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El Chapo: condenado, maior traficante mexicano deixa vazio em Sinaloa

Descrito como uma divindade pelos moradores de Sinaloa, o fundador do poderoso cartel de drogas foi condenado nesta terça-feira em Nova York

El Chapo foi condenado em 10 crimes nesta terça-feira (Daniel Cardenas/Anadolu Agency/Getty Images)
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AFP

Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 09h31.

Última atualização em 13 de fevereiro de 2019 às 09h38.

Se Joaquín "Chapo" Guzmán voltasse à sua cidade natal de Badiraguato, no estado de mexicano de Sinaloa (norte), haveria festa.

O filho pródigo, fundador do poderoso cartel de drogas que leva o nome do estado, voltaria e seria novamente erguido pelos moradores, que o descrevem como se fosse uma divindade.

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El Chapo foi declarado culpado nesta terça-feira (12) em Nova York pelos 10 crimes dos quais era acusado por liderar um império criminoso que traficou toneladas de drogas aos Estados Unidos durante 25 anos. Segundo as leis americanas, enfrentará prisão perpétua obrigatória quando for revelada a sua sentença, em 25 de junho.

Mas em Badiraguato, a história é outra.

É celebrado em canções populares, conhecidas como "narcocorridos", e também com fotografias e frases que citam o famoso chefão de 61 anos.

Se voltasse, seria um alívio, dizem os moradores, porque quando estava lá não havia pobreza nem violência. Era, descrevem, como um território com um autogoverno não reconhecido e um líder generoso.

"Desde que saiu o senhor Chapo, há mais pobreza e as pessoas têm que descer (a serra), porque está mais fraco... mais dura a coisa", diz Jorge Valenzuela, morador de Potrero de Bejarano, comunidade que faz fronteira com o estado de Chihuahua.

"Ele dividia dinheiro pelas pessoas, dava para plantarem, para comprar coisas, já que não havia ninguém para fazer isso", acrescenta Valenzuela desta cidade do chamado Triângulo Dourado, localizado nas montanhas do noroeste do México.

Nove em cada 10 pessoas que residem em Badiraguato vivem em condições de pobreza ou extrema pobreza, segundo dados do governo mexicano. É o município com as mais carências sociais e econômicas de Sinaloa.

É também o município com o menor número de estradas construídas, mas dos que conta com mais caminhos rurais que levam à serra, onde as principais atividades são a mineração - 33% do território é concedido a empresas de extração - e a produção de maconha.

Dados públicos da Secretaria de Defesa Nacional revelam que em Sinaloa se concentrou o maior volume de erradicação da maconha durante 2018, com a destruição de 43.976 hectares, 31% do total eliminado no país.

A produção de drogas foi a indústria que Guzmán liderou com o cartel de Sinaloa, até dois anos atrás, quando foi preso na cidade de Los Mochis, no norte do estado.

"Aqui todas as pessoas têm onde plantar, mas como o senhor Chapo não está, as pessoas quase não plantam, porque vendiam para ele", lamenta Valenzuela.

"Apenas vivem"

A captura de Guzmán suscitou uma guerra interna, com a qual o cartel redefiniu lideranças, explica Cristóbal Castañeda, secretário de Segurança Pública estadual.

O território de plantio foi disputado por diferentes grupos, um liderado por Aureliano Guzmán, irmão de "El Chapo", outro por Iván Archivaldo e Jesús Alfredo Guzmán Salazar, seus filhos, e por um homem chamado Héctor Román.

As disputas ocasionaram durante 2018 o deslocamento de 295 famílias dos povoados Potrerillos, Carricitos, Saucitos, San Javier, San Javier de Arriba, Cieneguita de los López e Sierrita de Potrerillos.

"O que nos afetou foi a extradição (de Guzmán), pela divisão de grupos criminosos" que foi gerada, explica Castañeda à AFP.

Mais de dois anos depois, o reassentamento foi consolidado deixando de fora o antigo líder, e sem sinais de novos surtos de violência, estima Castañeda. "Estão seguindo com a tendência de baixa nos diferentes índices de criminalidade", afirma.

Mas os moradores de Badiraguato não estão confortáveis. Para eles, a queda de Chapo trouxe uma imperceptível pobreza nos censos econômicos, mas evidente no declínio de seus negócios que abasteciam os habitantes da serra.

"Antes as pessoas entravam e saíam. Em caminhonetes levavam produtos para a serra, para eles venderem lá, como suprimentos, mas agora (...) dizem que as pessoas não têm dinheiro, apenas vivem", diz Jorge Laija, dono de um restaurante de beira de estrada.

Na serra de Badiraguato continuam produzindo drogas. Permanecem homens armados e uma autoridade paralela que desafia, até mesmo, as forças do governo.

Circulam, sem vergonha, com fuzis nos ombros, rádios de alta frequência, caminhonetes blindadas e roupas com o número 701, fazendo alusão à posição em que a revista Forbes colocou Guzmán em sua lista dos homens mais ricos do mundo em 2009.

Em Badiraguato não há mansões nem luxos visíveis. A pobreza prevalece. Com Guzmán, no entanto, seus habitantes nunca se sentiram desprotegidos apesar das carências. "El Chapo" sempre esteve lá, declaram.

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