Moradores de assentamento judeu em Hebron, em 2010: área tem maior escassez de água em toda a Cisjordânia (Marco Longari/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2012 às 21h53.
Susia (Cisjordânia) - A falta de água nas colinas do sul de Hebron, na Cisjordânia, e a demolição de cisternas pelo Exército israelense, transformam a vida de residentes palestinos em um tormento diário, pois vivem com cinco vezes menos água do que o recomendado pela OMS e 20 vezes menos do que os colonos judeus vizinhos.
''Israel demoliu em 2011 três cisternas por mês, este ano estão destruindo uma média de cinco por mês'', explicou à Agência Efe Ziyaad Lunat, porta-voz da organização Ewash, que reúne 30 ONGs e organismos internacionais que trabalham com água, saneamento e higiene nos territórios palestinos ocupados.
Cada demolição de uma cisterna é ''uma catástrofe humana'' na região das colinas do sul de Hebron, área com maior escassez de água em toda a Cisjordânia, afirma Lunat, informando ainda que muitas vezes estes poços são ''a única provisão'' para todo o povo.
A cidade de Susia é uma das mais afetadas, pelo que as ONGs qualificam de ''escassez induzida'': seus 320 habitantes vivem com menos de 20 litros por pessoa por dia - bem menos do que os cem recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) -, uma quantidade equivalente à oferecida aos campos de refugiados em situações de emergência.
Entre 1999 e 2001 o Exército destruiu a maior parte das cisternas da população palestina e inutilizou algumas as enchendo de cimento e brita, segundo um relatório da Anistia Internacional, que afirma que mais da metade dos habitantes de Susia foram embora nos últimos anos fugindo das duras condições de vida.
''Temos vários poços de água em Susia mas não podemos chegar a muitos deles porque o Exército nos impede. E outros foram destruídos pelos soldados e colonos'', lamenta Nasser Nawaya, denunciando que há pouco tempo os militares também destruíram quatro poços em Amnier.
Nawaya explica que Susia tem 11 poços pequenos em uso, mas a água é insuficiente, e outras 30 cisternas às quais são impedidos de alcançar. ''Se pudéssemos chegar a elas teríamos água para toda a aldeia'', afirma.
Em fevereiro, o Exército israelense destruiu em Susia duas cisternas, uma delas datava da época romana; em março demoliu três particulares e, dois meses depois, várias cisternas que estavam sendo reparadas por voluntários internacionais. Em julho os soldados confiscaram dez tanques de água doados por uma ONG. Uma cisterna, vários banheiros móveis, a escola da cidade e a estrada que leva até ela têm ordens de demolição pendentes.
Embora especialmente grave, o caso de Susia não é único: segundo denuncia Ewash, a prática de demolir infraestruturas sanitárias vitais só aumenta. Em 2009, o Exército israelense demoliu três cisternas na Área C da Cisjordânia (sob controle militar e administrativo israelense), em 2010 o número se elevou para 21, no ano seguinte para 34, e em 2012, até o momento foram cerca de 40.
Além das cisternas, Israel também destrói outras infraestruturas sanitárias e higiênicas vitais, geralmente sob o argumento de que não têm permissões administrativas que o próprio Exército entrega (entre 2000 e 2007 foram negadas 94% das solicitações de construção na Área C).
Ewash afirma que, entre 2009 e 2011, os soldados inutilizaram 40 poços, vários sistemas de irrigação e pelo menos 20 banheiros e lavabos, sem contar a destruição causada pelos colonos judeus.
A única saída que resta às comunidades locais é ir embora, que é na verdade o objetivo final de Israel, ou enfrentar o custo de comprar água transportada em tanques.
O Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (OCHA), indica que as empobrecidas comunidades do sul da Cisjordânia pagam cinco vezes mais caro pela água do que aquelas que estão conectadas à rede.
Este ano, os moradores de Susia estão pagando cerca de seis euros o metro cúbico de água, um preço que em outras comunidades da região chegou aos exorbitantes 12 euros, segundo dados da ONG espanhola Ação Contra a Fome.
O problema não é apenas o altíssimo custo. Segundo informou um funcionário de uma ONG internacional em Hebron, ''as comunidades têm que esperar até 20 dias pela chegada do caminhão de água, porque a demanda é mais alta que a oferta''.
''Enquanto os palestinos nesta região consomem menos de 25 litros de água por pessoa e por dia, os colonos judeus consomem 400'', denuncia a fonte, afirmando que algumas colônias têm piscinas, gramado verde em zonas áridas e indústrias com uso extensivo de recursos hídricos.
Lunat alerta que a asfixia gradual destas comunidades não só representa o aumento dos riscos de doenças, mas também se reflete em ''um aumento significativo dos níveis de deslocamento forçados'', e lembra que a demolição de infraestruturas vitais é um crime de guerra.
A Efe solicitou ao Exército sua versão, que não respondeu às perguntas.