Rússia promete reduzir ataques após negociação; veja as últimas notícias
Nova rodada entre negociadores começou hoje na Turquia. Veja últimas atualizações da guerra na Ucrânia nesta terça-feira, 29
Da Redação
Publicado em 29 de março de 2022 às 07h16.
Última atualização em 29 de março de 2022 às 11h32.
- Nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia ocorreu em Istambul;
- A Rússia afirmou que vai "reduzir drasticamente" ataques em Kiev e Chernihiv;
- A Ucrânia propôs neutralidade na Otan em troca de garantia de segurança;
- O presidente turco Erdogan pediu "resultados concretos" e um cessar-fogo;
- O bilionário Roman Abramovich esteve presente após rumores de envenenamento.
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Rússia promete "reduzir drasticamente" ataques
Uma nova rodada de negociações de paz entre Rússia e Ucrânia terminou na manhã desta terça-feira, 29, em Istambul, na Turquia, com leves avanços de ambos os lados para negociar um acordo de paz, embora um cessar-fogo na prática ainda não tenha sido acordado.
A guerra chegou nesta terça-feira a 34 dias quase ininterruptos, após os primeiros ataques em 24 de fevereiro.
O vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, disse após o encontro que Moscou decidiu "reduzir drasticamente a atividade militar na direção de Kiev e Chernihiv", confirmando movimentações anteriores que apontavam que a Rússia poderia ter desistido de tomar a capital ucraniana após não obter avanços recentes.
O objetivo, segundo Fomin, é "aumentar a confiança mútua e criar as condições corretas para futuras negociações e atingir o objetivo final de assinar um acordo de paz com a Ucrânia". O oficial afirmou que mais detalhes serão divulgados quando a delegação russa voltar a Moscou.
Ucrânia confirma proposta de neutralidade
O negociador-chefe da Rússia, Vladimir Medisnky, também disse que as conversas foram "construtivas".
A principal mudança é que, como já vinha sendo antecipado em declarações anteriores, a Ucrânia propôs oficialmente à Rússia um acordo para não ingressar na Otan, aliança militar do Atlântico Norte formada por potências ocidentais.
O time de negociação ucraniano em Istambul propôs não se juntar à Otan e não ser sede de bases militares de quaisquer outras alianças, desde que a Ucrânia tenha em troca garantias de segurança.
As propostas são as mais detalhadas já divulgadas até agora, conforme reportou a agência Reuters.
O conselheiro do presidente ucraniano Zelensky, Mykhailo Podolak, publicou em seu perfil no Twitter mais detalhes sobre o plano de ter um grupo de países "garantidores" - como EUA, Reino Unido, Turquia, França, Alemanha, entre outros, o que pode incluir a própria Rússia.
O grupo estaria "legalmente envolvido em proteger a Ucrânia de qualquer agressão".
A ideia, que tem sido relativamente bem-recebida por Moscou, é fazer uma espécie de "artigo 5" adaptado da Otan - em que países membros são defendidos pelos demais no caso de uma invasão. A proteção ucraniana seria, porém, feita de forma multilateral e sem que o país ingresse na organização militar liderada pelos EUA.
"Se nós conseguirmos consolidar estes pontos-chave, e para nós isto é fundamental, então a Ucrânia estará em uma posição de consertar de fato seu status atual como um não-bloco e estado não-nuclear, na forma de neutralidade permanente", disse o negociador Oleksander Chaly, em pronunciamento na televisão ucraniana após as negociações.
Um dos pontos mais sensíveis, o status da Crimeia - então território ucraniano anexado pela Rússia em 2014 - também foi citado na proposta, com a Ucrânia recuando relativamente em sua demanda pela região e sugerindo agora um período de "consulta" de 15 anos. Tal alternativa só entraria em vigor no caso de um cessar-fogo, no entanto.
As medidas precisariam também passar por referendo entre a população ucraniana.
Após oficiais russos terem dito nesta semana que um encontro entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, seria "contraproducente", os negociadores russos apontaram que há base para tentar uma reunião futura. Mas apontam que esta deve ocorrer paralelamente à assinatura de um possível acordo de paz.
Erdogan pede cessar-fogo imediato
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan abriu a rodada de negociações de paz entre Rússia e Ucrânia nesta madrugada (horário de Brasília) em Istambul, dizendo que ambos os lados tem "preocupações legítimas", mas que as delegações devem chegar a "resultados concretos" e buscar um cessar-fogo imediato.
"Está na mão dos dois lados acabar com esta tragédia", disse.
Em todas as negociações até agora, foi acordado somente uma pausa momentânea dos ataques em alguns lugares para abertura de corredores humanitários e retirada de civis, mas não um cessar-fogo efetivo sobre toda a guerra.
“Acreditamos que não haverá perdedores em uma paz justa. Prolongar o conflito não é do interesse de ninguém”, disse Erdogan ao cumprimentar as autoridades presentes - que estavam sentadas de lados opostos em uma longa mesa, conforme reportou a rede de televisão Al Jazeera.
Membro da Otan, mas também próxima da Rússia, a Turquia vem agindo como intermediadora na crise e já foi palco de outra rodada de negociações neste mês, por ser vista como um território relativamente neutro.
Rússia aceitaria Ucrânia na UE, diz FT
Mais cedo, o jornal britânico Financial Times reportou que a Rússia estaria disposta também a aceitar a entrada da Ucrânia na União Europeia caso o país permanecesse militarmente não-alinhado ao Ocidente e fora da Otan.
O FT aponta que um rascunho de proposta russa, segundo quatro fontes com conhecimento do assunto, não incluía também as três demandas iniciais de Moscou - as chamadas "desnazificação", "desmilitarização" e proteção legal da "língua russa" na Ucrânia.
Ministro recomenda que delegações "não comam"
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, havia dito a colegas antes das negociações de paz que não "comam ou bebam" por risco de envenenamento.
As declarações vieram após notícias de que o bilionário russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, e dois negociadores ucranianos tiveram sinais de possível envenenamento depois de uma reunião em Kiev no começo de março.
A informação sobre a suspeita de envenenamento foi divulgada na segunda-feira, 28 ( leia aqui ), com fontes envolvidas dizendo ao jornal Wall Street Journal que o caso poderia estar relacionado a nomes "linha dura" em Moscou que queriam boicotar as negociações de paz.
Abramovich, que é próximo do presidente Vladimir Putin, também esteve presente hoje no palácio onde acontecem as negociações desta terça-feira, segundo reportou o jornal britânico The Guardian.
Rússia nega envenenamento
O Kremlin, por sua vez, negou nesta terça-feira que esteja envolvido em qualquer tentativa de envenenamento. "Isso faz parte do pânico da informação, parte da sabotagem da informação, da guerra da informação. Esses relatos simplesmente não são verdadeiros... é preciso filtrar fortemente o fluxo de informações", disse o porta-voz russo Dmitry Peskov.
As dúvidas seguem sobre o caso. Como quase um mês já transcorreu, não é possível confirmar com precisão a causa dos sintomas anteriores dos três envolvidos - pele descascando, olhos com lacrimação constante e dolorosa.
Um oficial de inteligência dos EUA também sugeriu na segunda-feira que os sintomas podem ter sido decorrência de questões "ambientais" no ar, e não envenenamento, segundo reportou a agência Reuters.
Zelensky pede armas e sanções
O presidente ucraniano Zelensky disse em discurso separado nesta terça-feira, antes do início das novas negociações, que países aliados à Ucrânia devem impor sanções "substanciais e efetivas" contra a Rússia e envio de armas. O presidente ucraniano falou ao Parlamento da Dinamarca.
“Os ucranianos não devem morrer só porque alguém não consegue encontrar coragem suficiente para entregar as armas necessárias à Ucrânia”, disse. “O medo sempre faz de você um cúmplice.”
A Ucrânia também vem defendendo uma zona de exclusão aérea sob seu território, de modo que aviões russos não poderiam mais circular sob risco de choques com a Otan. As potências ocidentais, por ora, rejeitam a proposta, que afirmam que causaria uma Terceira Guerra Mundial e um embate direto entre Otan e Rússia.
Bombardeio em Mykolaiv
No campo de batalha, um bombardeio nesta madrugada atingiu a sede do governo em Mykolaiv, cidade ao sul da Ucrânia. O ataque deixou sete mortos, segundo o presidente Zelensky, e ao menos 22 feridos.
"Não havia ambições militares em Mykolaiv, as pessoas em Mykolaiv não apresentavam nenhuma ameaça à Rússia", disse. "E mesmo assim, como todos os ucranianos, se tornaram alvos."
Enquanto isso, três novos corredores humanitários foram abertos hoje. Na segunda-feira, não houve corredores por temor de ataque russo contra os refugiados, segundo o governo ucraniano.
Ambos os lados têm acusado um ao outro de boicotar as tentativas de evacuação de civis. Um dos casos mais críticos é Mariupol, onde mais de 5 mil pessoas morreram, segundo o governo ucraniano, e onde mais de 100 mil pessoas ainda estão cercadas, com falta de água, comida e eletricidade.
Objetivo é "libertar Donbas", diz ministro russo
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse mais cedo em reunião televisionada na Rússia nesta terça-feira que a primeira fase do que chama de "operação" na Ucrânia está completa, e frisou que o principal objetivo é, segundo ele, "libertar Donbas".
O discurso confirma a mudança de prioridade da Rússia na guerra: sem avanços na capital Kiev, a tendência é que as ofensivas se concentrem em manter o leste e sudeste do país. Ao mesmo tempo, forças ucranianas têm conseguido retomar áreas da região metropolitana de Kiev dominadas pelos russos no início da guerra, como Irpin.
Segundo a agência russa Interfax, o ministro também disse que a Otan sofreria consequências se enviar à Ucrânia aviões e sistemas defensivos aéreos. Afirmou ainda que houve danos significativos à capacidade militar ucraniana neste um mês de guerra.
(com AFP e Reuters)
*Esta página será atualizada com novos desdobramentos sobre a guerra na Ucrânia nesta terça-feira, 29 de março. Última atualização às 11h32.