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Agressor de Kirchner declarou em juízo que tentou matá-la por 'justiça'

Caso aconteceu em 2022, mas arma não disparou depois do tiro

Fernando Sabag Montiel, um dos acusados da tentativa de homicídio contra a ex-vice-presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner, no início do julgamento em Buenos Aires (AFP)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 27 de junho de 2024 às 10h28.

O agressor que há dois anos tentou assassinar a tiros a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou nesta quarta-feira, 26, durante seu julgamento, que o fez como "um ato de justiça".

"A Dra. Kirchner é corrupta, rouba e prejudica a sociedade", justificou-se perante o tribunal Fernando Sabag Montiel, de 37 anos, que em 1º de setembro de 2022 acionou o gatilho a poucos centímetros da cabeça da então vice-presidente, sem que as balas saíssem, e desencadeou um terremoto político.

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O julgamento está centrado no agressor, sua ex-namorada e o empregador de ambos como vendedores ambulantes, sem tratar de supostos autores intelectuais ou de um possível apoio financeiro, pistas que a ex-presidente Kirchner solicitou que sejam investigadas e que fazem parte de um caso paralelo.

"A ideia era matar Cristina", disse Sabag ao assumir a responsabilidade pelo atentado na primeira audiência do julgamento, na qual foram lidas as acusações de tentativa de homicídio qualificado, um crime que prevê penas de até 25 anos.

A sessão, que durou sete horas, terminou na tarde desta quarta, e a segunda ocorrerá na próxima semana.

O Tribunal Oral Federal 6 leu as acusações da autora e da promotoria, que citaram mensagens de texto trocadas pelos acusados.

Nelas, ficou evidente que os acusados conseguiram uma arma ilegal, que foi usada no ataque, tentaram alugar uma casa perto da residência da ex-presidente e procuraram uma oportunidade para executá-la.
"Eles estavam plenamente conscientes do que estavam fazendo e de suas possíveis consequências", afirmou a acusação.

Durante as audiências que ocorrerão semanalmente, cerca de 300 testemunhas serão ouvidas, incluindo a própria Kirchner, em um processo cuja estimativa de duração é de um ano.

Os acusados

O agressor resultou ser um vendedor de doces que naquela noite atacou Kirchner em frente à casa dela em Buenos Aires, misturado entre centenas de simpatizantes que foram apoiá-la quando estava sendo julgada por suposta fraude durante sua presidência (2007-2015).

Sabag Montiel apertou o gatilho duas vezes sem que as balas saíssem e foi preso no local.

No julgamento, o agressor se mostrou calmo e disposto a se explicar em suas respostas, nas quais se definiu como "apolítico" e "cristão".

"Apesar de ter tentado matar alguém, sem ser hipócrita, sou cristão", disse ao tribunal.

Questionado sobre as motivações que o levaram a planejar e executar o ataque, respondeu que "os objetivos têm mais um tom pessoal do que um fim que possa beneficiar um setor político".

Sua então namorada, Brenda Uliarte, que o acompanhou até as proximidades do local do incidente, foi presa dias depois, assim como Nicolás Carrizo, empregador de ambos como vendedores de doces e apontado como "idealizador”.

Sabag Montiel, que tem tatuagens com simbologia filonazista, mostrou uma personalidade "narcisista" e um discurso "extravagante", segundo perícias.

Uliarte é acusada de ser a "coautora" e também foi apontada como incentivadora, enquanto Carrizo é acusado de ser cúmplice.

"Vou com a pistola para a casa de Cristina e vou dar um tiro nela", escreveu Sabag Montiel em uma mensagem para Uliarte semanas antes do ataque, ao que ela respondeu: “A ideia é que você dê o tiro e escape".

Após o ataque fracassado, Carrizo se vangloriou de que seu "empregado" havia realizado o ataque. "Eu o aplaudo, ele esteve a um segundo de ser um herói nacional".

Impacto político

Após o atentado, Kirchner recebeu mensagens de solidariedade de todo o mundo.

Também houve uma suspeita sobre a veracidade do ataque, posteriormente dissipada pelas perícias.

Em meio às condenações públicas, adversários políticos, como a atual ministra de Segurança, Patricia Bullrich, ex-candidata à presidência pela coalizão de direita Juntos pela Mudança, optaram pelo silêncio.

Seu ex-chefe de campanha e deputado, Gerardo Milman, é uma das pessoas que Kirchner pediu para investigar, depois de ter sido ouvido falando sobre o ataque antes que ele ocorresse. Uma perícia de seu telefone ainda está pendente.

Essa e outras pistas sobre o suposto financiamento que levam até uma empresa da família do atual ministro da Economia, Luis Caputo, foram descartadas pelo tribunal.

O atentado "foi um antes e um depois, não porque tenha mudado a política, mas porque evidenciou claramente que a polarização permite, em certo setor, que não haja nenhum tipo de condenação quando o atacado é o outro", disse à AFP Iván Schuliaquer, cientista político da Universidade Nacional de San Martín.

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