Invasão da Ucrânia pode ter acelerado a transição energética do planeta
"As respostas dos governos de todo o mundo a esta crise de energia indicam um ponto de virada histórico", afirmou o diretor da AIE
AFP
Publicado em 27 de outubro de 2022 às 12h42.
Última atualização em 27 de outubro de 2022 às 12h58.
A Agência Internacional de Energia (AIE) afirmou nesta quinta-feira, 27, que, em consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, as emissões mundiais de gases do efeito estufa vinculadas à energia devem alcançar o pico em 2025, após o aumento dos investimentos em energias renováveis provocado pela "profunda reorientação" dos mercados energéticos.
A oito dias do início da Conferência Mundial sobre o Clima COP27 no Egito, a agência, no entanto, adverte para "divisões" entre países ricos e pobres em termos de investimentos nas energias com baixa emissão de carbono e pede "maior esforço internacional para reduzir a preocupante diferença".
"As respostas dos governos de todo o mundo a esta crise de energia indicam um ponto de virada histórico", afirmou o diretor da AIE, Fatih Birol, em uma entrevista coletiva na qual examinou o relatório anual da agência de 2022.
"Esta crise acelerou efetivamente a transição para a energia verde", acrescentou.
"Os mercados de energia e as políticas públicas mudaram desde a invasão russa da Ucrânia, não apenas para o presente, e sim para as próximas décadas", afirmou Birol no relatório.
Embora existam países que buscam aumentar ou diversificar o abastecimento de petróleo e gás — combustíveis fósseis que emitem muito CO2—, muitos estudam acelerar mudanças estruturais na direção de energias limpas, aponta a agência, vinculada à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
O mundo se aproxima do "fim da idade do ouro do gás" que já dura uma década, afirmou Birol. "A demanda [ de gás ], especificamente nas economias desenvolvidas, está diminuindo".
"Ruptura" com a Rússia
A "ruptura" da Europa com o gás russo aconteceu numa velocidade que "poucas pessoas consideravam possível" mesmo no ano passado, afirma a agência.
E a Rússia "não consegue" redirecionar para outros países os estoques de gás que antes eram enviados aos países do oeste da Europa.
Em nenhum dos três cenários examinados pela AIE os níveis de exportação de gás e petróleo russo retornam aos níveis de 2021. Em uma das hipóteses, o peso no mercado mundial cai pela metade até 2030.
Pela primeira vez, os três cenários da AIE identificam um pico ou platô no consumo de cada um dos combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo) que provocam o aquecimento global.
No cenário central, que se baseia nos compromissos já anunciados pelos governos em termos de investimentos climáticos, as emissões mundiais de CO2vinculadas à energia atingiriam 37 bilhões de toneladas em 2025 e depois cairiam a 32 bilhões em 2050.
+2,5 ºC
Apesar dos esforços, as temperaturas médias aumentariam quase 2,5 ºC até 2100, o que está "longe de ser suficiente para evitar consequências climáticas severas".
A agência destaca mais uma vez a necessidade de grandes investimentos em energias limpas ou com baixa emissão de carbono, como a nuclear, e a aceleração em alguns setores, como o das baterias elétricas (para automóveis) ou a energia fotovoltaica.
No cenário central, os investimentos devem superar US$ 2 trilhões até 2030. Além disso, teriam que alcançar US$ 4 trilhões para cumprir as condições de zero emissões líquidas até 2050.
"É necessário um esforço internacional maior para reduzir a preocupante brecha que se abre entre as economias avançadas e as de países emergentes ou em desenvolvimento em termos de investimentos em energias limpas", afirma a AIE.
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