Pedro Pablo Kuczynski: triunfo no Parlamento lhe dá oxigênio para reformular suas políticas de governo (Guadalupe Pardo/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de dezembro de 2017 às 10h56.
O presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, o "gringo" que chegou ao poder há um ano e meio com um enorme sorriso e passos da dança, conseguiu se salvar de um impeachment após uma maratona de debates no Congresso.
Para o chefe de Estado, o susto passou, mas deverá ter em mente a forte oposição liderada pelo partido fujimorista Força Popular e alguns grupos de esquerda.
Seu triunfo no Parlamento lhe dá oxigênio para reformular suas políticas.
"Ele (Kuczynski) sempre quis retornar ao Peru para ajudar, para empurrar este país a ser um país melhor e confiou demais em muitas pessoas, não checou suas contas, não verificou outras coisas, sofreu por confiar demais", declarou sua esposa, a americana Nancy Lange.
"Ninguém é perfeito", ressalta o seu conselheiro Máximo San Román, empresário e ex-vice-presidente de Alberto Fujimori até o autogolpe de abril de 1992.
As maiores críticas contra Kuczynski foram motivadas por suas atividades no setor privado. Seus opositores o acusam de manter ligações com grandes multinacionais e atuar como lobista.
Nas ruas ele é chamado de "pituco" (pessoa rica e frívola), o que rejeita, fazendo questão de lembrar de sua história quando criança e vivia na pequena cidade de Iquitos. "Sou um gringo charapa", como são chamados aqueles que nasceram na Amazônia.
"Dizem que estou velho, mas a cabeça e a experiência funcionam", declara este economista de 79 anos e filho de um médico alemão que chegou ao Peru com sua família em 1936 fugindo do nazismo.
Quando assumiu a presidência, em julho de 2016, surpreendeu os peruanos com passos de dança e durante a primeira reunião do Conselho de ministros colocou todos para fazer exercícios no pátio do Palácio do Governo.
Entre piadas, dizia que a presidência seria seu último trabalho, alegando que por conta de sua idade estava mais perto de uma aposentadoria do que em busca de perpetuar-se no poder. A frase fazia uma alusão a sua rival Keiko Fujimori, que, caso vencesse, suspeitava-se que poderia modificar a Constituição para buscar uma reeleição.
Ex-banqueiro de Wall Street e empresário, o presidente é conhecido como "o gringo" por seu sotaque anglo-saxão herdado de uma educação nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Graduou-se em Política, Filosofia e Economia em Oxford e em Administração Pública na Universidade de Princeton.
No Peru, é popularmente conhecido como PPK, pelas iniciais de seu nome, uma fórmula simples para um sobrenome impronunciável para a maioria de seus compatriotas.
Casado duas vezes, ambas com americanas, Kuczynski é pai de quatro filhos. Desde 1997, sua esposa é Nancy Lange, prima da atriz Jessica Lange.
É crítico do protecionismo comercial, defendido pelo presidente americano Donald Trump. No entanto, concordou com este último em suas condenações ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela.
Foi um dos promotores do Grupo de Lima, que reúne uma dúzia de países críticos ao governo venezuelano.
Paradoxalmente, Kuczynski projetou uma imagem melhor fora do Peru do que dentro de seu país. Seu humor deu origem à imagem de um presidente que parecia viver em uma nuvem, em um mundo paralelo que lhe permitiria cumprir seu mandato em paz, sem lutar contra adversários.
Percebido como um homem frio e possuidor de um senso de humor cáustico, suas piadas recorrentes fora de lugar começaram a não se encaixar no imaginário peruano.
Por ter integrado vários conselhos de empresas, seus detratadores expressaram receios de que, na presidência, defenderia interesses particulares.
"Eu não sou um político, sou um economista que quer fazer algo pelo seu país", disse uma vez.
Nascido em Lima, em 3 de outubro de 1938, o presidente passou grande parte de sua infância no ambiente amazônico.