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Crise na Venezuela faz faltar água nas torneiras

Com o agravamento da crise no país, um caminhão de água pode custar quase 12 vezes mais do que um salário mínimo venezuelano

O Governo venezuelano atribuiu a falta de água a sabotagens ou/e rompimentos de encanamentos pela pressão da água (Bruno Kelly/Reuters)

O Governo venezuelano atribuiu a falta de água a sabotagens ou/e rompimentos de encanamentos pela pressão da água (Bruno Kelly/Reuters)

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EFE

Publicado em 29 de maio de 2018 às 11h20.

Caracas - Dias, semanas e inclusive meses podem se passar sem que os venezuelanos tenham água saindo da torneira de suas casas, uma situação que, segundo diversas análises, é resultado da falta de investimento e manutenção na infraestrutura do sistema hídrico de um país que, para onde se olha, são vistos sinais de crise.

Os venezuelanos, afundados em problemas econômicos e políticos, também devem enfrentar diariamente os conflitos sociais que terminam, quase sempre, se degenerando em pequenos protestos; muitos deles protagonizados por cidadãos que reivindicam água à estatal Hidrocapital, encarregada do fornecimento no país.

Esta situação, que não distingue classes sociais, leva alguns a ter de buscar água em bacias e outros poucos a pagar caminhões cisternas, cujo preço ronda os 30 milhões de bolívares (US$ 375 no câmbio oficial), quase 12 vezes mais do que o valor do salário mínimo, 2.555.500 bolívares (US$ 32).

No caso de Daniela de Oviedo, uma maquiadora de 26 anos e habitante de uma zona de classe média em Caracas, a falta de água por dias em sua casa faz com que tenha que recorrer à casa de seus pais ou sogros para poder lavar roupa ou para "simplesmente" tomar um banho.

A jovem, que em declarações à Agência Efe descreveu esta situação como uma "miséria", também se queixou de que "como a maioria", seus sogros também têm problemas com a água.

E assim em comunidades como Petare, a maior favela de América Latina, os moradores também podem passar meses sem água, segundo denunciaram eles mesmos em distintos protestos e deputados opositores como Miguel Pizarro.

Embora no país tenha ocorrido problemas por água em outras épocas, as pessoas não ficaram semanas sem o serviço que agora está submergido em uma crise, segundo disse à Efe o presidente da Comissão de Ambiente do Parlamento venezuelano, o opositor Luis Parra.

"Não há uma política de reflorestamento das nossas bacias hidrográficas, do parque nacional do qual é fornecido mais de 80% do recurso de água no país", indicou.

Parra garantiu que as "usinas de purificação de água estão, na maioria, desmanteladas por falta de investimento", e este é um recurso que precisa ser "processado" como o estabelece a lei.

Além disso, há "falta de manutenção, falta de uma política de reinvestimento na engenheira, mas também falta de um uso adequado por (parte) do pessoal", acrescentou.

Neste último ponto concorda um ex-presidente da Hidrocapital, José María de Viana, que assegura que há uma "deterioração progressiva nos sistemas de água por falta de reparação e de manutenção preventiva, pois segundo diz, estão sendo operados por pessoal não capacitado.

A Agência Efe tentou sem sucesso entrevistar o ministro de Ecosocialismo e Águas, Ramón Velásquez, para obter informações sobre o problema e do "plano de águas 2018" anunciado no site do Ministério e para o qual foram aprovados 2,8 trilhões de bolívares (US$ 35 mil) para 220 obras em todo o país.

O Governo venezuelano atribuiu a situação a supostas "sabotagens" ou/e rompimentos de encanamentos pela "pressão" da água e, em casos como o do ocidental estado Mérida, houve uma intervenção junto ao responsável hidrológico pelo abastecimento, que responsabilizou o governador daquela região, o opositor Ramón Guevara, pela sabotagem do sistema.

A Administração de Nicolás Maduro também anunciou a aquisição de equipamentos para bombeamento e dessalinização para proporcionar o serviço adequadamente à população.

Desde a Comissão de Ambiente do Parlamento foi criticado este suposto investimento, pois "não se vê refletido" na realidade pois agora há "menos fornecimento de água".

Além disso, todos os especialistas consultados pela Efe concordaram que não se pode atribuir este problema a uma seca porque 2017 foi um ano chuvoso e a Venezuela, com 916.445 quilômetros quadrados, conta com 108 açudes.

Enquanto isso, os venezuelanos instalam tanques de água em suas casas para fazer frente à falta de água e os de classes sociais mais baixas esperam a chuva para apanhá-la.

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