Israel enterra seus soldados mortos em ataque com caminhão
Um palestino trouxe de volta às manchetes a onda de ataques iniciada no outono de 2015 ao atropelar no domingo com um caminhão um grupo de soldado
AFP
Publicado em 9 de janeiro de 2017 às 21h29.
Israel enterrou nesta segunda-feira os quatro soldados mortos em um dos ataques mais mortíferos dos últimos meses, que confirma a persistência das tensões entre israelenses e palestinos, apesar da trégua recente.
O palestino Fadi al-Qunbar trouxe de volta às manchetes a onda de ataques iniciada no outono de 2015 ao atropelar no domingo com um caminhão um grupo de soldados em excursão num passeio público com uma das vistas mais impressionantes de Jerusalém.
Três homens e uma mulher morreram: Shira Tzur e Yael Yekoutiel, de 20 anos, Shir Hadjaj, de 22 anos, e Erez Auerbach, de 20 anos. Outros 17 soldados ficaram feridos. Fadi al-Qunbar foi morto a tiros no local.
O caixão da tenente Shir Hadjaj, coberto com a bandeira de Israel, foi baixado em meio ao choro de familiares e diante de centenas de soldados de sua unidade e amigos reunidos no cemitério do monte Herzl, em Jerusalém.
"Pensávamos que ela sairia nas manchetes dos jornais por um prêmio ou uma invenção, e hoje os jornais trazem uma vela por ela", lamentou uma irmã de Shir Hadjaj, em referência à tradição de acender uma vela para os mortos.
"Minha querida, minha vida, fale comigo por favor": foi a última mensagem enviada para o telefone de Shir Hadjaj por sua mãe desesperada, que nesta segunda-feira foi impedida de falar pela dor.
Os soldados foram os primeiros israelenses mortos desde 9 de outubro, de acordo com uma lista oficial israelense.
As autoridades israelenses responderam ao ataque com uma nova série de medidas repressivas.
A polícia disse que prendeu nove pessoas, incluindo cinco membros da família de Fadi al-Qunbar logo após o ataque.
A família se preparava para sair de casa, em razão da demolição punitiva por parte de Israel, informou um primo à AFP. Enquanto isso, as forças de segurança israelenses destruíram nesta segunda-feira a tenda erguida tradicionalmente para o luto em frente a sua casa, constataram jornalistas da AFP.
Perto do local do ataque, a saída de seu bairro de Jerusalém Oriental foi fechada por blocos de concreto.
As autoridades israelenses decidiram não entregar o corpo de Fadi al-Qunbar para a sua família, numa outra punição comum.
Também vão rejeitar qualquer pedido de reagrupamento familiar que possa ser apresentado por membros da sua família vivendo nos territórios palestinos da Cisjordânia ou da Faixa de Gaza para se estabelecer em Jerusalém, informou a imprensa.
O novo secretário-geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, condenou o ataque em Jerusalém, mas advertiu que isto não deve impedir os esforços para a retomada das negociações de paz.
"A violência e o terrorismo não contribuem para uma solução do conflito entre israelenses e palestinos (...). Estes atos não podem impedir os novos compromissos a favor do diálogo", disse o secretário-geral.
"Ilusão de ótica"
Israel decidiu prender sem julgamento ou processo qualquer pessoa que se identifique com o grupo Estado Islâmico (EI), informou uma autoridade sob condição de anonimato.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou no domingo que Fadi al-Qunbar era um simpatizante da organização extremista. O primo do palestino, Mohammad al-Qunbar, negou à AFP a afirmação.
Netanyahu não especificou em quais elementos se baseava. Ele tem trabalhado nos últimos meses para incluir os centenas de ataques palestinos na mesma perspectiva que os ataques jihadistas, como os cometidos na França ou na Alemanha.
Desde 1º de outubro de 2015, os episódios de violência nos territórios palestinos e em Israel mataram 247 palestinos, 40 israelenses, dois americanos, um jordaniano, um sudanês e um eritreu, de acordo com uma contagem da AFP.
A maioria dos palestinos mortos eram suspeitos ou autores de ataques anti-israelenses, frequentemente praticados por jovens de forma isolada.
Estes ataques são atribuídos por muitos especialistas aos dissabores da ocupação israelense, que já dura quase meio século, na ausência de qualquer perspectiva de independência, frustrações econômicas e divergências.