Usina de biodiesel: o diesel, além de ter o percentual de defasagem mais elevado, é o produto com maior participação no faturamento da Petrobras (Arquivo/EXAME)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2012 às 18h05.
Rio de Janeiro - A defasagem de preço do diesel vendido pela Petrobras chega a 23 por cento em relação à cotação do produto nas refinarias do Golfo dos Estados Unidos, mesmo após o reajuste anunciado no mês passado, segundo estudo obtido pela Reuters.
No caso da gasolina, a defasagem atual é de 14,7 por cento, de acordo com dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), calculados com base na cotação do petróleo e do câmbio desta quinta-feira.
Os valores dos combustíveis nos Estados Unidos são reajustados semanalmente de acordo com a variação do petróleo, o que mostra que a paridade com os valores internacionais perseguida pela Petrobras ainda é uma meta distante.
"A defasagem do diesel é o grande problema da Petrobras, maior mesmo que o problema da gasolina. A economia do Brasil é movida a diesel", disse o diretor do Cbie, Adriano Pires.
A defasagem atual já considera o último aumento de preços, de 7,83 por cento da gasolina e de 3,94 por cento do diesel desde 25 de junho. Antes da correção, a defasagem variava entre 20 e 30 por cento, dependendo do combustível.
O diesel, além de ter o percentual de defasagem mais elevado, é o produto com maior participação no faturamento da Petrobras, de cerca de 27 por cento da receita total da estatal, segundo a corretora Planner.
Para atender à crescente demanda interna por combustíveis, a Petrobras importa pelas cotações internacionais, mas revende a preços mais baixos.
Para a corretora Planner, com a presente defasagem de preços, a estatal perde 17,4 bilhões de reais por ano de receitas.
"Estimamos ainda que esta perda de receita tenha um impacto de 2,4 bilhões de reais no lucro líquido/ano da companhia", disse a corretora em relatório.
Documento do Deutsche Bank aponta pouco efeito dos reajustes da gasolina e do diesel anunciados pela estatal sobre os seus resultados.
A estimativa do banco é de uma alta de apenas 3 por cento no lucro líquido anual da companhia, para 14,638 bilhões de dólares neste ano, ante estimativa anterior de 14,216 bilhões de dólares.
Dentre as opções para o alívio do caixa da estatal está a possibilidade de um novo reajuste para eliminar a diferença, considerada pelos especialistas como inviável devido à proximidade com as eleições de outubro.
O diretor do Cbie, Adriano Pires, disse que apesar da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, ter dito recentemente que busca no mercado interno a paridade de preços dos combustíveis com o mercado internacional, ele não acredita em novos reajustes da gasolina e diesel no curto prazo.
"Não acredito que o governo mexa nos preços dos combustíveis em um período próximo das eleições", disse Pires. "O governo já zerou a CIDE (contribuição que incidia sobre os combustíveis) no último reajuste e não tem mais como manobrar para evitar o repasse ao consumidor", completou.
No dia seguinte ao anúncio da correção dos preços da gasolina e diesel, as ações da Petrobras caíram quase 9 por cento, maior queda diária desde novembro de 2008, justamente porque o mercado considerou os índices insatisfatórios.
Outra opção para aliviar a Petrobras seria o aumento da mistura do etanol na gasolina, dos atuais 20 por cento para 25 por cento, estratégia ameaçada pelo fraco desempenho do setor sucroalcooleiro no ano.
Lucas Brendler, analista da corretora Geração Futura, diz que o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina para 25 por cento aliviaria o caixa da Petrobras. "As contas com importação de gasolina são o maior impacto na lucratividade da empresa. Uma redução de 5 por cento nessas importações aliviariam." Na segunda-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que a mistura do etanol na gasolina poderá subir se a produção de cana-de-açúcar aumentar o suficiente para tanto.
Mas dados sobre o setor sucroalcooleiro divulgados pela Unica nesta quinta-feira mostram que há um atraso na moagem de cana neste ano devido às chuvas, o que provocou até o final de junho uma queda de 28 por cento na safra 2012/2013 frente ao ano anterior.