Jund al-Khilafa ameaça matar francês se ataques não pararem
A França é até o momento o único país, além dos Estados Unidos, a ter bombardeado posições do Estado Islâmico no Iraque
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2014 às 20h24.
Um grupo ligado aos jihadistas do Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta segunda-feira o sequestro de um francês na Argélia e ameaçou executá-lo em 24 horas, se a França não suspender os ataques contra esse movimento ultra-radical no Iraque.
O anúncio foi feito algumas horas depois de uma advertência feita pelo EI de que vai matar cidadãos dos países da coalizão internacional criada para lutar contra o grupo jihadista no Iraque e na Síria, principalmente americanos e franceses.
Na Síria, o avanço do EI em uma região próxima à Turquia levou mais de 130.000 sírios, principalmente curdos, a buscar refúgio do outro lado da fronteira.
Em um vídeo, o grupo jihadista argelino Jund al-Khilafa, que jurou fidelidade ao EI, reivindica o sequestro de um francês, levado na noite de domingo na região de Tizi Ouzou, 110 km a leste de Argel, segundo as autoridades francesas e argelinas.
O ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius, confirmou a autenticidade da gravação.
O vídeo mostra o refém, Hervé Pierre Gourdel, pede ao presidente francês que o tire desta situação.
Gourdel aparece sentado no chão cercado por dois homens mascarados e armados com fuzis.
"Deixo para Hollande, o presidente do Estado francês criminoso, a iniciativa de interromper os ataques contra o Estado Islâmico nas 24 horas depois da divulgação deste comunicado ou seu compatriota Hervé Gourdel será degolado", afirma um dos homens armados.
A França é até o momento o único país, além dos Estados Unidos, a ter bombardeado posições do EI no Iraque.
O refém, que havia chegado à Argélia no sábado, declara que é um guia de montanhas originário de Nice, no sul da França.
O Ministério argelino do Interior explicou que o francês havia sido sequestrado por homens armados que interceptaram o veículo em que ele estava.
Depois do anúncio do sequestro, o presidente François Hollande entrou em contato com o primeiro-ministro argelino, Abdelmalek Sellal. "A cooperação é total entre a França e a Argélia em todos os níveis para tentarmos (...) libertar nosso compatriota", afirmou a Presidência francesa.
"Franceses perversos"
Em uma mensagem divulgada na manhã desta segunda-feira em várias línguas, o EI fez aos seus fiéis um apelo pelo assassinato de cidadãos de cerca de quarenta países que se uniram para "destruir" o grupo, nas palavras do presidente americano, Barack Obama.
"Se vocês puderem matar um infiel americano ou europeu - principalmente os franceses perversos e sujos - ou um australiano ou um canadense, ou qualquer (...) cidadão dos países envolvidos em uma coalizão contra o Estado Islâmico, confiem em Alá e matem-no, não importa de que forma", declarou Abu Mohammed al-Adnani, porta-voz do EI.
Frente a esta ameaça, Paris pediu "prudência máxima" a seus cidadãos que vivem em cerca de trinta países - principalmente do Magreb, do Oriente Médio e da África - ou que precisem viajar para essas regiões.
Pouco antes, o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, havia afirmado que a França "não tem medo", acrescentando: As ameaças dos jihadistas "não mudarão em nada a nossa determinação de acabar com seus abusos".
No Iraque, os jihadistas atacaram no domingo uma base do Exército, a oeste de Bagdá, onde mataram 40 soldados e capturaram 70, indicou nesta segunda um oficial iraquiano.
Êxodo para a Turquia
Enquanto isso, na Síria - onde o EI invadiu pelo menos 64 aldeias da região de Ain al-Arab (Kobané em curdo) na semana passada -, os moradores continuam fugindo para a Turquia.
Os jihadistas querem tomar Ain al-Arab, terceira maior cidade curda da Síria, para conquistar o controle total de uma extensa faixa na fronteira sírio-turca. Mas seu avanço foi contido nesta segunda-feira por combatentes curdos, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O vice-primeiro ministro turco, Numan Kurtulmus, anunciou que o número de sírios que fugiram para a Turquia superou os 130.000 e afirmou que seu país "tomou todas as medidas necessárias para uma chegada de deslocados".
Confirmando esse número, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) indicou que os deslocados se refugiaram em várias cidades do sudeste da Turquia, passando por nove postos de fronteira.
Mas a Anistia Internacional lamentou que Ancara tenha começado a "fechar alguns de seus postos de fronteira".
Diante do avanço jihadista no nordeste da Síria, o líder da Coalizão Nacional Opositora síria, Hadi al-Bahra, pediu que a comunidade internacional realize ataques aéreos "imediatamente".
"Atacar os jihadistas do EI apenas no Iraque não vai adiantar, se eles continuarem atuando, se reunindo e treinando na Síria", insistiu.
De acordo com o OSDH, sírios não-curdos se juntaram aos combatentes curdos para defender Ain al-Arab. Na localidade turca de Suruç, perto da fronteira, houve confrontos entre as forças de segurança e centenas de manifestantes curdos que protestavam contra a recusa das autoridades em deixá-los ir para a Síria para combater ao lado de seus compatriotas a pedido o movimento armado curdo turco PKK.