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Cultivar o Neguev, meio século de luta contra o deserto

Com mais da metade do território coberto por um solo desértico, Israel se concentrou no desenvolvimento de tecnologias para conquistar o deserto de Neguev

Vista de região do deserto de Neguev, em Israel (Ps2613/Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2014 às 09h35.

Deserto de Neguev - Com mais da metade de seu território coberto por um solo desértico pedregoso, Israel se concentrou no desenvolvimento de tecnologias revolucionárias para conquistar o Neguev e alcançar o sonho do fundador do país, David Ben Gurion.

A hercúlea tarefa procura minimizar a seca e a evaporação por meio da adaptação de cultivos, alguns milenares, a solos quase inexpugnáveis, nos quais a pesquisa se vê obrigada a romper todos os moldes conhecidos na busca de soluções eficazes.

"As condições que temos que enfrentar são de um clima extremo: solos muito pobres, baixas precipitações, altos níveis de evaporação e alta salinidade na água subterrânea", disse à Agência Efe o professor Uri Yirmiyahu, diretor do Centro Gilat de Pesquisa.

O centro, órgão do Instituto Estatal Vulcani de Desenvolvimento Agropecuário, responsável por 70% da inovação neste setor no país, está voltado há décadas à conquista do deserto do Neguev, uma zona de 13 mil quilômetros quadrados.

O deserto se estende desde o balneário de Eilat, nas margens do Mar Vermelho, até a cidade de Ashkelon, ao norte da Faixa de Gaza.

O inóspito clima, com temperaturas que no verão superam os 50 graus, torna quase inviável o surgimento de vegetação, mas pouco a pouco o centro Gilat foi encontrando cultivos capazes de suportar as extremas condições meteorológicas e os adaptou às necessidades do mercado.

Um exemplo é o pimentão verde cultivado no inverno, quando "seu alto preço é ainda competitivo nos mercados europeus", explicou a Maayan Kitron Clabs, do Centro de Pesquisa Arava, outro órgão do Instituto Vulcani.

As técnicas desenvolvidas para o pimentão incluem a mistura da terra com um biogel que captura a água nas raízes da planta, em um efeito similar ao de uma fralda e que reduz o consumo de água de irrigação em 30%.

Após anos de investigação, Israel exporta anualmente cerca de 80 mil toneladas deste tipo de pimentão. E o país continua buscando novos cultivos capazes de suportar a alta salinidade de uma água que deve ser extraída a mais de 1.500 metros de profundidade.

"Buscamos produtos que convivam com a alta salinidade", explicou Yirmiyahu junto a uma vasta plantação de palmeiras tamareiras, uma árvore que, devido à grande evaporação, no deserto israelense requer mil litros de água ao dia quando, no melhor dos casos, as precipitações na zona oscilam entre 50 e 150 milímetros.

Outros projetos de aclimatação em vias de desenvolvimento são o cultivo da espinafre chinesa, de diferentes tipos de olivas e de uma berinjela cujas raízes são aquecidas de forma artificial no inverno para que cresça.

Algumas espécies de oliveira que crescem na região de forma natural há milhares de anos, embora sem rentabilidade, também são objeto de estudos. Além disso, os pesquisadores tentam recuperar uma espécie de palmeira já desaparecida.

"Nossa principal conquista é poder cultivar a 45 graus e em uma terra sem água", declarou Yirmiyahu.

Criado há meio século, o Instituto Vulcani estendeu seus estudos nos últimos anos para as frutas e verduras "funcionais", enriquecidas e adaptadas às necessidades de determinados coletivos, e para um cultivo que aproveita o abrasador sol do Neguev para seu desenvolvimento: as algas.

Situado a 50 quilômetros ao norte do Mar Vermelho, o kibutz Ketura é um dos pioneiros no cultivo de algas unicelulares para produzir a cobiçada astaxantina, antioxidante até dez vezes mais potente que o restante dos carotenoides.

"Cerca de 25% do consumo mundial sai de nossa fábrica AlgaTech, e hoje só se cobre em nível mundial 2% da demanda", afirmou Oren Joresh, membro do kibutz.

Ao lado de uma infinidade de canos de vidro transparente pelos quais flui incessantemente uma água verdosa semeada com a espécie Haematococcus pluvialis, Joresh explicou que esta alga responde ao estresse - por exemplo, falta de alimentação - com a liberação da vermelha e valiosa astaxantina.

Semear o deserto se transformou em praticamente a única alternativa para um país cuja população resiste ao conseguir viver nas sufocantes colinas e leitos secos do bíblico Neguev, um sonho que nem Ben Gurion conseguiu tornar realidade para os seus concidadãos.

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A hercúlea tarefa procura minimizar a seca e a evaporação por meio da adaptação de cultivos, alguns milenares, a solos quase inexpugnáveis, nos quais a pesquisa se vê obrigada a romper todos os moldes conhecidos na busca de soluções eficazes.

"As condições que temos que enfrentar são de um clima extremo: solos muito pobres, baixas precipitações, altos níveis de evaporação e alta salinidade na água subterrânea", disse à Agência Efe o professor Uri Yirmiyahu, diretor do Centro Gilat de Pesquisa.

O centro, órgão do Instituto Estatal Vulcani de Desenvolvimento Agropecuário, responsável por 70% da inovação neste setor no país, está voltado há décadas à conquista do deserto do Neguev, uma zona de 13 mil quilômetros quadrados.

O deserto se estende desde o balneário de Eilat, nas margens do Mar Vermelho, até a cidade de Ashkelon, ao norte da Faixa de Gaza.

O inóspito clima, com temperaturas que no verão superam os 50 graus, torna quase inviável o surgimento de vegetação, mas pouco a pouco o centro Gilat foi encontrando cultivos capazes de suportar as extremas condições meteorológicas e os adaptou às necessidades do mercado.

Um exemplo é o pimentão verde cultivado no inverno, quando "seu alto preço é ainda competitivo nos mercados europeus", explicou a Maayan Kitron Clabs, do Centro de Pesquisa Arava, outro órgão do Instituto Vulcani.

As técnicas desenvolvidas para o pimentão incluem a mistura da terra com um biogel que captura a água nas raízes da planta, em um efeito similar ao de uma fralda e que reduz o consumo de água de irrigação em 30%.

Após anos de investigação, Israel exporta anualmente cerca de 80 mil toneladas deste tipo de pimentão. E o país continua buscando novos cultivos capazes de suportar a alta salinidade de uma água que deve ser extraída a mais de 1.500 metros de profundidade.

"Buscamos produtos que convivam com a alta salinidade", explicou Yirmiyahu junto a uma vasta plantação de palmeiras tamareiras, uma árvore que, devido à grande evaporação, no deserto israelense requer mil litros de água ao dia quando, no melhor dos casos, as precipitações na zona oscilam entre 50 e 150 milímetros.

Outros projetos de aclimatação em vias de desenvolvimento são o cultivo da espinafre chinesa, de diferentes tipos de olivas e de uma berinjela cujas raízes são aquecidas de forma artificial no inverno para que cresça.

Algumas espécies de oliveira que crescem na região de forma natural há milhares de anos, embora sem rentabilidade, também são objeto de estudos. Além disso, os pesquisadores tentam recuperar uma espécie de palmeira já desaparecida.

"Nossa principal conquista é poder cultivar a 45 graus e em uma terra sem água", declarou Yirmiyahu.

Criado há meio século, o Instituto Vulcani estendeu seus estudos nos últimos anos para as frutas e verduras "funcionais", enriquecidas e adaptadas às necessidades de determinados coletivos, e para um cultivo que aproveita o abrasador sol do Neguev para seu desenvolvimento: as algas.

Situado a 50 quilômetros ao norte do Mar Vermelho, o kibutz Ketura é um dos pioneiros no cultivo de algas unicelulares para produzir a cobiçada astaxantina, antioxidante até dez vezes mais potente que o restante dos carotenoides.

"Cerca de 25% do consumo mundial sai de nossa fábrica AlgaTech, e hoje só se cobre em nível mundial 2% da demanda", afirmou Oren Joresh, membro do kibutz.

Ao lado de uma infinidade de canos de vidro transparente pelos quais flui incessantemente uma água verdosa semeada com a espécie Haematococcus pluvialis, Joresh explicou que esta alga responde ao estresse - por exemplo, falta de alimentação - com a liberação da vermelha e valiosa astaxantina.

Semear o deserto se transformou em praticamente a única alternativa para um país cuja população resiste ao conseguir viver nas sufocantes colinas e leitos secos do bíblico Neguev, um sonho que nem Ben Gurion conseguiu tornar realidade para os seus concidadãos.

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