Estátua da menina encarando o touro: a diferença salarial entre gêneros é de 23% no mundo, com porcentagens muito mais elevadas em alguns países e setores profissionais (Brendan McDermid/Reuters)
EFE
Publicado em 7 de março de 2017 às 17h55.
Nova York - O emblemático touro de Wall Street ganhou nesta terça-feira uma nova companhia: a figura em bronze de uma menina que, em atitude desafiante, lembra aos investidores sobre a necessidade de aumentar o número de mulheres na direção das empresas dos Estados Unidos.
A estátua, instalada na véspera do Dia Internacional da Mulher, é uma iniciativa da State Street Global Advisors, uma grande empresa de investimentos do país que decidiu chamar a atenção sobre a desigualdade de gênero no mundo dos negócios.
Situada nas imediações da Bolsa de Nova York, contra o popular touro que simboliza a força do mercado, a figura da menina busca representar o futuro e o papel-chave que a mulher deve ter no setor, segundo a empresa.
Nos pés da estátua, foi instalada uma pequena placa que afirma: "Conheça o poder das mulheres na liderança. Elas marcam uma diferença".
A estátua foi instalada sem aviso na madrugada e, como o famoso touro, colocado em Wall Street sem permissão por um artista em 1989, pode permanecer no local de forma indefinida.
Batizada por enquanto de "Menina Sem Medo", a estátua ficará no início da Broadway Street por pelo menos uma semana. No entanto, os responsáveis da State Street Global Advisors já trabalham para que ela possa continuar ali por mais tempo.
Hoje, apesar da forte chuva, vários turistas já começavam tirar fotos com a estátua e expressaram apoio à mensagem que ela traz.
"É sempre bom que os direitos da mulher trabalhadora sejam simbolizados em um local tão emblemático", disse à Agência Efe a turista espanhola Gema Alarcón.
Alguns frequentadores da região também defenderam a estátua, destacando o acerto do local onde ela foi instalada.
"Muita gente venera esse touro. Agora verão a pequena estátua da menina representando a igualdade. É algo bom, uma lembrança que as mulheres podem ser tão boas quanto os homens", disse Aldo, um engenheiro que trabalha em Wall Street.
A peça é obra da escultora Kristen Visbal, que se inspirou na filha de 7 anos de uma amiga e em uma outra menina, de 9 anos, para construir a estátua, segundo o jornal "The Wall Street Journal".
"Wall Street é um ambiente tradicionalmente masculino. A estátua diz: 'estamos aqui'", afirmou Visbal ao "Journal".
A estátua acompanha um programa que será apresentado hoje pela State Street Global Advisors. A empresa, que administra ativos avaliados em US$ 3,5 trilhões, começará a exigir das companhias das quais têm ações que incluam mulheres nas suas equipes de direção.
A iniciativa segue o tema central escolhido pela ONU para o Dia Internacional da Mulher: o papel da mulher no novo mundo trabalhista.
"Precisamos dar um salto gigantesco para fechar as lacunas de gênero", disse hoje a vice-diretora da ONU Mulher, Lakshimi Puri, em entrevista coletiva.
Segundo dados da ONU Mulher, apenas 50% das mulheres em idade de trabalhar fazem parte da população ativa no mundo, contra 76% dos homens. Além disso, as mulheres assumem 2,5 vezes mais trabalho não remunerado que os homens.
Puri ressaltou que essa "carga desproporcional" assumida pelas mulheres na família as impede, em muitos casos, de estudar, ocupar empregos ou assumir postos de liderança na política, entre outras coisas.
A diferença salarial entre gêneros é de 23% no mundo, com porcentagens muito mais elevadas em alguns países e setores profissionais, explicou a vice-diretora da ONU Mulher.
Para chamar a atenção sobre esses e outros problemas, a ONU organizará amanhã um evento em sua sede em Nova York com a participação de líderes internacionais, representantes do setor privado e celebridades, capitaneadas pela atriz Anne Hathaway, que fará seu primeiro discurso como embaixadora da ONU Mulher.