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Crise dos migrantes é lucrativo para as máfias da Bulgária

Situada no meio caminho entre a Turquia e a União Europeia, a Bulgária serve de base para os grupos criminosos que há anos traficam drogas e pessoas


	Refugiados: com a cumplicidade de autoridades corruptas, as vítimas do tráfico são transportadas para países tão distantes como Estados Unidos e Zâmbia, na África
 (Reuters / Bernadett Szabo)

Refugiados: com a cumplicidade de autoridades corruptas, as vítimas do tráfico são transportadas para países tão distantes como Estados Unidos e Zâmbia, na África (Reuters / Bernadett Szabo)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2015 às 17h48.

O caminhão descoberto em agosto na Áustria com os corpos de 71 migrantes tinha placa húngara e o logotipo de uma empresa eslovaca. Mas a maioria dos suspeitos presos são da Bulgária, país onde o tráfico humano é um negócio muito lucrativo.

Situada no meio caminho entre a Turquia e a União Europeia, a Bulgária serve de base para os grupos criminosos que há anos traficam drogas e pessoas.

Dos seis detidos pelo caso do caminhão abandonado em uma estrada na Áustria, cinco eram búlgaros e um afegão.

De acordo com o relatório de 2015 sobre o tráfico de pessoas do Departamento de Estado dos Estados Unidos, a Bulgária é um dos principais "países de origem" e de trânsito de homens, mulheres e crianças, que são muitas vezes vítimas de abuso sexual e trabalho forçado.

Com a cumplicidade de autoridades corruptas, as vítimas do tráfico são transportadas para países tão distantes como Estados Unidos e Zâmbia, na África. Em outros casos, crianças e adultos com deficiência são forçados a mendigar nas ruas de cidades europeias, segundo o relatório.

Graças a seus passaportes de país membro da União Europeia, os traficantes búlgaros se tornaram os principais responsáveis pelo tráfico de milhares de refugiados que tentam entrar na Europa há meses.

"Foi muito fácil transformar as rotas já existentes, criadas pelos traficantes, em canais de contrabando de migrantes, muito vulneráveis ​​e dispostos a assumir riscos", explica à AFP Kamelia Dimitrova, chefe de uma comissão do governo búlgaro de combate ao tráfico humano.

De acordo com Tihomir Bezlov, especialista em criminalidade do Centro para o Estudo da Democracia (CSD) de Sofia, também joga a favor dos traficantes que muitos caminhoneiros da Europa sejam búlgaros (a segunda nacionalidade atrás dos turcos).

"E como são cidadãos da União Europeia, ao contrário dos turcos, pode transitar pela Europa sem visto", diz Bezlov.

Assim, a chegada na região dos Balcãs de mais de 340.000 migrantes até agora este ano é uma grande oportunidade para o negócio dos traficantes búlgaros, uma fonte de preocupação em Bruxelas desde que o país aderiu à UE em 2007.

"A pressão migratória para a Europa significa que os grupos criminosos estão trabalhando porque os benefícios são rápidos", declarou por sua vez a ministra do Interior búlgara, Rumyana Bachvarova.

A maioria dos migrantes chegam primeiramente na Grécia e, em seguida, viajam através dos Balcãs para a Europa Ocidental, muitas vezes com a ajuda de traficantes búlgaros.

Acredita-se que cerca de 30.000 migrantes podem ter entrado na Bulgária através da Turquia, apesar das cercas e da presença policial e militar.

E na Bulgária, o mais pobre país da UE, não são apenas os criminosos que ajudam os migrantes a seguirem para a Sérvia.

Na região de Vidin, na fronteira com esse país, muitas pessoas também estão fazendo dinheiro acompanhando os migrantes em seus carros particulares.

"Serve tudo o que se move, ônibus, barcos, carros, de preferência ônibus, porque se ganha mais dinheiro", explica Vladislav Vlachev, porta-voz da promotoria de Vidin.

"Todos, exceto as avós, estão envolvidas no tráfico", diz ele.

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