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Ecologistas de concreto

Conheça alguns dos prédios mais verdes do país, feitos pensando no meio ambiente.

Eldorado Business Tower: vidros especiais para poupar 700 aparelhos de ar-condicionado. (.)

Eldorado Business Tower: vidros especiais para poupar 700 aparelhos de ar-condicionado. (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Os mais novos defensores do meio ambiente têm cérebros eletrônicos e um corpo feito de aço e concreto. Embora alguns deles possam medir mais de 100 metros de altura, procuram causar o menor impacto possível nos enormes terrenos onde estão instalados. Os edifícios ecológicos, que já começam a aparecer nas cidades brasileiras, usam múltiplas tecnologias para economizar energia e água. Nem por isso são menos eficientes ou confortáveis do que os prédios tradicionais. Ao contrário. 

A multiplicação de construções que levam em conta a sua sustentabilidade se tornou uma tendência mundial. Até abril, havia 2 706 edifícios em todo o planeta com certificação Leed - sigla para Leadership in Energy and Environmental Design, que pode ser traduzida como Liderança em Energia e Design Ambiental -, uma das mais conceituadas nessa área. Outros 22 863 prédios aguardavam a análise do U.S. Green Building Council (USGBC), organização não lucrativa responsável pela concessão do título.

Depois que o órgão ganhou representação oficial no Brasil, em 2007, houve um boom de pedidos de avaliação no país. Por enquanto, há apenas quatro pequenos prédios certificados, mas mais de 40 já estão na fila de espera. O processo é rigoroso e demorado. "A construção desses edifícios pode eventualmente sair mais cara, mas a economia gerada faz que o gasto extra se pague a curto ou médio prazo", diz Nelson Kawakami, diretor-executivo do GBC Brasil. Entre os que aguardam resposta está o Eldorado Business Tower, inaugurado em outubro de 2007 em São Paulo.

Localizado na Marginal do Pinheiros, o arranha-céu de 32 andares adota controles automatizados para poupar eletricidade. Um computador monitora cada uma das evaporadoras de ar-condicionado distribuídas pelos andares. “Com essa precisão, há grande economia de energia”, diz Luis Bueno, diretor de operações da Gafisa, incorporadora responsável pelo empreendimento. É possível determinar, online, a temperatura dos pavimentos. 

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Vidros à prova de calor
A climatização do ambiente também conta com a ajuda dos vidros, feitos com material especial. Apesar de não serem espelhados, eles deixam passar 75% da luz e só 28% do calor. "A economia gerada equivale a 700 aparelhos de ar-condicionado de janela", afirma Bueno. Na ponta do lápis, os vidros saíram 50% mais caros do que o normal. Na prática, porém, eles colaboram para baixar a conta de luz. Os andares possuem ainda cortinas inteligentes, que sobem e descem de acordo com a incidência de sol.

A economia também está presente nos 29 elevadores. Para usá-los, é necessário digitar em um painel o andar para onde se deseja ir. Em seguida surge a indicação do aparelho que chegará primeiro e que, consequentemente, gastará menos eletricidade. Sempre que freiam, os elevadores produzem energia, que nos prédios em geral acaba desperdiçada. No Eldorado, ela é armazenada e usada nas partidas. Além disso, o edifício emprega apenas água de reuso para serviços de limpeza e irrigação no térreo e nos subsolos.

Engana-se quem imagina que apenas a preocupação com o meio ambiente tem levado as empresas a se interessar por prédios ecológicos. "Não estamos investindo nisso por marketing. Operamos os edifícios depois de prontos. E, para que sejam competitivos, eles precisam ser extremamente econômicos", diz Luiz Henrique Ceotto, diretor de Design e Construção da incorporadora Tishman Speyer no Brasil. 

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A companhia é corresponsável por dois empreendimentos ecológicos recentes, que aguardam avaliação do GBC: o Ventura Corporate Towers, no Rio, e o Rochaverá Corporate Towers, parcialmente concluído, em São Paulo. Muitos dos sistemas usados são semelhantes aos do Eldorado. No ar-condicionado, a água resultante da condensação é captada e bombeada para a torre de refrigeração. "Isso economiza 60% da água usada pela torre", afirma Ceotto.

 Os prédios adotam também rodas entálpicas, equipamentos que auxiliam as trocas de calor: com sua ajuda, o ar que entra é resfriado pelo que sai do prédio. Há ainda sensores que medem o teor de gás carbônico em todos os setores. Isso evita que o ar seja trocado sem necessidade - nem todas as salas ficam o tempo todo ocupadas e existem áreas com pequeno número de pessoas, com baixo consumo de oxigênio. Sensores fotoelétricos também cuidam para que a iluminação seja apagada de fora para dentro, sempre que a luz exterior for suficiente.

Localizado em São Paulo, bem próximo do Eldorado, o WTorre Nações Unidas também está à espera da certificação Leed. Além de contar com vários sistemas automatizados que melhoram a eficiência do consumo de energia, o edifício adota um telhado verde na sua cobertura (leia na pág. ao lado). O jardim também está presente nas torres do Ventura e do Rochaverá. O WTorre aproveita ainda a água da chuva nas torres de resfriamento do ar-condicionado, e sua arquitetura foi pensada para facilitar a entrada de luz natural.

Não são só os arranha-céus que dispõem de tecnologias para preservar o meio ambiente. Na nova loja do Wal-Mart situada no bairro do Morumbi, em São Paulo, um cérebro eletrônico controla a iluminação, a refrigeração e a temperatura interna. O Energy Management System, ou EMS, cuida para que todas as máquinas de ar-condicionado mantenham o ambiente a 24 graus. Todos os compressores que levam frio a algum lugar do hipermercado também ficam sob a sua responsabilidade. Com isso, evita-se o desperdício de energia. Para mudar a programação, é necessário conectar um laptop ao sistema. 

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Luz na medida certa
Já a parte interna da loja precisa receber sempre a mesma quantidade de iluminação. E é a entrada de luz natural no prédio que determina a intensidade das lâmpadas artificiais - quanto mais claro o dia, menor a quantidade de luz elétrica usada. A economia, nesse caso, chega a 40%. Há baixo consumo de energia também em um dos pisos do estacionamento, que possui iluminação por LEDs. Perto da rua, um poste é alimentado por painéis fotovoltaicos.

Nos jardins, o sistema de irrigação é automatizado: funciona em horários determinados e durante o tempo definido. Medidores de umidade, contudo, detectam se choveu e, aí, impedem seu acionamento. Nos vasos sanitários, as descargas funcionam a vácuo, como as dos aviões. Com isso, gasta-se apenas 1 litro de água, enquanto modelos tradicionais chegam a consumir de seis a doze vezes mais. Com esses e outros sistemas, a empresa trabalha com a meta de que o prédio gastará 25% menos energia e 40% menos água. “A ideia é que a gente replique essa loja e acrescente outras iniciativas”, diz Elisabete Freitas, diretora de construções do Wal-Mart. 

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Apartamentos verdes
Ainda são raros os empreendimentos verdes residenciais no Brasil. Entre os que buscam certificação está o Ecolife Independência, que está sendo construído pela Ecoesfera no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Lá, a ecologia é garantida por itens como coleta da água da chuva, tratamento de esgoto de pias e chuveiros, torneiras com temporizador e aquecimento solar. A empresa inova no método construtivo para não repassar esses gastos extras. Durante a obra, os pavimentos são moldados em alumínio e recheados de concreto. "Ganhamos em produtividade", afirma Luiz Fernando Lucho do Valle, presidente da Ecoesfera.

Não é só o mercado imobiliário que corre atrás da sustentabilidade. Em 2011, a Universidade de São Paulo também terá um edifício ecológico na Cidade Universitária, em São Paulo. “Será o primeiro prédio de energia zero do Brasil e, talvez, da América Latina”, diz Alberto Hernandez Neto, professor da Escola Politécnica da USP. Por meio de uma série de tecnologias, como módulos fotovoltaicos, o local vai produzir uma quantidade maior de eletricidade do que consumirá e abrigará três grupos de pesquisa. Os resultados de alguns dos estudos ali desenvolvidos poderão facilitar a instalação de sistemas que ajudam a preservar o meio ambiente. O planeta agradece. 

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