Esta é a primeira reunião entre um presidente americano e um russo desde 1997 (Leonhard Foeger/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de julho de 2018 às 10h47.
A cúpula entre Vladimir Putin e Donald Trump é a quarta deste tipo realizada na capital finlandesa em mais de quatro décadas, depois das de Ford-Brezhnev (1975), Bush-Gorbachev (1990) e Clinton-Yeltsin (1997).
Mas para Trump e Putin, a situação é muito diferente: a URSS é coisa do passado, o presidente americano está perdendo a simpatia dos aliados europeus de Yalta, a Rússia está envolvida em operações com ocidentais e a Finlândia nunca se mostrou tão próxima dos Estados Unidos e da Otan.
O encontro entre os chefes de Estado russo e americano, um dia depois da final do Mundial da Rússia-2018, visa a reanimar relações mais deterioradas do que nunca.
São três horas de trem da antiga capital dos czares - e uma hora de avião dos países bálticos, membros da Otan - para Helsinque, que foi um verdadeiro ninho de espiões a partir dos anos 1950.
A cidade foi, em várias ocasiões, um terreno neutro no qual os dirigentes americanos e soviéticos - antes dos russos - restabeleceram suas relações.
"A Finlândia oferecia uma boa função durante a Guerra Fria, sua neutralidade consistia em traçar pontes [entre o Leste e o Oeste] e marcar sua neutralidade nas relações entre as grandes potências", recorda, em declarações à AFP, Teija Tiilikainen, diretora do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais.
Em Helsinque foram assinados, em 1o. de agosto de 1975, os acordos de igual nome que, para muitos, contribuíram para a política de distensão, e foram assinados por Gerald Ford e Leonid Brezhnev.
O texto impunha que as grandes potências respeitassem as fronteiras de 1945, tal como Rossevelt, Stalin e Churchill traçaram em Yalta. Também aludia, pela primeira vez, aos direitos humanos, uma crítica a Moscou, cujas prisões estavam repletas de dissidentes.
Em 1990, um ano antes da queda do bloco soviético, a Finlândia organizou a última cúpula URSS-EUA, com os presidentes Mikhail Gorbachev e George Bush.
"A Finlândia sempre mostrou sua rejeição à lógica de blocos que desempenhou um papel importante na distensão", afirma uma fonte diplomática à AFP.
O último grande encontro entre um presidente russo e um americano em Helsinque foi em 1997, com Boris Yeltsin e Bill Clinton.
A reunião terminou com vários avanços como o controle de armamento e a abertura da Otan aos antigos satélites da União Soviética.
Depois, a situação na Finlândia mudou radicalmente.
A Finlândia havia pertencido à Suécia durante seis séculos, até 1809, foi um grande ducado russo - até 1917 -, e também teve de enfrentar o Exército Vermelho durante o inverno de 1939-1940 e entre junho de 1941 e setembro de 1944.
Por isso, uma vez que ficou definitivamente libertada do jugo soviético, tentou evitar despertar o urso russo. Dessa forma, os dirigentes finlandeses se recusaram a realizar qualquer tipo de crítica pública durante a Guerra Fria, uma posição controvertida e definida como "finlandização".
Mas depois da queda da URSS, o país se apressou em virar na direção do Ocidente e, em 1995, aderiu à União Europeia. Não chegou ao ponto de se unir à Otan, mas passou a fazer parte de sua Associação para a Paz em 1994.
A Finlândia não pode cortar os laços com seu poderoso vizinho russo - com quem compartilha 1.340 km de fronteira -, seu quinto sócio comercial.
"Atualmente, a Finlândia mantém relações bastante boas com os russos [...] e também mantém estreitas relações com os Estados Unidos, mais próximas que no passado",indica Juhana Aunesluoma, diretor do centro de estudos europeus da Universidade de Helsinque.
Neste sentido, o papel do presidente Sauli Niinistö é fundamental. Foi um dos primeiros a felicitar Donald Trump por sua eleição como presidente em 2016 e incluiu Vladimir Putin nas celebrações do centenário da independência.