Gaza está "inabitável" após 10 anos de poder do Hamas, diz ONU
Em um relatório, a ONU conclui que a situação em Gaza está se deteriorando "mais e mais rapidamente" do que se previa até poucos anos atrás
Reuters
Publicado em 11 de julho de 2017 às 11h01.
Última atualização em 11 de julho de 2017 às 11h08.
Jerusalém - Uma década depois de o grupo islâmico Hamas dominar Gaza , o enclave palestino está na prática inabitável para seus 2 milhões de habitantes, já que o acesso a renda, saúde, educação, eletricidade e água potável está declinando, disse a Organização das Nações Unidas (ONU).
Em um relatório que examinou as condições humanitárias no território, que o Hamas tomou em junho de 2007 após um conflito breve com forças leais à Autoridade Palestina, a ONU conclui que a situação em Gaza está se deteriorando "mais e mais rapidamente" do que se previa até poucos anos atrás.
"No quadro como um todo, estamos vendo um des-desenvolvimento em câmera lenta", disse à Reuters em uma entrevista nesta terça-feira Robert Piper, coordenador de assistência humanitária e atividades de desenvolvimento da ONU para o Território Palestino Ocupado.
"Todos os indicadores, da energia à água, ao sistema de saúde, ao emprego, à pobreza e à insegurança alimentar, todos os indicadores estão declinando. Os moradores de Gaza estão passando por um des-desenvolvimento em câmera lenta já há uma década".
Imediatamente depois de o Hamas assumir o poder, Israel procurou isolar o grupo militante restringindo o fluxo de bens e pessoas que entram e saem de Gaza, limitando o acesso ao mar e trabalhando com o Egito para impor um bloqueio.
Ao mesmo tempo, o Hamas está envolvido em uma disputa quase constante com a Autoridade Palestina, sediada na Cisjordânia, o que leva esta a restringir as transferências financeiras a Gaza e, nas últimas semanas, pedir para Israel reduzir o fornecimento de eletricidade.
Em resultado, a população de Gaza, prevista para crescer outros 10 por cento nos próximos três anos, está sendo espremida por todos os lados, e os recursos se tornam mais escassos.
"Vejo este processo extraordinariamente desumano e injusto de estrangular gradualmente dois milhões de civis em Gaza, que na verdade não representa uma ameaça a ninguém", disse Piper.
Indagado sobre quem é responsável pelo estrangulamento, respondeu:
"Todos têm parte", mencionando desavenças políticas internas entre os palestinos, políticas de segurança de Israel que afetam os moradores de Gaza e dinâmicas regionais, incluindo a pressão que vem sendo feita pela Arábia Saudita e o Egito sobre o Catar, um grande doador do Hamas.
"Esta é a mensagem deste relatório, a mensagem fundamental: alguém tem que recuar e colocar os interesses dos civis no começo da fila para uma mudança", disse Piper.