Julgamento do acidente aéreo Rio-Paris de 2009 entra na reta final
Em 1º de junho de 2009, o avião AF447 caiu no Oceano Atlântico, quase quatro horas após decolar do RJ; seus 216 passageiros e 12 tripulantes morreram
AFP
Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 11h11.
Após oito semanas de audiências, o julgamento pelo acidente do voo Rio-Paris contra a fabricante Airbus e a companhia aérea Air France entra em sua reta final nesta quarta-feira (7), com os últimos argumentos do Ministério Público francês.
Em 1º de junho de 2009, o avião AF447 caiu no Oceano Atlântico, quase quatro horas após decolar do Rio de Janeiro. Seus 216 passageiros e 12 tripulantes morreram nesta tragédia.
"Este trágico acidente foi, sobretudo, uma tragédia humana que marcou para sempre os familiares das vítimas", cujo "sofrimento tem sido constantemente revivido ao longo destes treze anos", um "tempo longo demais", declarou a promotora Marie Duffourc em uma sala lotada no Tribunal Correcional de Paris.
"Representar a sociedade em tal julgamento significa preservar a ordem social (e) lembrar que o respeito à vida humana não admite qualquer compromisso", alertou.
O segundo promotor, Pierre Arnaudin, começou então a detalhar todos os "fatores contribuintes" do acidente, a fim de estabelecer se uma "culpa" poderia ser imputada à Airbus e à Air France em "conexão" com o desastre.
As duas empresas, que incorrem a uma multa de 225 mil euros cada, contestam qualquer falha.
Embora os juízes de instrução tenham arquivado o caso em 2019, os familiares das vítimas e os sindicatos dos pilotos apelaram e, em maio de 2021, os tribunais enviaram as duas empresas a julgamento por homicídio doloso.
Segundo laudos periciais, o congelamento das sondas de velocidade Pitot causou alteração nas medições de velocidade do Airbus A330, o que desorientou os pilotos até perderem o controle do avião.
Para o tribunal de apelação, que reverteu o arquivamento do caso, a Air France não implementou o "treinamento adaptado", nem forneceu as "informações" necessárias para que os pilotos pudessem "reagir" a essa falha técnica.
A Airbus, por sua vez, é acusada de "subestimar a gravidade" das falhas das sondas de velocidade, por não tomar as medidas necessárias para informar com urgência as tripulações ou treiná-las de forma eficaz.
As falhas nessas sondas se multiplicaram nos meses anteriores ao acidente. Após a catástrofe, o modelo foi alterado em todo o mundo.
A tragédia motivou ainda outras modificações técnicas no domínio da aeronáutica e um treino reforçado numa situação de perda de altitude e de estresse da tripulação.