Paris: França declarou "guerra" desde os ataques de novembro de 2015 em Paris (Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2016 às 12h13.
Em 18 meses, a França sofreu três ataques mortais reivindicados por grupos extremistas e que fizeram 230 mortos e centenas de feridos. Símbolo da laicidade, comprometido na luta contra os extremistas, o país é um alvo preferencial.
Esses atentados, cujo caráter espetacular ou inédito marcaram os espíritos, como o mais recente ataque com um caminhão em Nice, também foram acompanhados de várias tentativas frustradas.
A França na linha de frente contra os extremistas
No Sahel ou no Oriente Médio, a França está na linha de frente na luta contra grupos extremistas. É o segundo maior contribuinte para as operações aéreas da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos contra o grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria.
Seus caças-bombardeiros na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos bombardeiam regularmente os centros de comando, fábricas de explosivos e depósitos de armas do EI.
Na véspera do ataque de Nice, o presidente François Hollande anunciou o envio ao Oriente Médio do porta-aviões Charles de Gaulle, símbolo do poder militar francês.
A França declarou "guerra" desde os ataques de novembro de 2015 em Paris (130 mortos), planejados, segundo as autoridades, no coração da máquina político-militar do EI no Iraque e na Síria.
Como em novembro, François Hollande prometeu na sexta-feira aumentar a pressão sobre o inimigo. "Vamos continuar a atacar aqueles que nos atacam em nosso próprio solo, vamos caçá-los em suas tocas", frisou.
No Sahel, a França está na linha de frente com a operação Barkhane (3.000 homens) contra os grupos extremistas que continuam a realizar atentados de Uagadugu aos Grandes Lagos, e contra as forças de paz.
Modelo de laicidade detestado
Para o historiador de religiões Odon Vallet, a laicidade "à la francesa", que levou à proibição do véu islâmico nas escolas francesas em 2004 e nas ruas em 2010, também pode ser um poderoso veículo de motivação.
"Para eles, a laicidade à la francesa é incompatível com o Islã", diz ele.
A visão francesa da liberdade de expressão, que permite uma crítica mais ampla da religião, também colocou o país no visor dos extremistas. Os ataques contra a redação da revista satírica Charlie Hebdo em janeiro de 2015 foram realizados em resposta à publicação de caricaturas do profeta Maomé.
Cinco milhões de muçulmanos vivem na França, país que abriga as maiores comunidades muçulmana e judaica na Europa. Esta última foi especialmente visada por ataques. O risco de tensão ou conflito é mais aparente na França do que em outros países europeus.
Apesar dos esforços para a sua integração em um país predominantemente católico, os muçulmanos estão sujeitos a muitas formas de discriminação, especialmente no momento de procurar emprego, minando a sua integração.
Para o sociólogo Raphaël Liogier, "a França é o país onde há mais frustração em relação ao debate sobre o Islã."
"A terceira causa é a História", estima Odon Vallet, lembrando que o tratado de Sèvres de 1920 suprimiu o Império Otomano. "Em sua história colonial, a França é considerada um dos principais inimigos do Estado islâmico", explica.
Centenas de extremistas de língua francesa
Muitas pessoas de língua francesa - cerca de 600 franceses, mas muitos tunisianos, marroquinos, etc - se juntaram ao EI no Iraque e na Síria.
"Eles têm a capacidade de retornar muito facilmente ao nosso território", observa o chefe da Direção-Geral de Segurança Interna (RPS), Patrick Calvar.
"Os alvos são muitos e os terroristas atacam onde é mais fácil", diz.
O suposto organizador dos ataques de 13 de novembro em Paris, o belga Abdelhamid Abaaoud, inspirou-se no conflito na Síria através de vídeos das atrocidades cometidas pelos extremistas.
Para as autoridades políticas e policiais, a França é agora o país mais ameaçado por ataques. Essa ameaça surge num momento de enfraquecimento do executivo socialista, com a aproximação da eleição presidencial a ser realizada em 2017.
O presidente François Hollande dispõe de uma fraca maioria na Assembleia Nacional e continua a ser um dos chefes de Estado mais impopulares da França.
O enfraquecimento do poder político, do qual os extremistas poderiam tirar proveito, atinge como em outros países europeus todos os partidos tradicionais, rejeitados por uma população que ainda luta com os efeitos da crise econômica. O populismo está em ascensão e, a cada eleição, local ou nacional, a extrema-direita está crescendo.