Brexit: a decisão do Parlamento deixou o Reino Unido na incerteza. (Led By Donkeys/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de outubro de 2019 às 11h00.
Reino Unido — A 11 dias da data prevista para o Brexit, o Reino Unido enfrenta a incerteza depois que o Parlamento obrigou o primeiro-ministro Boris Johnson a solicitar à União Europeia (UE) um novo adiamento do divórcio.
No sábado (19), os deputados aprovaram uma emenda para que o acordo negociado entre Johnson e Bruxelas para o Brexit não fosse aprovado antes da adoção da legislação necessária para sua implementação, o que ativou uma lei que obrigou o governo a pedir uma nova prorrogação.
Mas a UE recebeu três cartas, das quais a AFP obteve cópia. A primeira, sem assinatura, pede uma prorrogação de três meses. A segunda, assinada por Johnson, afirma que não deseja o adiamento. E a terceira, do embaixador britânico na UE, Tim Barrow, explica que a extensão foi solicitada apenas para cumprir a lei.
"Agora começarei a consultar os líderes da UE sobre a maneira de agir", tuitou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, após uma conversa por telefone com Johnson.
De acordo com Downing Street, o primeiro-ministro conservador também conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com a chanceler alemã, Angela Merkel. A França afirmou que "não interessa a ninguém" um novo adiamento do Brexit.
Para o líder do opositor Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, esta é uma vitória: "Apesar de sua postura petulante e de sua arrogância", Johnson teve que "respeitar a lei". "Seu acordo prejudicial foi derrotado", escreveu no Twitter.
O deputado John McDonnell, responsável por assuntos econômicos no Partido Trabalhista, afirmou que Johnson "deseja minar a primeira carta", que pede o adiamento, com o envio de outra carta "contraditória".
"Até certo ponto é um teatro (…) mas ao mesmo tempo é algo fundamental", declarou ao canal Sky News, ao considerar que o primeiro-ministro não é digno de confiança.
A imprensa conservadora não poupou críticas ao Parlamento.
"Hoje a Grã-Bretanha poderia ter começado a sua cura com o fim do nosso purgatório do Brexit. Ao invés disso, a postura de parlamentares nos submete a um adiamento ainda mais agonizante", escreveu o The Mail on Sunday. O jornal The Sunday Telegraph perguntou: "Por quê não nos deixam sair?".
A lei que obrigou Johnson a pedir o adiamento foi aprovada em setembro para evitar um "no deal" (Brexit sem acordo), algo que o 'premier' havia declarado que estava preparado para fazer, em caso de necessidade, com o objetivo de retirar o Reino Unido da UE em 31 de outubro.
A lei estipulava que se até 19 de outubro o Parlamento não conseguisse aprovar um acordo de saída, o primeiro-ministro deveria solicitar a prorrogação do Brexit para 31 de janeiro de 2020.
Johnson esperava evitar o texto com a aprovação, no sábado, de um novo acordo de retirada negociado com a UE poucos dias antes, mas a Câmara dos Comuns adiou a votação para o início da semana.
A notícia foi recebida com júbilo por centenas de milhares de britânicos que participavam em uma manifestação em Londres para pedir um segundo referendo, com o objetivo de retirar o país da crise iniciada com a consulta de 2016, quando o Brexit venceu com 52% dos votos.
A decisão do Parlamento deixou o Reino Unido na incerteza.
Johnson, que chegou ao poder no fim de julho com a promessa de retirar o Reino Unido da UE a qualquer custo em 31 de outubro, é contrário a qualquer adiamento do divórcio, previsto inicialmente para 29 de março e prorrogado em duas ocasiões.
"Uma nova extensão seria prejudicial tanto para os interesses do Reino Unido e dos nossos sócios europeus, como para nossas relações", insistiu na carta a Tusk. "Devemos levar este processo a sua conclusão", acrescentou.
O primeiro-ministro afirmou que não vai negociar um adiamento com a UE e garantiu que na próxima semana apresentará a legislação necessária para a execução do acordo do Brexit.
O texto negociado com Bruxelas regulamenta as condições de divórcio depois de 46 anos de convivência, permitindo uma saída suave, acompanhada de um período de transição que deve prosseguir ao menos até o fim de 2020.
Sem um acordo, o Reino Unido enfrentaria uma saída "dura", o que faz com que o setor setor econômico tema o caos nas fronteiras, escassez de alimentos e medicamentos e o aumento dos preços, até mesmo uma recessão.