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Kirchner, perto de fechar um ciclo, se abre à conciliação

Presidente da Argentina abriu o novo ano legislativo argentino com um discurso militante e uma oferta de diálogo para recuperar o espírito da conciliação

Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, discursa ao lado do vice-presidente, Amado Boudou, em frente ao Congresso, em Buenos Aires (Agustin Marcarian/Reuters)

Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, discursa ao lado do vice-presidente, Amado Boudou, em frente ao Congresso, em Buenos Aires (Agustin Marcarian/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 2 de março de 2014 às 14h23.

Buenos Aires - Vestida de branco, com sapatos de salto alto e armada com sua habitual ironia, Cristina Kirchner abriu o novo ano legislativo argentino com um discurso militante e uma oferta de diálogo para recuperar o espírito da conciliação.

Superado o luto pela morte de seu marido e antecessor, Néstor Kirchner, e superado também o período de recuperação da neurocirurgia que a afastou da cena pública no fim do ano passado, Cristina Kirchner participou no sábado no Congresso com o discurso bem aprendido, apenas leu alguns dados durante cerca de três horas.

Cristina Kirchner pronunciou sua sétima e penúltima mensagem perante o Congresso em um contexto muito diferente de há um ano, com uma situação econômica incerta, após a desvalorização do peso e a correção de sua política monetária e pressionada por buscar investimento estrangeiro para atenuar a crise energética do país.

A presidente quis mostrar que, apesar do duro revés eleitoral que sofreu em outubro, o kirchnerismo tem ainda força para reunir milhares de simpatizantes na porta do Parlamento, e não tem medo de sentar para dialogar e recuperar o chamado "espírito da concertação".

Assim se conhece na Argentina a iniciativa que impulsionou o falecido ex-presidente Néstor Kirchner em 2006 para facilitar a eleição de sua esposa, Cristina Kirchner, com a integração de candidatos não peronistas.

Uma menção que coincide com a recente designação do antes radical Gerardo Zamora, agora alinhado com o kirchnerismo, como primeiro vice-presidente do Senado. Com isso, ele passa a ser o segundo na linha sucessória da Chefia de Estado, após o vice-presidente, Amado Boudou, investigado por sua suposta relação com escândalos de corrupção.

Para sua aparição, Cristina carregou a agenda com temas econômicos, como o recente acordo com a Repsol e a necessidade de controlar os preços. Porém, não fez qualquer menção à desvalorização, a considerável inflação - 3,7% só em janeiro, que se transformou na maior ameaça para a economia local - e a outros temas delicados como a corrupção, a violência e o narcotráfico, que geraram nas últimas semanas uma ríspida polêmica entre altos funcionários do governo.

Ela não hesitou em falar de um "fim de ciclo" com conquistas que, na sua opinião, não tinham alcançado nos 200 anos de história do país.


Presumiu de uma recuperação do crescimento, que não se reflete nas projeções econômicas, e voltou a prometer uma "revolução energética" que não se produziu ainda e que a presidente baseia na "recuperação" da YPF após a desapropriação de Repsol realizada há dois anos.

A governante exibiu o recente acordo alcançado com a companhia petrolífera espanhola como uma conquista de seu governo, embora não tenha esclarecido por que demorou dois anos para começar a negociar no meio de uma inundação de processos em tribunais internacionais que frearam possíveis investidores estrangeiros.

Ela anunciou no sábado pela noite, através de uma rede social, que já enviou o acordo ao Parlamento para aprovação e, a julgar pelos aplausos que recebeu sua menção no Congresso, o governo não terá problema algum em levá-lo adiante.

Também contará com apoios entre a oposição para aprovar uma lei que regula os protestos na rua, um tema sobre o qual, revelou, falou recentemente com um de seus adversários políticos, o conservador prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, em uma demonstração de sua disposição ao diálogo.

Não faltaram também não citações aos sindicatos em um ano que se apresenta especialmente difícil para as negociações coletivas dos grandes setores, daí as insistentes chamadas da presidente aos empresários para frear a especulação com os preços.

Em política externa, ela falou da esperada denúncia contra a "tentativa de golpe suave" contra Nicolás Maduro na Venezuela, e o reconhecimento dos poucos frutos do acordo com o Irã sobre as investigações pelo atentado contra a Amia que deixou 85 mortos em 1994.

Um "discurso militante", nas palavras do analista Rosendo Fraga, com o qual Cristina Kirchner "volta a reafirmar que não muda nem personalidade, nem ideologia nem estilo".

No entanto, ele se surpreendeu pelo tom moderado e a mensagem conciliadora de Cristina Kirchner, que parece querer aplanar o caminho para transitar da forma mais ordenada possível até o final de seu mandato, em 2015.

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