Os analistas da EXX Africa estimam que o país voltará à normalidade nas próximas semanas, sem a organização de grandes protestos, "devido às fortes medidas de segurança na capital e em outras cidades".
A vitória do presidente em final de mandato "significa que vamos continuar sofrendo", afirmou Emion Chitsate, um guarda de segurança privado.
"Esperávamos ter um novo dirigente e um novo governo com novas ideias. Ao final, o futuro será mais sombrio do que com Mugabe", disse.
Os zimbabuanos votaram em massa, na segunda-feira, nas eleições presidencial, legislativa e municipal, com uma participação que chegou a 80% na maioria das dez províncias do país.
O ZANU-PF obteve a maioria absoluta no Parlamento, com 110 cadeiras de um total de 210.
Em nota, os observadores da União Europeia (UE) denunciaram na quarta-feira "a desigualdade de possibilidades" entre os candidatos às eleições gerais no Zimbábue e "intimidações aos eleitores".
Durante o regime de Mugabe, as eleições estiveram marcadas pela violência e pela fraude.
Nos últimos dias, a presidente da comissão, Priscilla Chigumba, descartou as denúncias.