Síria: o constante estado de medo vivido pelos pequenos pode ser maléfico para o desenvolvimento do cérebro deles - uma a cada quatro crianças corre o risco de desenvolver distúrbios psicológicos (Baraa al-Halabi/AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2017 às 18h01.
Há 6 anos, crianças sírias convivem com uma guerra intermitente.
Viram bombas, tiros e a morte diante dos próprios olhos.
Perderam familiares, amigos, casa e escola.
Assistiram suas cidades serem destruídas e a vida como conheciam imergir em escombros.
A brutalidade do conflito não respeita classificação indicativa e, não à toa, já é possível notar os reflexos da violência na saúde das crianças sírias: uma geração traumatizada vive uma crise de saúde mental.
A pesquisa também frisa que o constante estado de medo vivido pelos pequenos pode ser maléfico para o desenvolvimento do cérebro deles – e irreversível: uma a cada quatro crianças corre o risco de desenvolver distúrbios psicológicos.
A especialista em saúde mental Marcia Brophy afirma no relatório que esse estado de estresse traumático poderia resultar em uma geração inteira de crianças com distúrbios mentais e propensas a vícios na vida adulta.
Se o estresse tóxico não for tratado corretamente, pode aumentar o risco de suicídio, depressão, doenças cardíacas e diabetes a longo prazo.
Ao longo do estudo, muitos entrevistados de até 12 anos demonstraram aumento nas autoagressões e nas tentativas de suicídio.
Metade dos adultos contam ter visto crianças perderem habilidades de comunicação, como a capacidade de falar, e 59% conhecem crianças ou adolescentes que entraram em grupos armados.
Outras crianças reportaram estar passando por problemas para dormir, com medo de nunca mais acordarem ou tendo pesadelos violentos – 71% estão fazendo xixi na cama, sintoma comum em pacientes com estresse traumático.
A pesquisa também revelou que dois terços das crianças ouvidas pela organização perderam alguém querido no conflito, sofreram ferimentos ou tiveram suas casas bombardeadas.
Metade dos entrevistados contam sentir tristeza e angústia extrema sempre ou durante a maior parte do tempo – sendo que 51% está usando algum tipo de droga para aplacar os efeitos do estresse.
Outro fator que corrobora na preocupação com a saúde mental dos jovens é a falta de escolas: diariamente, em média duas escolas são atacadas na Síria. Levando em consideração que a guerra persiste no país há anos, sobram poucas instituições de ensino.
No ano passado, a Unicef divulgou um relatório em que afirmava que apenas metade das crianças tinham acesso à educação e que 80% dos refugiados não frequentavam a escola.
A Save The Children estima que uma em cada três escolas tenham sido desocupadas no país.
Sendo assim, o acesso a acompanhamento da saúde mental das crianças é inexistente ou muito limitado.
“O risco de uma geração ferida, perdida para o trauma e o estresse extremo nunca foi tão grande”, alerta Marcia Brophy.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Superinteressante.