Entre as personalidades que censuram o plano está o ex-vice-presidente e estrela da televisão Jusuf Kalla, que acredita que é "um erro" que beneficiará uma minoria (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2012 às 17h44.
Jacarta - A Indonésia, o arquipélago mais extenso do mundo, planeja pôr fim este ano aos três fusos horários que regem o país e adotar o conveniente para a atividade comercial, o que representa em áreas remotas iniciar o dia por volta das três da madrugada.
A iniciativa do Governo central para que nas 17 mil ilhas seja a mesma hora preocupa sobretudo os moradores da província mineradora de Papua, que deverá começar o dia antes do amanhecer, quando as discotecas de Jacarta, a capital, ainda continuam abertas.
Neste país com cerca de 240 milhões de habitantes há cerca de 5.200 quilômetros de distância do extremo oeste ao leste - similar à que separa Lisboa de Nova York - e tem três fusos horários, embora o que predomine seja o de Jacarta, a capital, que fica um atrás da Malásia e Cingapura.
A região oeste da Indonésia, que inclui as ilhas de Sumatra e Java, está sete horas na frente de Greenwich (GMT); a parte central, onde fica a ilha de Bali, fica a oito horas, e a zona mais oriental que inclui Papua, a nove.
O Governo pretende que haja uma hora uniforme para todo o país que será de oito horas na frente de GMT, a partir do próximo dia 28 de outubro, com a intenção de a medida contribuir para aumentar a eficiência econômica.
O ministro do Comércio Gita Wirjawan, anunciou na semana passada esta iniciativa, similar à adotada na China após a revolução de 1949 e que consistiu em acabar com os cinco fusos horários para estabelecer um para todo o país.
Wirjawan disse à imprensa que acredita que a decisão ajude a economizar de 1% a 3% de energia, estimule o mercado de divisas e aumente a produtividade de todos aqueles negócios que operam ao mesmo tempo em dois ou três fusos horários diferentes.
A aplicação desta iniciativa fará com que o horário de funcionamento da Bolsa de Valores de Jacarta, cada vez mais ligada a dos países da região, coincida com o dos pregões de Cingapura e Malásia.
Além disso, os responsáveis de Turismo consideram que a hora uniforme acabará com a confusão generalizada que o viajante nacional ou estrangeiro sofre quando se desloca de uma para outra região e causa que diariamente muitas pessoas percam voos.
Os opositores da iniciativa destacam que um fuso horário único para todo o país fará com que as crianças da metade ocidental terão que ir para o colégio antes do amanhecer.
"Se for analisada de um ponto de vista de negócios, a mudança de hora é uma medida muito positiva porque nos situa na mesma faixa horária que a de nossos parceiros comerciais mais importantes: Hong Kong, Cingapura e Pequim...", diz à Agência Efe Nia Wirya, funcionária do Banco Mundial em Jacarta.
Mas Wirya considera que esta medida obrigará a sociedade indonésia a mudar alguns de seus costumes, por isso que se mostrará reticente a aceitá-la.
"O Governo improvisa e só está pensando na economia, não em como afeta a população, acho que haverá muita polêmica até que a medida seja implementada", aponta.
Outro dos aspectos que preocupam é a confusão que causará para os fiéis do Islã, 85% dos habitantes do país, a alteração do horário de suas cinco rezas diárias, já que a primeira se realiza quando o primeiro raio de sol entra na mesquita.
Entre as personalidades que censuram o plano está o ex-vice-presidente e estrela da televisão Jusuf Kalla, que acredita que é "um erro" que beneficiará uma minoria e complicará a vida para o resto da população.
"Milhões de estudantes terão que sair de casa enquanto é ainda noite, sua segurança estará em risco", protestou Kalla em declarações à imprensa local, ao mesmo tempo em que lembrou que países desenvolvidos como "Estados Unidos e Austrália têm vários fusos horários sem que isso afete o sucesso de seus negócios".