Mudanças climáticas: Europa viveu um 2021 de desastres meteorológicos
O continente viu sua temperatura subir uma média de +2ºC em relação à era pré-industrial, em comparação ao aumento de +1,1ºC a +1,2ºC sofrido pelo planeta
AFP
Publicado em 22 de abril de 2022 às 08h48.
Última atualização em 22 de abril de 2022 às 10h18.
A Europa viveu seu verão mais quente em 2021, com recordes de temperatura na Sicília e na Espanha, por exemplo, e depois tempestades que causaram grandes inundações na Bélgica e na Alemanha - adverte o relatório anual do serviço de monitoramento Copernicus.
O continente viu sua temperatura subir uma média de +2ºC em relação à era pré-industrial, em comparação ao aumento de +1,1ºC a +1,2ºC sofrido pelo planeta, relatou o Copernicus (C3S).
“2021 foi um ano de extremos, em particular o verão mais quente, com ondas de calor no Mediterrâneo, inundações e falta de vento, o que mostra que compreender o clima e os extremos climáticos é cada vez mais importante para setores-chave da sociedade”, afirmou o diretor deste observatório, Carlo Buontempo, em um comunicado.
O termômetro chegou a 48,8ºC na Sicília, um novo recorde europeu (embora ainda precise ser homologado), e até 47ºC na Espanha, novo recorde nacional.
Em seu conjunto, 2021 não é um dos dez piores anos em termos de temperatura na Europa, mas, durante o verão (boreal, inverno no Brasil), sua temperatura aumentou 1ºC em relação à média dos últimos 30 anos.
A seca persistente causou grandes incêndios na Itália, na Grécia e na Turquia. Ao todo, 800.000 hectares foram queimados entre julho e agosto, o que fez deste verão uma das temporadas de incêndios florestais mais intensas na Europa nos últimos 30 anos.
- Gelo em níveis mínimos na Groenlândia -
A meteorologia pôs o continente à prova em seus extremos.
A camada de gelo que cobre grande parte da Groenlândia derreteu a níveis recordes, chegando a uma extensão 72% inferior à normal. A parte leste desta gigantesca ilha subcontinental ficou praticamente sem calota de gelo no final do verão (boreal), por causa do aumento das temperaturas e ventos do sul.
Já na Alemanha e na Bélgica, chuvas catastróficas em julho deixaram mais de 200 mortos e bilhões de dólares em danos.
Segundo pesquisadores da World Weather Attribution, a possibilidade de ocorrência destes episódios meteorológicos aumentou entre 20% e 900%, devido ao aquecimento global.
"Calculamos que vão aumentar no futuro", alertou a principal autora do relatório do Copernicus, Freja Vamborg.
O Ártico está acelerando sua mudança climática. Sua temperatura média aumentou +3ºC em relação à era pré-industrial.
Embora 2021 não tenha sido um ano recorde para esta vasta região polar, o verão apresentou um aumento de temperatura média de 0,4ºC e provocou enormes incêndios, em particular no leste da Sibéria.
No ano passado, a primavera também chegou trazendo seu lote de fenômenos inesperados, com uma geada que afetou vinhedos e árvores frutíferas, da França ao norte da Grécia.
"Os cientistas, em particular do IPCC (sigla do painel de especialistas em clima da ONU) nos alertaram de que estamos ficando sem tempo para limitar o aquecimento a +1,5°C", a meta mais ambiciosa estabelecida pela comunidade internacional no Acordo de Paris, frisou o diretor de Observação da Terra na Comissão Europeia, Mauro Facchini.
O informe do Copernicus "ressalta que é preciso agir, porque os episódios extremos relacionados com o clima já estão acontecendo na Europa", insistiu Facchini.