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Jovens chineses reagem com indignação à proposta de aumentar a idade de aposentadoria

Discussão sobre reforma da previdência provoca revolta nas redes sociais, enquanto especialistas alertam que o envelhecimento da população torna a mudança inevitável.

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 13 de agosto de 2024 às 13h02.

Última atualização em 13 de agosto de 2024 às 13h22.

A recente proposta de aumentar a idade de aposentadoria na China, discutida durante uma reunião do Partido Comunista, desencadeou uma intensa polêmica nas redes sociais e reacendeu tensões entre gerações. A medida, considerada inevitável por especialistas devido ao rápido envelhecimento da população chinesa, tem sido amplamente criticada pelos jovens, que expressam preocupação com o impacto da mudança sobre suas perspectivas de carreira e qualidade de vida. As informações são do Financial Times.

Atualmente, a idade de aposentadoria na China é relativamente baixa em comparação com outros países: 50 anos para mulheres em trabalhos manuais, 55 para mulheres em cargos administrativos e 60 para todos os homens.

Essa política foi estabelecida em uma época em que a expectativa de vida era muito menor e o ingresso no mercado de trabalho ocorria mais cedo, devido à baixa taxa de escolaridade. No entanto, com o aumento da longevidade e o crescimento da educação superior, que atrasa a entrada dos jovens na força de trabalho, o governo considera necessário ajustar essas idades.

A principal razão para a mudança proposta é o impacto do envelhecimento populacional sobre a força de trabalho e o sistema de previdência social. De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), a razão de dependência de idosos na China, que mede o número de pessoas com 65 anos ou mais em relação à população de 15 a 64 anos, era de 21% em 2022, comparado a 27% nos Estados Unidos. No entanto, essa proporção deve aumentar para 52% até 2050, enquanto nos EUA chegará a 39%. Isso significa que haverá menos trabalhadores para sustentar um número crescente de aposentados, colocando uma pressão significativa sobre o sistema previdenciário.

O impacto financeiro é uma das principais preocupações. O Instituto Chinês de Ciências Sociais (CASS) estimou em 2019 que o fundo básico de seguro de pensão para funcionários de empresas urbanas poderia atingir seu pico em 2027, com um saldo acumulado de quase 7 trilhões de yuans (aproximadamente R$ 5,49 trilhões). Após esse pico, o fundo começaria a se esgotar rapidamente, podendo ficar sem recursos até 2035. Esse cenário exige reformas estruturais para garantir que o sistema previdenciário continue a atender à população envelhecida.

Forte resistência

Entretanto, a proposta de aumentar a idade de aposentadoria enfrenta forte resistência, especialmente entre os jovens. Comentários críticos nas redes sociais refletem um sentimento generalizado de frustração e desconfiança em relação ao futuro. Muitos jovens, que já lidam com longas jornadas de trabalho e dificuldades em encontrar empregos de qualidade, veem a mudança como uma ameaça adicional às suas já incertas perspectivas de carreira.

Além disso, o impacto desigual da reforma previdenciária sobre diferentes grupos socioeconômicos também é motivo de preocupação. Atualmente, os servidores públicos e trabalhadores urbanos formalmente empregados recebem pensões significativamente mais generosas do que os trabalhadores rurais e migrantes, que muitas vezes não têm acesso a uma aposentadoria digna. Especialistas apontam que, para tornar o sistema mais equitativo, seria necessário um aumento substancial nos recursos destinados às pensões, o que por sua vez pressionaria ainda mais o orçamento do governo.

O governo chinês parece ciente das sensibilidades em torno do tema. Após a reunião do Partido Comunista, a linguagem oficial indicou que as mudanças seriam implementadas de forma gradual e que a participação voluntária seria permitida em alguns casos. Essa abordagem busca mitigar a reação negativa e facilitar a transição para o novo modelo previdenciário.

No entanto, rumores de que a idade de aposentadoria poderia ser estendida para 65 anos para aqueles nascidos após 1990 inflamaram ainda mais a discussão. Muitos jovens expressaram sua frustração nas redes sociais, com um usuário resumindo o sentimento geral ao dizer que sua geração "nasceu quando disseram que havia pessoas demais, cresceu quando disseram que havia pessoas de menos, é considerada velha quando procura emprego, mas agora é jovem demais para se aposentar."

A insatisfação não se limita aos jovens. Trabalhadores de meia-idade também demonstram ressentimento em relação à geração anterior, que conseguiu se aposentar com benefícios relativamente generosos em uma idade mais jovem, aproveitando os dividendos do rápido crescimento econômico que a China experimentou nas últimas décadas.

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