Homem beija retrato de Mubarak: mesmo os adversários defendem uma saída honrosa (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2011 às 16h06.
Cairo - Após onze dias de manifestações, dirigentes e também cidadãos egípcios desejam uma "saída honrosa" para o presidente Hosni Mubarak, apesar da exigência de uma partida imediata feita por adversários, consideraram analistas políticos.
Para Dia Rachwane, do centro de estudos Al-Ahram, existe uma saída constitucional para o presidente. "O artigo 139 estipula que pode delegar todos seus poderes ao vice-presidente e terminar o mandato à frente do Estado, mas sem governar".
"Como em uma monarquia constitucional, seu papel se torna honorário", explicou à AFP, destacando que esta saída recebe grande apoio popular.
Mubarak, que tem 82 anos e está há quase três décadas no poder, prometeu não se candidatar a um sexto mandato nas próximas eleições presidenciais de setembro, um anúncio julgado insuficiente pelos manifestantes.
O primeiro-ministro Ahmad Shafic, no entanto, defendeu a conclusão do mandato para que o presidente encontre uma saída honrosa, em uma declaração nesta sexta-feira ao canal americano de língua árabe Al-Hurra.
"A maioria dos egípcios deseja um tratamento honroso e de respeito ao presidente que passou um longo período no poder, de uma maneira civilizada, conforme a natureza do povo egípcio", garantiu o primeiro-ministro.
O velho chefe de Estado e ex-militar igualmente procurou sensibilizar a opinião pública em sua última declaração televisionada, ao dizer que o Egito era o país que defendia e onde iria morrer.
"Minha prioridade agora é devolver a segurança e a estabilidade à pátria para garantir a transição pacífica do poder", acrescentou.
Mubarak vem aparecendo bem menos desde que nomeou, pela primeira vez desde o início de seu reinado, um vice-presidente, o ex-chefe dos serviços secretos, o general Omar Suleiman.
Os principais anúncios políticos foram feitos nos últimos dias por Suleiman ou pelo primeiro-ministro Ahmad Shafic, que citam, no entanto, o presidente em todas as suas declarações.
"O presidente tem um senso apurado de dever, ele está profundamente convencido de que se ele tiver que deixar o poder agora o país vai mergulhar no caos", considerou Elijah Zarwan do International Crisis Group.
Zarwan considera, entretanto, que Mubarak não deseja sair do poder antes do fim de seu mandato por "temer perseguições judiciais e medo de perder tudo".
Mesmo o opositor egípcio Mohamed El Baradei, um de seus adversários mais fervorosos, disse na terça-feira desejar uma "saída honrosa" para o presidente Mubarak.
"Vamos virar a página. Pelo passado, perdoamos", acrescentou, deixando subentendido assim que o presidente egípcio não seria julgado se ele deixasse o poder como pedem os manifestantes e a oposição.
Segundo Elijah Zarwane, "o regime parece ter conseguido avanços nos últimos dias na batalha pela opinião pública".
"Muitas pessoas em Tahrir (praça do Cairo, epicentro dos protestos de oposição) consideram que as concessões de Mubarak são suficientes", declarou.