Boris Johnson: primeiro ministro disse que reafirmou nesta quarta-feira que seu país abandonará a União Europeia (UE) em 31 de outubro "aconteça o que acontecer" (Leon Neal/Getty Images)
AFP
Publicado em 2 de outubro de 2019 às 09h53.
Última atualização em 2 de outubro de 2019 às 11h37.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reafirmou nesta quarta-feira que seu país abandonará a União Europeia (UE) em 31 de outubro "aconteça o que acontecer", ao mesmo tempo que disse esperar que o bloco faça concessões para alcançar um acordo sobre o Brexit.
O premiê fez um discurso no congresso do Partido Conservador em Manchester, no qual destacou que a proposta que apresentará hoje a Bruxelas exclui controles na fronteira irlandesa e afirmou que, se não for aceita, a única alternativa é um Brexit sem acordo.
"Hoje levaremo a Bruxelas o que acredito que sejam propostas razoáveis e construtivas", disse o premiê no encerramento do congresso anual do Partido Conservador, em Manchester.
"Sim, o Reino Unido está fazendo concessões e realmente espero que nossos amigos europeus entendam e façam alguma concessão", completou.
"Vamos fazer o Brexit e unir este país", afirmou Johnson, apegado a sua promessa de não pedir mais adiamentos. O Reino Unido "abandonará a UE em 31 de outubro aconteça o que acontecer", garantiu, ao mesmo tempo em que disse que a alternativa a sua proposta é uma saída do bloco sem acordo.
Seu principal objetivo é substituir a controversa "salvaguarda irlandesa" por outro sistema que permita evitar uma fronteira dura entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda – país-membro da UE – para preservar o acordo de paz de 1998 que acabou com três décadas de conflito violento na região.
A proposta, que deve chegar a Bruxelas durante a tarde, exclui controles na linha de fronteira, afirmou Johnson. Na terça-feira, ele disse que poderiam acontecer, por exemplo, nas instalações da empresa importadora ou exportadora.
Mais de três anos depois do referendo de 2016, o complicado processo do Brexit levou o Reino Unido a uma profunda crise política.
Negociado com dificuldades pela ex-primeira-ministra Theresa May, o acordo foi rejeitado três vezes pelo Parlamento britânico. Na Casa, os eurocéticos consideraram que apresentava concessões "inaceitáveis" à UE, enquanto os pró-europeus afirmaram que as condições eram piores do que aquelas que o país tem atualmente como integrante do bloco.
Inicialmente previsto para março passado, o Brexit já foi adiado duas vezes, uma decisão que exige a aprovação unânime dos outros 27 membros da UE.
O jornal "The Daily Telegraph" informou que a proposta de Johnson consistiria em deixar a Irlanda do Norte no mercado único europeu até 2025, mas mantendo a região em uma união alfandegária com o Reino Unido.
Assim, existiriam duas fronteiras: controles alfandegárias entre as duas Irlandas e controles regulamentares entre as ilhas da Irlanda e da Grã-Bretanha.
"Isto não será aceitável para o governo irlandês, mas tampouco para a UE em seu conjunto", afirmou a ministra irlandesa de Assuntos Europeus, Helen McEntee.
A perspectiva de reinstaurar uma fronteira na ilha da Irlanda no caso de um Brexit sem acordo preocupa particularmente o governo de Dublin. A medida é considerada uma ameaça à frágil paz estabelecida há duas décadas entre os republicanos católicos – partidários da reunificação da ilha – e os unionistas protestantes, leais à coroa britânica.
"É uma parte muito triste da nossa história", afirmou o senador irlandês Neale Richmond. "Se voltarmos à era dos controles alfandegários, das divisões (...) poderiam infelizmente acontecer muitas coisas preocupantes", alertou.
Em setembro, o Parlamento britânico aprovou uma lei que obriga Johnson a solicitar outro adiamento na ausência de um acordo até 19 de outubro, pouco depois de uma reunião de cúpula europeia.
O primeiro-ministro não explicou de que maneira pretende superar esta barreira.
Johnson, que perdeu a maioria parlamentar, deseja convocar eleições antecipadas. Em pré-campanha e prometendo investimentos em serviços públicos, seu governo apela a eleitores cansados após três anos de crise.
Até o momento, no entanto, a estratégia esbarrou na firme resistência de um Parlamento, no qual a maioria dos deputados se expressa categoricamente contra um Brexit sem acordo.