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Exército sírio recruta civis de bairros reconquistados de Aleppo

A atitude foi tomada por conta das 6 mil baixas de soldados sírios desde o início do conflito

Síria: para obter a permissão de entrar nos bairros do oeste de Aleppo, os homens devem se submeter a rígidos controles de segurança para demonstrar que não são rebeldes (Omar Sanadiki/Reuters)

Síria: para obter a permissão de entrar nos bairros do oeste de Aleppo, os homens devem se submeter a rígidos controles de segurança para demonstrar que não são rebeldes (Omar Sanadiki/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de dezembro de 2016 às 13h37.

Quando Mohamed Walo foi fazer compras pela primeira vez em um bairro controlado pelo regime em Aleppo, não suspeitava de que os soldados de um posto militar o levariam a um centro de treinamento do exército sírio.

"No posto de controle, me disseram que eu formava parte dos reservistas", conta este jovem técnico de 35 anos com um casaco de couro sobre os ombros.

Era a primeira vez que saía de seu bairro de Hellok, que esteve durante meses sob controle rebelde, para se dirigir ao setor governamental da cidade.

Enquanto o regime de Bashar al-Assad retoma um a um os bairros rebeldes do leste de Aleppo, o êxodo em massa de dezenas de milhares de civis engrossa as fileiras do exército, celebra o general Habib Safi, chefe da polícia militar na segunda cidade da Síria.

Walo segue um treinamento rigoroso junto a mais de 200 homens de todas as idades, em um centro da polícia militar situado no oeste da localidade. Após sua formação, começará seu serviço militar ou entrará na reserva do exército, à qual se recorre em tempos de crise.

Todos os presentes têm algo em comum: são originários dos bairros orientais que o exército reconquistou após a ofensiva que lançou em meados de novembro.

Estes recrutas são uma bênção para um exército que perdeu quase a metade de seus 300.000 combatentes em mais de cinco anos de guerra, devido às mortes e deserções.

"É evidente que o exército sírio não pode ser tão forte quanto antes (...) Temos tantos mártires, tantos soldados incapacitados", reconheceu o presidente Assad na quarta-feira, em uma entrevista ao canal russo RT.

Um total de 60.000 soldados sírios morreram desde o início do conflito, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

700 recrutas

"A liberação dos bairros do leste fornece jovens ao exército árabe sírio", afirma o general Safi, apontando orgulhoso para os 220 recrutas que o observam no pátio do centro militar.

Segundo ele, o exército recrutou "cerca de 700 pessoas após o início dos combates no leste de Aleppo, e o número segue aumentando".

Para obter a permissão de entrar nos bairros do oeste de Aleppo, os homens devem se submeter a rígidos controles de segurança para demonstrar que não são rebeldes, desertores ou indivíduos foragidos da justiça.

Os escolhidos pelo exército passam uma semana em um centro de treinamento.

Na Síria, os homens de mais de 18 anos devem cumprir um serviço militar de até dois anos, antes de passar automaticamente à reserva.

Mas existem exceções para os filhos únicos, deficientes físicos ou para os que são responsáveis pelo sustento de suas famílias.

As Nações Unidas se mostraram preocupadas dias atrás pelo suposto desaparecimento de centenas de homens que haviam abandonado os bairros rebeldes rumo à zona pró-governamental. E uma comissão de investigação da ONU falou na quarta-feira de "recrutamentos forçados".

Visitas familiares

Os recrutas com os quais a AFP conversou, na presença de autoridades de segurança, garantiram que eram bem tratados no centro militar.

"Sabia que tinha que fazer o serviço militar, mas tinha medo", afirma o jovem Mohamed Ali, de 19 anos. "Mas quando vi como nos tratavam (ao sair de Aleppo Oriental) me entreguei", conta.

"Nunca peguei em armas (...) Vendia água em uma cisterna instalada no teto de meu carro", diz.

No exterior do centro militar, dezenas de mulheres e crianças esperam com impaciência para ver seus familiares.

"Não sabíamos que era reservista", lamenta Iftikhar Labad, de 45 anos, que foi ver seu filho Ahmad, detido há duas semanas quando saía do bairro Tariq el Bab.

"Que Deus o proteja", suspira Labad, que carrega no colo seu neto, um bebê. "Se Deus quiser, a guerra terminará e voltarão para casa com seus filhos".

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