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Cuba promove incentivos salariais para médicos permanecerem no país

Profissionais dizem que reajustes permitem um 'sono mais tranquilo', mas valores ainda são vistos como insuficientes diante da alta recente de preços

Cardiologista Alexey López examina paciente em hospital de Havana (Yamil Lage/Getty Images)

Cardiologista Alexey López examina paciente em hospital de Havana (Yamil Lage/Getty Images)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 15 de fevereiro de 2024 às 17h01.

Alexey López, um cardiologista de 59 anos que trabalha em um importante hospital de Havana, dorme "um pouco mais tranquilo" desde fevereiro, quando o governo começou a promover incentivos salariais para tentar reter seus trabalhadores da saúde. Este especialista, que atende pacientes sob cuidados intensivos, é um dos mais de 400 mil médicos, enfermeiros e técnicos contemplados com estes reajustes salariais, que entraram em vigor no início de 2024.

Os incentivos são para plantões noturnos e de finais de semana, bem como por tempo de casa, atuação em serviços especializados ou de risco e por assumir maiores cargas de trabalho por falta de funcionários.

Isto "ajuda sobretudo a dormir um pouco mais tranquilo, que era o que havíamos perdido, o sono", para poder enfrentar o alto custo do dia a dia, disse López à AFP, na UTI do hospital Calixto García, um dos mais prestigiados da ilha.

A renda mensal deste cardiologista passou de 6,5 mil pesos cubanos (R$ 1.346 reais ou US$ 54) para 17 mil pesos (R$ 3.522 ou US$ 141), segundo a cotação oficial — pela cotação das ruas, do mercado informal, o salário passou de US$ 21 (R$ 104) para US$ 56 (R$ 278).

O vice-ministro da Saúde, Luís Fernando Navarro, contou à AFP que esta medida visa "melhorar de forma abrangente as condições de vida dos trabalhadores".

Mas para a fisioterapeuta Amanda, os 1,4 mil (R$ 290) adicionais que recebeu sobre os 4 mil pesos (R$ 828) que ganhava por mês são insuficientes, o que a faz pensar que terá que "procurar outras opções que gerem renda" para sobreviver.

Apesar da recente medida, López lamenta a falta de insumos e materiais de trabalho na rede de saúde, o que faz com que os médicos muitas vezes tenham que comprar seus próprios estetoscópios e outras ferramentas usadas em atendimentos.

A fuga de profissionais da área para o exterior também é uma preocupação. Para o cardiologista, os aumentos ainda não incentivam o retorno dos que emigraram, e o melhor cenário seria se estes incentivos fossem aplicados diretamente aos salários dos funcionários de saúde para evitar perdê-los na aposentadoria ou nas férias.

Em meio a uma escalada inflacionária desde 2021, quando o governo aplicou uma reforma monetária que não teve os resultados esperados, um pacote de ovos pode custar até 3 mil pesos cubanos (R$ 621), por exemplo.

O vice-ministro da Saúde admite que "talvez este aumento não seja o que pede o atual custo de vida em Cuba" devido ao aumento "permanente" dos preços, mas ressalta que o governo tem feito um esforço para destinar 26% dos gastos públicos à saúde em 2024.

Este setor é o segundo maior em Cuba, atrás apenas da Educação, que também se beneficiou de aumentos salariais.

Entre 2022 e 2023, mais de 40 mil profissionais da saúde abandonaram a profissão para assumir outros empregos com rendimentos melhores ou deixaram o país, segundo dados do Ministério da Saúde.

— Conheço muitos companheiros que se foram, e hoje essas medidas ainda não os incentivam a regressar — disse López, enquanto examinava um paciente.

Com estes estímulos, as autoridades conseguiram proporcionar um alívio aos médicos e professores, os dois "pilares" da Revolução Cubana, antes de implementar uma série de rígidas medidas econômicas anunciadas para 2024, entre as quais um aumento de 500% no preço dos combustíveis.

A prevenção continua sendo o principal trunfo do sistema de saúde cubano universal e gratuito, com 89 médicos por 10 mil habitantes e uma ampla rede de clínicas e consultórios por bairro. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em 2021 a França tinha 33 médicos por cada 10 mil habitantes, um pouco a mais do que os EUA, com 35.

O vice-ministro reconhece que há médicos "para garantir o funcionamento de 100%" das clínicas de bairro, mas "não tanto nos cuidados secundários" nos hospitais de especialidade "e nos cuidados terciários" nos centros de patologias complexas e de alta tecnologia.

A intensificação do embargo dos Estados Unidos contra a ilha, as fragilidades estruturais internas da economia cubana, as limitações de financiamento e o aumento do custo dos insumos no mercado internacional "têm feito com que o sistema (de saúde) funcione em condições de grande tensão", acrescentou.

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