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Julgamento das mortes na crise de 2001 começa na Argentina

Estopim da violência na Argentina foi decisão do governo de confiscar depósitos bancários dos cidadãos, na véspera do Natal de 2001, para pagar a dívida externa


	Fernando de la Rúa: em dois dias de manifestações, que resultaram na renúncia do então presidente Fernando de La Rua, 38 pessoas morreram e centenas ficaram feridas
 (©afp.com / Ho)

Fernando de la Rúa: em dois dias de manifestações, que resultaram na renúncia do então presidente Fernando de La Rua, 38 pessoas morreram e centenas ficaram feridas (©afp.com / Ho)

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Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2014 às 21h46.

Buenos Aires – Começou nesta segunda-feira (24) o julgamento de 17 pessoas, consideradas responsáveis pela violência que tomou conta da Argentina nos dias 19 e 20 de dezembro de 2001 – durante a pior crise da história recente do país.

Em dois dias de manifestações, que resultaram na renúncia do então presidente Fernando de La Rua, 38 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Passados 12 anos, os primeiros cinco casos começam a ser julgados.

Num ato em homenagem às vítimas, realizado hoje, em frente ao tribunal, o secretário de Direitos Humanos da Argentina, Juan Martin Fresneda, lamentou que tantos jovens tenham morrido nos protestos de 2001 (alguns deles com 13, 15 e 16 anos), e que a justiça tenha demorado tanto.

Mas, ainda assim, ele considera a Argentina um exemplo a ser seguido por países como Venezuela e Ucrânia, onde dezenas morreram em recentes manifestações.

“As sociedades sempre pagam um preço alto por mortes, especialmente se ocorrem em manifestações sociais”, disse Fresneda à Agência Brasil. “É muito importante que, na Venezuela e na Ucrânia, a Justiça atue rapidamente, para poder ajudar a resolver os conflitos, seja com comissões da memória, seja com a ação de uma Justiça comprometida, responsável e eficiente”, disse ele.

O estopim da violência na Argentina foi a decisão do governo de confiscar os depósitos bancários dos cidadãos, na véspera do Natal de 2001, para pagar a dívida externa.

Houve saques a supermercados e protestos contra a recessão e o desemprego. O então presidente Fernando De La Rua decretou estado de sítio, na noite de 19 de dezembro, mas uma multidão desafiou as autoridades e saiu às ruas – com panelas na mão – para protestar na Praça de Maio, em frente ao palácio presidencial. As forças de segurança reprimiram, algumas vezes com tiros.


Foi o caso do motoboy Gaston Riva, que na época tinha 30 anos. Ele estava tentando chegar à Praça de Maio, com um grupo de motoqueiros, quando levou um tiro nas costas – a poucos metros da Casa Rosada.

Seus amigos participaram hoje do ato, convocado por organizações de direitos humanos. “Ele deixou uma viúva e quatro filhos, e a única coisa que queria fazer era ajudar às pessoas que estavam apanhando da polícia”, disse o colega dele Mariano Roldes, que assistiu ao assassinato.

Fernando De La Rua foi acusado de ser o responsável indireto pelas mortes, por ter decretado o estado de sítio e ter permitido a repressão.

Ele foi absolvido em tribunais de primeira e segunda instâncias, mas os organismos de defesa dos Direitos Humanos apelaram à Suprema Corte, que deve dar seu veredito em breve. “Se ele for considerado inocente, vamos pedir que venha depor como testemunha; se for considerado culpado, estará no banco dos réus”, disse o promotor Santiago Vismara.

Ate o momento, dezessete pessoas foram responsabilizadas direta ou indiretamente pela morte das cinco pessoas, cujos casos começaram a ser julgados nesta quinta-feira 924) - entre eles, o ex-secretario de Segurança Interior do governo de De la Rua, Enrique Mathov. Mais de quatrocentas pessoas vão prestar depoimento e o julgamento – segundo os fiscais – deve demorar dois anos.

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