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Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2012 às 13h29.
Cairo - A Irmandade Muçulmana voltou a ocupar nesta quinta-feira a emblemática praça Tahrir para protestar contra as últimas medidas tomadas pela Junta Militar egípcia, num momento em que o país atravessa um clima de instabilidade política marcado pelo atraso dos resultados eleitorais.
Na praça, onde se acendeu a chama da revolução de 25 de Janeiro de 2011, milhares de manifestantes se concentraram entre as tendas e barracas que centenas de pessoas estão há três dias acampando no local.
Um dos presentes, Mohammed Yousef, de 44 anos, disse à Agência Efe que estava dormindo em Tahrir desde quarta-feira em uma tenda ao lado de outros vinte ativistas e afirmou que o protesto continuará até que todas suas reivindicações sejam atendidas.
"Exigimos a entrega do poder a uma autoridade legítima e escolhida pelo povo, a renúncia dos militares e a anulação da declaração constitucional complementar", explicou Yousef.
Os islamitas e diferentes grupos revolucionários se opuseram à recente decisão da Junta Militar de aumentar seu poder por meio de uma série de emendas à Declaração Constitucional provisória, vigente desde março de 2011.
Além disso, os manifestantes rejeitam a dissolução do Parlamento egípcio, ordenada pelo Tribunal Constitucional e formalizada depois pela cúpula militar que dirige o país desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011.
Entre comerciantes que vendiam desde água até bandeiras egípcias e fotos do candidato presidencial da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, os islamitas também se posicionaram sobre as controvertidas eleições.
O nome de Mursi foi entoado na praça e os manifestantes criticaram o fato da Comissão Eleitoral ter atrasado o anúncio dos resultados oficiais, que estavam previstos para hoje, sem comunicar uma nova data.
"Com o atraso dos resultados das eleições, que Mursi ganhou, a Junta Militar quer nos levar à violência", disse à Efe um membro da Irmandade, Osama Jaafar, que insistiu no apoio de seu grupo à luta pacífica.
A organização Human Rights Watch (HRW) denunciou hoje em comunicado que a extensão das prerrogativas das autoridades militares torna seus poderes ainda maiores do que sob o regime de Mubarak e permite que continuem as violações de direitos humanos.
Nesse ambiente de tensão, vários grupos políticos, entre eles a Irmandade Muçulmana, convocaram para sexta-feira uma grande concentração para continuar protestando contra a Junta Militar.
Dirigentes da Irmandade insistiram que não se trata de uma luta entre seu grupo e a cúpula militar, e defenderam a realização de um referendo para que os egípcios decidam sobre as novas prerrogativas das Forças Armadas.
Em entrevista ao canal "Al Jazeera", do Catar, Saad Katatni, presidente do Parlamento dissolvido, dominado pelos islamitas, afirmou que seria preciso anular as recentes emendas para que "o país não entre num período de confusão" e que serão feitas todas as tentativas para que a Assembléia Legislativa volte a funcionar.
A incerteza política se alastra nestes dias pelo Egito, que também segue na expectativa sobre o estado de saúde de Mubarak.
Por enquanto, não surgiram novas informações sobre a saúde do ex-mandatário, que teve que ser transferido há dois dias da prisão de Tora para um hospital militar na capital após sofrer uma trombose.
Fontes médicas revelaram ontem a Efe que Mubarak, de 84 anos e condenado a prisão perpétua pela morte de manifestantes durante a revolução, entrou em coma na terça-feira, enquanto a televisão egípcia disse que ele estava inconsciente e respirando com a ajuda de aparelhos.