Nas eleições em Angola, as cartas mudam, mas o jogo segue
Nesta quarta-feira, a população vai às urnas para a eleição de um novo presidente, algo que os angolanos não veem desde 1979
EXAME Hoje
Publicado em 23 de agosto de 2017 às 06h37.
Última atualização em 23 de agosto de 2017 às 07h30.
Mais de dois terços dos habitantes de Angola encaram uma situação inédita nesta quarta-feira. A população vai às urnas para a eleição de um novo presidente que substituirá o atual José Eduardo dos Santos. É algo que os angolanos não veem desde 1979, quando dos Santos assumiu o poder, à frente do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), partido que governa o país desde a independência de Portugal, há mais de 40 anos. A escolha de um sucessor para dos Santos revela muito sobre autoridade e sobre o sistema político que se apossa do país africano, o segundo maior produtor de petróleo do continente.
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Angola foi um dos palcos da Guerra Fria, época em que o MPLA governou o país sob regime socialista ao mesmo tempo em que enfrentava o grupo guerrilheiro Unita, apoiado pelos Estados Unidos. O conflito terminou em 2002, quando o MPLA abateu em combate o líder máximo do Unita, Jonas Savimbi, e a guerra chegou ao fim. Em pouco tempo, o regime socialista do partido deu lugar a uma economia que se abriu. Hoje, os dois grupos antagônicos abandonaram as armas e se enfrentam politicamente nas urnas.
Apesar dos cerca de 3 milhões de apoiadores do Unita, nenhum outro grupo se compara ao poder de movimentação do partido que detém a máquina de governo. Dos Santos, acusado de transferir riquezas do país para uma elite conectada e de suprimir dissidências com violência, viu em seus últimos dias rumores de que, como um bom autocrata, passaria o comando da nação a um de seus descendentes — no caso, sua filha Isabel dos Santos, presidente da estatal de Petróleo e frequentemente descrita como a mulher mais rica da África. Não sendo natural da Angola, a constituição teria que ser alterada para a candidatura de Isabel. Assim, o candidato favorito a vencer o pleito é o general e atual ministro da Defesa, João Lourenço.
Se Lourenço vencer, assume um país que vive seu próprio drama econômico. A crise chegou até Angola, que vê uma escassez de reserva de dólares e diminuição do PIB com o baixo preço do petróleo. Segundo dados do FMI, a economia de Angola estagnou no ano passado, depois de um crescimento modesto de 0,9% em 2015. Com menos dinheiro nos cofres, fica difícil também redistribuir a riqueza entre os amigos do governo, ainda que 25 milhões de pessoas vivam abaixo da linha da pobreza.