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Krugman insiste que Escandinávia deve proteger bem-estar

Economistas questionou esforços para frear a política de bem-estar social depois que a Dinamarca abandonou seu modelo de benefícios

Prêmio Nobel Paul Krugman, professor de comércio exterior e economia em Princeton, discursa durante entrevista de TV para a Bloomberg, em Nova York (Scott Eells/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 16h27.

Oslo - O prêmio Nobel Paul Krugman questionou os esforços para frear a política de bem-estar social na Escandinávia depois que a Dinamarca abandonou seu modelo de benefícios universais e a Suécia começou a priorizar as reduções de impostos sobre os gastos.

“Não está claro que a crise tenha exigido essas ações”, disse Krugman, ontem, em entrevista, em Oslo. “Não está claro que tudo o que aconteceu indique que as reduções de impostos devem ser uma prioridade para os suecos”.

A Escandinávia, que os investidores trataram como um refúgio durante a crise da dívida da Europa, tem mantido a dívida pública a menos da metade da média da zona do euro enquanto oferece aos cidadãos serviços gratuitos de cuidados de saúde e educação. Os dinamarqueses e suecos pagam pelos serviços as mais altas cargas tributárias do mundo que, em relação ao PIB, são quase o dobro dos 25 por cento dos EUA, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

No entanto, alguns serviços escandinavos, incluindo benefícios para desempregados, bolsas de estudo e de apoio à criança, foram reduzidos durante a crise porque, segundo o governo, as reduções de impostos eram uma ferramenta mais efetiva para a criação de empregos do que o investimento público.

“Nós alteramos continuamente prioridades e financiamentos para otimizar o modelo”, disse o ministro dinamarquês da Fazenda, Bjarne Corydon, em 7 de janeiro, em entrevista, em Copenhague.

Reduções dinamarquesas

Desde que assumiu, em 2011, o governo dinamarquês reduziu a ajuda estatal aos desempregados e elevou a idade de aposentadoria.

Estudantes universitários passam por testes antes de ter acesso a bolsas de estudo. A partir deste ano, as famílias que recebem mais de US$ 130.000 por ano não terão o mesmo acesso ao apoio à criança que as famílias mais pobres, porque o governo garante a verba para as famílias mais necessitadas.

As mudanças sobre o bem-estar social realizadas na Dinamarca, que antes da crise financeira global oferecia os mesmos benefícios para as famílias em todas as faixas de renda, marcam uma “mudança de paradigma”, disse Peter Kurrild-Klitgaard, professor de ciência política da Universidade de Copenhague.


Na Suécia, o governo do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt reduziu os impostos de renda cinco vezes desde que chegou ao poder, em 2010. A maioria das pesquisas sugere que a coalizão de Reinfeldt perderá as eleições em setembro, porque os suecos rejeitam sua plataforma de redução de impostos e optarão pela oposição, liderada pelo partido Social-Democrata, que promete um modelo mais tradicional de bem-estar social baseado em impostos mais altos e gastos maiores.

Lições do modelo

“A lição é que, na verdade, você pode se sair bem com um Estado generoso no tocante ao bem-estar social enquanto esse modelo tiver uma base fiscal sólida”, disse Krugman. Mesmo após serem reduzidos, “todos os sistemas escandinavos de bem-estar social ainda estão muito além dos sonhos mais loucos dos liberais dos Estados Unidos”, disse ele.

A Suécia, a maior economia nórdica e lar de algumas das maiores empresas do mundo em suas áreas, como a Volvo AB, a Ikea e a Hennes Mauritz AB, crescerá 2,8 por cento neste ano, estima a Comissão Europeia. A economia da Dinamarca expandirá 1,7 por cento, informou o país em novembro. Esse total contrasta com o crescimento estimado de 2,6 por cento dos EUA.

O modelo da Escandinávia não deixou um rombo em suas finanças públicas. Comparado com os 5,7 por cento de déficit do PIB que a Comissão Europeia estima que os EUA registrarão neste ano, a Dinamarca terá um déficit de 1,7 por cento e o déficit orçamentário da Suécia será de apenas 1,2 por cento.

O governo da Dinamarca recolhe uma maior receita relativa à produção econômica do que qualquer outro país segundo a OCDE, com sede em Paris. Em 2011, a receita tributária dinamarquesa relativa ao PIB era de 48,1 por cento, seguida de 44,5 por cento da Suécia. Os dois países, ambos com estáveis notas AAA da Moody’s Investors Services, da Standard Poor’s e da Fitch Ratings, ostentam o menor risco de moratória do mundo após a Noruega, segundo operadores de derivativos de créditos.

“As pessoas que gostam de dizer que a manutenção do bem-estar social pelo Estado foi a fonte da crise deveriam olhar para a Suécia, que não está em seu melhor momento, mas que em relação a quase qualquer outro lugar do mundo administrou a crise muito bem”, disse Krugman. Isso “a pesar de um Estado assistencialista bastante generoso”.

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“Não está claro que a crise tenha exigido essas ações”, disse Krugman, ontem, em entrevista, em Oslo. “Não está claro que tudo o que aconteceu indique que as reduções de impostos devem ser uma prioridade para os suecos”.

A Escandinávia, que os investidores trataram como um refúgio durante a crise da dívida da Europa, tem mantido a dívida pública a menos da metade da média da zona do euro enquanto oferece aos cidadãos serviços gratuitos de cuidados de saúde e educação. Os dinamarqueses e suecos pagam pelos serviços as mais altas cargas tributárias do mundo que, em relação ao PIB, são quase o dobro dos 25 por cento dos EUA, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

No entanto, alguns serviços escandinavos, incluindo benefícios para desempregados, bolsas de estudo e de apoio à criança, foram reduzidos durante a crise porque, segundo o governo, as reduções de impostos eram uma ferramenta mais efetiva para a criação de empregos do que o investimento público.

“Nós alteramos continuamente prioridades e financiamentos para otimizar o modelo”, disse o ministro dinamarquês da Fazenda, Bjarne Corydon, em 7 de janeiro, em entrevista, em Copenhague.

Reduções dinamarquesas

Desde que assumiu, em 2011, o governo dinamarquês reduziu a ajuda estatal aos desempregados e elevou a idade de aposentadoria.

Estudantes universitários passam por testes antes de ter acesso a bolsas de estudo. A partir deste ano, as famílias que recebem mais de US$ 130.000 por ano não terão o mesmo acesso ao apoio à criança que as famílias mais pobres, porque o governo garante a verba para as famílias mais necessitadas.

As mudanças sobre o bem-estar social realizadas na Dinamarca, que antes da crise financeira global oferecia os mesmos benefícios para as famílias em todas as faixas de renda, marcam uma “mudança de paradigma”, disse Peter Kurrild-Klitgaard, professor de ciência política da Universidade de Copenhague.


Na Suécia, o governo do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt reduziu os impostos de renda cinco vezes desde que chegou ao poder, em 2010. A maioria das pesquisas sugere que a coalizão de Reinfeldt perderá as eleições em setembro, porque os suecos rejeitam sua plataforma de redução de impostos e optarão pela oposição, liderada pelo partido Social-Democrata, que promete um modelo mais tradicional de bem-estar social baseado em impostos mais altos e gastos maiores.

Lições do modelo

“A lição é que, na verdade, você pode se sair bem com um Estado generoso no tocante ao bem-estar social enquanto esse modelo tiver uma base fiscal sólida”, disse Krugman. Mesmo após serem reduzidos, “todos os sistemas escandinavos de bem-estar social ainda estão muito além dos sonhos mais loucos dos liberais dos Estados Unidos”, disse ele.

A Suécia, a maior economia nórdica e lar de algumas das maiores empresas do mundo em suas áreas, como a Volvo AB, a Ikea e a Hennes Mauritz AB, crescerá 2,8 por cento neste ano, estima a Comissão Europeia. A economia da Dinamarca expandirá 1,7 por cento, informou o país em novembro. Esse total contrasta com o crescimento estimado de 2,6 por cento dos EUA.

O modelo da Escandinávia não deixou um rombo em suas finanças públicas. Comparado com os 5,7 por cento de déficit do PIB que a Comissão Europeia estima que os EUA registrarão neste ano, a Dinamarca terá um déficit de 1,7 por cento e o déficit orçamentário da Suécia será de apenas 1,2 por cento.

O governo da Dinamarca recolhe uma maior receita relativa à produção econômica do que qualquer outro país segundo a OCDE, com sede em Paris. Em 2011, a receita tributária dinamarquesa relativa ao PIB era de 48,1 por cento, seguida de 44,5 por cento da Suécia. Os dois países, ambos com estáveis notas AAA da Moody’s Investors Services, da Standard Poor’s e da Fitch Ratings, ostentam o menor risco de moratória do mundo após a Noruega, segundo operadores de derivativos de créditos.

“As pessoas que gostam de dizer que a manutenção do bem-estar social pelo Estado foi a fonte da crise deveriam olhar para a Suécia, que não está em seu melhor momento, mas que em relação a quase qualquer outro lugar do mundo administrou a crise muito bem”, disse Krugman. Isso “a pesar de um Estado assistencialista bastante generoso”.

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