Estados Unidos e Europa oferecem saídas opostas para a Venezuela
A Venezuela, hoje, é um tabuleiro de xadrez cujas peças são as potências que tentam exercer alguma influência sobre seus rumos
Gabriela Ruic
Publicado em 9 de fevereiro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2019 às 06h00.
São Paulo – A crise na Venezuela ganhou contornos dramáticos em 2019 com a disputa de poder entre o Nicolás Maduro e o autodeclarado presidente interino e presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó. Até então, o país que vivia à beira do colapso econômico e humanitário viu a sua situação se agravar com o componente político adicionado e o envolvimento cada vez maior da comunidade internacional.
A Venezuela, hoje, é um tabuleiro de xadrez cujas peças são as potências que tentam exercer alguma influência sobre os rumos do país e que estão mobilizadas no Grupo de Lima ou no Grupo de Contato Internacional (ICG). Formados por países distintos, esses grupos buscam solucionar a questão a partir da realização de novas eleições presidenciais. Contudo, as divergências em suas abordagens revelam as divisões atuais nas relações diplomáticas globais.
“ O Grupo de Lima repercute decisões da Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade na qual os Estados Unidos têm uma forte presença”, diz o historiador e cientista político Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, em São Paulo. “Esse grupo, de certa maneira reverbera posições norte-americanas, especialmente as de John Bolton, assessor de segurança nacional do governo Trump.”
De acordo com Trevisan, a proposta desse grupo é a de forçar a saída de Maduro a partir do “estrangulamento” da economia da Venezuela pela aplicação de sanções cada vez mais fortes. “A estratégia é fazer com que Maduro ceda o poder para Guaidó , para que ele inaugure um governo de transição e conduza as eleições presidenciais”, diz Trevisan. “Seria uma derrota para Maduro e, na prática, a sua exclusão do jogo político.”
Neste grupo, que é apoiado pelos Estados Unidos, estão Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia. O México também faz parte da iniciativa, mas se distanciou de manifestações recentes por discordar de pontos defendidos pelo grupo, como o não reconhecimento do novo mandato de Maduro.
Na outra ponta da equação, está o Grupo de Contato Internacional (ICG), que quer colocar Maduro e Guaidó na mesma mesa para negociar. Ele é formado por países da União Europeia (França, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido), além de Costa Rica, Equador, Uruguai, Bolívia e México.
Apesar de os membros do grupo terem reconhecido a legitimidade do presidente interino e aprovado sanções contra Caracas, a posição deles é de negociação, algo que membros do Grupo de Lima, como o Brasil, rechaçam. “A diplomacia europeia teme uma intervenção maior que possa resultar em guerra civil e fazer com que a Venezuela se aproxime mais da Rússia e da China”, diz Trevisan.
Na sexta-feira (8), Maduro disse que estaria aberto a receber uma delegação do Grupo de Contato Internacional, mas rejeitou a declaração dada pelo grupo um dia antes, após uma reunião em Montevidéu, no Uruguai. Para Maduro, a resolução do grupo é "partidária".
A questão venezuelana traz um debate ainda maior e que é em torno da sobrevivência do multilateralismo num momento no qual o mundo observa uma crise nesse modo de cooperação. “Quem quer solução multilateral? Um grupo segue a lógica de Trump, mas a Europa resiste, já que a discussão em torno do futuro dessa crise ditará a forma como o mundo lidará em situações similares em outros países”, diz.