Protesto na Itália: quase cem cidades foram atingidas pela greve geral (Filippo Monteforte/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2011 às 14h52.
Roma - A greve de 8 horas convocada pela Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL) contra o plano de ajuste econômico do Governo de Silvio Berlusconi levou colapso a praticamente todo o país nesta terça-feira, mesmo dia em que as medidas de austeridade chegaram ao Senado para discussão e posterior votação.
O protesto se estendeu por 8h, das 9h às 17h no horário local (04h às 12h de Brasília), em quase cem cidades, entre elas as principais do país, e ao mesmo se somaram aos dois grandes partidos políticos da oposição, o Partido Democrata (PD) e Itália de Valores (IDV).
Pelos dados do sindicato que convocou a paralisação, até meio-dia a adesão era de 60% em vários setores de toda Itália, como os transportes públicos, os museus nacionais (fechados por falta de funcionários) e as linhas aéreas.
Em nome do Governo, o ministro de Administrações Públicas e Inovações, Renato Brunetta, minimizou os protestos e situou a adesão a greve entre 3% e 4%.
Os efeitos mais caóticos foram sentidos nos aeroportos italianos de Fiumicino e Ciampino, em Roma, com o cancelamento de cem dos 220 voos previstos, o que provocou longas filas de turistas nos balcões das companhias atrás de informações sobre suas viagens.
Nos aeroportos de Milão, ao todo 144 voos foram cancelados, 106 em Malpensa e 38 em Linate, informou a imprensa italiana.
A greve do transporte público paralisou praticamente Roma até o fim do protesto às 17h (12h de Brasília).
O time nacional de basquete ficou bloqueado em Riga, na Letônia, pelo cancelamento dos voos à Itália. Só uma pequena parte dos voos conseguiu partir em direção a Milão, segundo a imprensa.
No restante da Itália, as manifestações mais importantes foram registradas em Bolonha, Turim, Milão, Florença e Nápoles.
Em Milão, a entidade financeira mais importante da Itália, o Unicredit, foi alvo de ataque de ovos, durante a passagem da manifestação em frente à sede da entidade. Outra entidade, a Banca Popolare di Novara, também foi alvejada.
A greve atingiu a edição desta terça-feira do jornal "Il Corriere della Sera", que não chegou às bancas porque os tipógrafos aderiram ao protesto.
No restante da Itália, as manifestações importantes foram registradas em Bolonha, Turim, Milão, Florença e Nápoles.
Cerca de 300 manifestantes também estiveram na região onde fica a Bolsa de Valores da Itália, que está protegida por um forte aparato de segurança.
Em Florença, entre 15 mil e 20 mil pessoas, entre os quais prefeitos e administradores locais, percorreram alguns trechos do centro da cidade sem incidentes.
No entanto, em Nápoles, terceira cidade em importância da Itália, oito policiais ficaram feridos na explosão de um artefato.
A CIGL convocou o protesto por causa dos últimos planos econômicos elaborados pelo Governo, o de austeridade em 12 de agosto no valor de 45,5 bilhões de euros e outro anterior, de 15 de julho, com o qual pretende alcançar equilíbrio orçamentário em 2013.
O sindicato denuncia que nos dois planos de austeridade o presidente do Governo italiano, Silvio Berlusconi, "impôs mais taxas aos trabalhadores e aos aposentados, cortou os serviços e a saúde, sem garantir o equilíbrio das contas públicas nem favorecer o crescimento e o emprego".
"O plano foi corte, corte e mais corte, só atingindo a classe trabalhadora, sem tocar nos privilégios da classe política", disseram à Efe alguns dos participantes da manifestação em Roma.
Nesta terça-feira, o Governo italiano decidiu introduzir a alta de um ponto percentual, de 20% para 21%, do IVA entre as medidas de seu último plano de ajuste, assim como encargo de 3% aos que ganham 500 mil euros anuais de receita.
À manifestação da capital, que teve direito a hino e tudo, assistiram representantes dos sindicatos mais prejudicados pelos ajustes, como aposentados, jovens e funcionários públicos, além de representantes da Polícia, da Educação, Justiça, Guarda Florestal e do Comércio Exterior, que também protestaram contra as medidas.
Um dos pontos mais contestados foi o artigo 8 do plano de ajuste, que permite modificar o artigo 18 do Estatuto dos Trabalhadores, o que garante a tutela em caso de demissão.
"Isto significa simplesmente a liberdade para demitir", disse à Efe a secretária-geral do CGIL, Susanna Camusso.