O ex-primeiro ministro da Alemanha, Helmut Kohl,, aumentou a polêmica em torno de Merkel (Sean Gallup/Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2011 às 18h03.
Berlim - O ex-chefe de governo alemão Helmut Kohl acrescentou tensão nesta sexta-feira ao clima político alemão, ao contradizer publicamente a chanceler, Angela Merkel, em relação à energia nuclear, logo depois de ela enfrentar críticas envolvendo a administração das crises na Líbia e na zona do euro.
A crise nuclear no Japão "é capaz de mudar o mundo, mas não precisa nos paralisar, não deveria distorcer nossa visão da realidade", disse o ex-chanceler Kohl, 80 anos, em um editorial publicado pelo jornal alemão Bild.
"Nada mudou para a Alemanha. A catástrofe no Japão não tornou a energia nuclear alemã mais perigosa que antes", disse.
Merkel, "protegida" de Kohl até que ela contribuiu para acabar com a carreira política dele com um notório editorial publicado em 1999, classificou os problemas do Japão e de sua usina de Fukushima como uma "hora da virada" para o mundo inteiro.
Na semana passada, ela suspendeu por três meses uma decisão anterior que ampliava o funcionamento das usinas nucleares alemãs e fechou temporariamente sete reatores antigos que precisavam de revisão.
Apesar de a usina nuclear ser amplamente impopular, o anúncio feito por Merkel gerou críticas, com uma pesquisa mostrando que 70% dos eleitores pensaram que a decisão era "eleitoreira", às vésperas do prosseguimento às eleições regionais no domingo.
Comentários atribuídos ao ministro da economia publicados no jornal Sueddeutsche Zeitung aparentemente confirmaram tais suspeitas.
Os comentários de Rainer Bruederle foram feitos em um encontro da federação industrial BDI, e Werner Schnappauf, diretor-geral da BDI, pediu demissão nesta sexta-feira.
Nas eleições de domingo, as pesquisas indicam que a União Democrata Cristã (CDU), de Merkel, pode perder poder em Baden-Wuerttemberg depois de 58 anos no comando desse rico estado, sendo a energia nuclear a principal questão levada em conta pelos eleitores.
Merkel foi criticada pelos Partido Social Democrata (SPD) em Hamburgo em fevereiro e cedeu o estado de Renânia-Westphalia em maio, o que significou que a coalizão do governo perdeu controle sobre o senado.
Nas eleições em Baden-Wuerttemberg, a coalizão nacional de Merkel, o Partido Liberal (FDP), não conseguiu votos suficientes para garantir assentos no parlamento estadual.
Um destino semelhante deve ocorrer no domingo, em outra eleição, no estado controlado pelo SPD Renânia-Palatinadoe, oeste da Alemanha, acrescentando pressões sobre o líder do FDP, Guido Westerwelle, vice-chanceler e ministro das Relações Exteriores.
Os principais beneficiários podem ser o partido ambientalista Greens, Verdes, que ganhou grande apoio à sua oposição à energia nuclear.
O Greens, junto com o SPD, foram autores da decisão alemã de uma década atrás de desligar os últimos de seus reatores nucleares por volta de 2020. No ano passado, Merkel adiou esse prazo para até os anos 2030.