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Gangues do Haiti ameaçam transição política

Autoridades temem que grupos criminosos se tornem poderosos com a crise de segurança pública no país

Haiti: entenda crise de segurança pública no país (RICHARD PIERRIN/AFP/Getty Images)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 13 de março de 2024 às 21h02.

À primeira vista, as gangues que assolam o Haiti estão excluídas da transição política que está prestes a ocorrer neste pequeno e pobre país caribenho. No entanto, devido ao seu poder, é provável que influenciem no processo, segundo especialistas.

"Aceitarão o novo equilíbrio de poder? Ou tentarão sabotá-lo de alguma forma? No momento, não sabemos", diz Ivan Briscoe, diretor do programa sobre América Latina e Caribe do International Crisis Group.

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Esses grupos criminosos “se tornaram muito poderosos. Penetraram profundamente nas comunidades. Recrutaram muitos jovens, exploraram seu desespero" e "não querem desaparecer", acrescenta.

Sob a supervisão da Comunidade do Caribe (Caricom), partidos políticos e figuras proeminentes do Haiti tentam, nesta quarta-feira (13), chegar a um acordo sobre a composição do painel de transição, após o anúncio na segunda da renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry.

Na capital, Porto Príncipe, atuam cerca de 23 gangues, que controlam 80% do território. Elas se agrupam em duas grandes coalizões envolvidas em guerras territoriais: G9 Família e Aliados, liderada por Jimmy Chérizier, conhecido como "Barbecue", e G-Pèp.

"Barbecue", uma das figuras públicas por trás da violência dos últimos dias, é provavelmente o líder da gangue mais poderosa, composta por muitos ex-policiais como ele.

As gangues armadas se profissionalizaram e têm mais poder de fogo do que a polícia haitiana para realizar todo tipo de tráfico e sequestros por resgate.

Em um primeiro sinal do papel que pretende desempenhar, "Barbecue" declarou na segunda-feira que não reconheceria um "governo formado pela Caricom ou outras organizações".

Segurança é prioridade

"Na minha opinião, o que emergirá no atual equilíbrio político são as gangues como 'força'", argumenta Gédéon Jean, diretor do Centro de Análise e Pesquisa sobre Direitos Humanos (CARDH), uma ONG haitiana.
"Devemos ter muito cuidado, porque não devemos legitimar as ações criminosas", acrescenta, citando estupros, massacres e violações dos direitos humanos pelas gangues.

Para Pablo Calderón Martínez, professor da North East University de Londres, "é muito difícil prever uma solução rápida" no Haiti.

"A realidade (...) é que, uma vez que as organizações criminosas têm a capacidade de desafiar os governos e realmente começam a lutar contra o governo pelo controle e quase pela legitimidade, é muito difícil que recuperem o controle sem que o país caia em um aumento da violência ", explica.

O analista teme "que as gangues se fortaleçam com o que acabou de acontecer" e acredita que "a vida será ainda mais difícil para o próximo governo".

Outro especialista, Eddy Acevedo, do Wilson Center de Washington, vai além e destaca que "existe a possibilidade real de que 'Barbecue', sancionado pela ONU (...), tome o controle do Palácio Nacional".

"A prioridade absoluta neste momento deve ser a segurança", diz ele, enquanto o Haiti aguarda o envio de uma força policial multinacional liderada pelo Quênia e apoiada pelos Estados Unidos, França e Canadá.

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