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Hungria condena grupo pela morte de imigrantes em caminhão frigorífico

Os quatro principais acusados, do total de 14 membros que fazem parte de uma rede de tráfico de pessoas, foram condenados a 25 anos de prisão

Os outros dez acusados receberam penas que vão de três a 12 anos de prisão (Tamas Kaszas/Reuters)

Os outros dez acusados receberam penas que vão de três a 12 anos de prisão (Tamas Kaszas/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de junho de 2018 às 10h19.

Quase três anos após a morte por asfixia de 71 imigrantes em um caminhão frigorífico encontrado na Áustria, a Justiça húngara condenou, nesta quinta-feira (14), a 25 anos de prisão em regime fechado os traficantes processados por este drama, que chocou a opinião pública mundial.

Os quatro principais acusados, do total de 14 membros dessa rede de tráfico de pessoas julgados ao longo de um ano, escaparam da sentença de prisão perpétua solicitada pelo Ministério Público, que havia pedido ainda a impossibilidade de redução de pena para três deles.

O líder da rede, o afegão Samsoor Lahoo, de 31 anos, seus dois assistentes e o motorista do comboio - todos os três búlgaros - foram condenados a 25 anos de reclusão.

Os outros dez acusados - a maioria de nacionalidade búlgara, dos quais três estão foragidos - receberam penas que vão de três a 12 anos de prisão.

As vítimas - 59 homens, 8 mulheres e 4 crianças, incluindo um bebê, originários de Síria, Iraque e Afeganistão - subiram no caminhão perto da fronteira sérvia na Hungria, em 26 de agosto de 2015, com a esperança de chegar à Alemanha, no auge da crise migratória.

Confinados no compartimento hermeticamente fechado do veículo, morreram de asfixia em menos de três horas depois de os traficantes se negarem a parar para deixá-los respirar ar fresco, apesar dos gritos de socorro.

O veículo foi encontrado no dia seguinte, abandonado à beira de uma estrada austríaca.

A onda de choque provocada por essa tragédia favoreceu a abertura momentânea das fronteiras para milhares de imigrantes ansiosos para chegar ao leste da Europa.

Acusados de "homicídio com agravantes de particular crueldade" durante este longo julgamento que começou em junho de 2017 em Kecskemet, no sul da Hungria, os principais acusados disseram não saber que os passageiros do caminhão estavam agonizando, apesar das provas irrefutáveis.

 'Que os deixe morrer'

O chefe da rede repetiu durante sua declaração que "não queria a morte de ninguém".

Os grampos telefônicos feitos pela Policia húngara não deixavam, porém, lugar para dúvidas, segundo a acusação: alertado por seus homens de que os imigrantes estavam sendo asfixiados e gritavam para que lhes dessem ar, proibiu que se entreabrisse o compartimento frigorífico.

"Melhor que os deixe morrer. É uma ordem", determinou Samsoor Lahoo a seu auxiliar. "Se morrerem, que os descarregue em um bosque na Alemanha", acrescentou.

Confrontado com essas gravações, o acusado, que adotou um atitude desafiadora durante boa parte do julgamento, disse que eram "palavras sem pensar".

Na opinião do procurador Gabor Schmidt, Lahoo agiu guiado por "uma indiferença espantosa e por uma cobiça sem limites": em plena onda migratória, os transportes de imigrantes da rede, que cobrava até 3.500 euros por pessoa, sucediam-se a um ritmo incessante e não podiam sofrer nenhum contratempo.

As 71 vítimas foram confinadas em 14 metros quadrados, com menos de 30 metros cúbicos de ar para respirar.

O drama não impediu a rede de organizar, no dia seguinte, um novo transporte em condições similares. E não aconteceu uma nova tragédia apenas porque os 67 passageiros conseguiram forçar a porta do compartimento.

Todas, menos uma das vítimas, puderam ser identificadas. A maioria dos corpos foi entregue a seus familiares, que não assistiram ao julgamento. Os demais foram enterrados em Viena.

"As últimas palavras que Hussein me disse antes de partir foram uma promessa: 'Nos próximos anos, farei meu Doutorado e colocarei o diploma nas mãos da minha mãe'. A notícia de sua morte foi incrivelmente dolorosa. Foi uma terrível catástrofe", testemunhou Gihad Darwish, repórter de imagens para a AFP na Síria, que perdeu, nessa tragédia, dois cunhados e amigos.

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