Mundo

Israel estabelece prazo até o Ramadã para Hamas para libertar reféns

O mês sagrado muçulmano do Ramadã começa em 10 de março; esta é a primeira vez que o governo israelense estabelece um prazo para o ataque a Rafah

Rafah 1,4 milhão dos 1,7 milhão de palestinos deslocados pela guerra (Etienne De Malglaive/Getty Images)

Rafah 1,4 milhão dos 1,7 milhão de palestinos deslocados pela guerra (Etienne De Malglaive/Getty Images)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 19 de fevereiro de 2024 às 08h06.

Israel ameaçou invadir Rafah no período do Ramadã, em março, caso o Hamas não liberte os reféns que mantém em seu poder antes da data religiosa, apesar da pressão internacional para proteger os mais de 1,4 milhão de palestinos refugiados nesta cidade do sul da Faixa de Gaza.

"O mundo deve saber, e os líderes do Hamas devem saber: se até o Ramadã os nossos reféns não estiverem em casa, os combates continuarão em todas as partes, incluindo a área de Rafah", declarou o ministro sem pasta Benny Gantz, durante uma conferência de líderes judeus americanos em Jerusalém.

O mês sagrado muçulmano do Ramadã começa em 10 de março. "O Hamas tem a escolha. Eles podem render-se, libertar os reféns e os civis de Gaza poderão celebrar o Ramadã", acrescentou Gantz, um dos três membros do gabinete de guerra de Israel.

Prazos de ataques

Esta é a primeira vez que o governo israelense estabelece um prazo para o ataque a Rafah, a cidade onde estão refugiados 1,4 milhão dos 1,7 milhão de palestinos deslocados pela guerra.

Governos estrangeiros, que temem um massacre, pediram a Israel para evitar o ataque contra Rafah, a última cidade da Faixa de Gaza que não foi invadida por tropas terrestres na guerra de quatro meses. Apesar da pressão internacional, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insiste que a guerra não pode terminar sem a entrada em Rafah.

Na mesma conferência de Jerusalém, Netanyahu reafirmou no domingo a promessa de "concluir o trabalho até alcançar a vitória total" contra o movimento islamista, com ou sem acordo sobre os reféns.

Gantz acrescentou que a ofensiva acontecerá de maneira coordenada com Estados Unidos e Egito para possibilitar a retirada e "minimizar as baixas civis dentro do possível". Mas não está claro para onde os civis seriam enviados na sitiada Faixa de Gaza.

Cessar-fogo imediato

De modo paralelo, mediadores internacionais tentam há várias semanas negociar uma trégua no Cairo, mas o Catar - um país chave no processo - admitiu no fim de semana que as perspectivas para um acordo perderam força.

O governo dos Estados Unidos, principal aliado de Israel, pressiona por uma trégua de seis semanas em troca da libertação de 130 reféns  que Israel acredita que continuam em Gaza, incluindo 30 que estariam mortos.

Quase 250 pessoas foram sequestradas em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas executaram um ataque sem precedentes contra Israel que deixou 1.160 mortos, segundo um balanço da AFP baseado em números do governo israelense.

A resposta militar de Israel deixou pelo menos 28.858 mortos, a maioria mulheres, adolescentes e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, território governado pelo Hamas.

O Conselho de Segurança da ONU pretende discutir esta semana uma nova resolução para exigir um cessar-fogo em Gaza, mas Washington já antecipou que pode vetar o texto por considerar mais conveniente um acordo negociado de trégua com uma troca de reféns.

Israel concentra os ataques no sul de Gaza, em particular em Khan Yunis, e Netanyahu rejeita os apelos para não atacar Rafah ao destacar que significaria "perder a guerra".

Lula denuncia "genocídio"

Os bombardeios contra as cidades do sul de Gaza deixaram 127 mortos no domingo, informou o Ministério da Saúde de Gaza, sob controle do Hamas.

Em um necrotério em Rafah, um grupo se despedia de um ente querido. "É meu primo, foi morto em Mawasi, na 'zona de segurança'", declarou Ahmad Muhammad Aburizq. "Minha mãe foi martirizada um dia antes".

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, acusou Israel no domingo, depois de participar em Adis Abeba (Etiópia) da cúpula da União Africana.

"O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio", declarou Lula à imprensa, comparando as ações israelenses com a campanha de Adolf Hitler para exterminar os judeus.

A declaração provocou uma forte reação em Israel.

Netanyahu, em contrapartida, classificou os comentários de Lula de "vergonhosos e graves" afirmando que constituem uma "banalização do Holocausto". Além disso, anunciou que seu governo convocou o embaixador do Brasil em Israel.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou nos últimos dias com Netanyahu e os governantes do Egito e do Catar para tentar obter um acordo de trégua.

Os últimos dias de negociações, no entanto, não foram "muito promissores", admitiu no sábado o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, durante a Conferência de Segurança de Munique.

E enquanto a ajuda humanitária chega a conta-gotas à Faixa de Gaza, manifestantes israelenses impediram a passagem de caminhões de ajuda que seguiam do Egito para Rafah, segundo o Crescente Vermelho Palestiniano.

Acompanhe tudo sobre:IsraelHamasFaixa de Gaza

Mais de Mundo

Novo líder da Síria promete que país não exercerá 'interferência negativa' no Líbano

Argentinos de classe alta voltam a viajar com 'dólar barato' de Milei

Trump ameaça retomar o controle do Canal do Panamá

Biden assina projeto de extensão orçamentária para evitar paralisação do governo