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Coronavírus tirou 1,5 bilhão de alunos das salas de aula em todo o mundo

Educadores enfrentam desafio para garantir que não haja retrocesso no aprendizado de estudantes, principalmente os que vivem em situação de vulnerabilidade

Distanciamento social: aulas em ginásio podem ser tendência com necessidade de manter distância entre os estudantes (Felix Kästle/Getty Images)

Distanciamento social: aulas em ginásio podem ser tendência com necessidade de manter distância entre os estudantes (Felix Kästle/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 24 de maio de 2020 às 08h30.

Última atualização em 24 de maio de 2020 às 08h30.

Há cerca de três semanas, a China, berço do novo coronavírus, deu início a um organizado processo para retomada das aulas após quatro meses de suspensão por conta da pandemia.

Por enquanto, 40% dos estudantes, a maioria do ensino médio, já voltaram às escolas. Para participar das aulas, eles são submetidos a um rígido esquema de aferição de temperatura três vezes ao dia, limpeza de sapatos, troca de máscaras e medidas de distanciamento social.

A preocupação é com uma segunda onda de contaminação, que leve a mais uma quarentena e aprofunde os impactos da covid-19 na educação mundial. A França, por exemplo, registrou 70 novos casos de coronavírus ligados a escolas na semana após 150 mil alunos voltarem às aulas.

Globalmente, 1,5 bilhão de estudantes chegaram a ficar fora das salas de aula por conta da doença, segundo pesquisa realizada pela consultoria Bain & Company e obtida com exclusividade pela EXAME. 

Ao longo dos últimos quatro meses, 191 países adotaram o fechamento generalizados das escolas. Em alguns lugares, como Estados Unidos e Austrália, a decisão foi pelo fechamento localizado.

Na maior parte dos países, a alternativa encontrada para garantir alguma forma de aprendizado foi apostando na educação à distância, mas mesmo com a criatividade dos educadores, o ensino integralmente à distância não conseguirá, nos moldes atuais, substituir o aprendizado presencial, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.

"Todos os esforços educacionais são necessários e desejados, mas eles mitigam o efeito de suspensão das aulas. Por definição, o aprendizado será comprometido em algum grau", diz Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco, organização focada em políticas públicas para educação.

Na avaliação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no documento "Um roteiro para guiar a resposta educacional à pandemia da covid-19 de 2020", as limitações na capacidade de professores e alunos se reunirem fisicamente "provavelmente limitarão as oportunidades de aprendizagem dos alunos durante o período de distanciamento social".

Segundo monitoramento em tempo real da Unesco, agência de educação da Organização das Nações Unidas, no mundo há, ainda, 1,2 bilhão de alunos em casa.

Crianças e jovens vulneráveis

Controlar a evasão escolar e acompanhar o aprendizado dos alunos durante a pandemia da covid-19 são algumas das preocupações dos educadores ao redor do mundo. Para alunos em situação de vulnerabilidade, principalmente, o fechamento das escolas acarreta em altos custos sociais e econômicos.

Em um documento de orientação às autoridades de educação em nível global, a Unesco escreve que a ausência de um aparato escolar "exacerba as disparidades já existentes nos sistemas educacionais, mas também em outros aspectos".

A agência da ONU cita como exemplos aprendizagem interrompida, má nutrição, pais despreparados para educar os filhos em casa, aumento das taxas de evasão escolar, maiores índices de violência doméstica e exploração, além de dificuldades de mensurar e avaliar a aprendizagem à distância.

Não à toa, autoridades de países em desenvolvimento, como o Brasil, precisaram desenhar maneiras de garantir a oferta de merenda escolar, mesmo com a suspensão das aulas. Outra iniciativa necessária foi a de implementar modelos de conteúdo acessíveis para quem não tem internet. 

No mundo, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), ao menos um em cada três jovens, entre 12 e 24 anos, não tem acesso à internet. Só no Brasil, são 4,8 milhões de crianças e adolescentes que não possuem nem um computador em casa.

"Não pude impor uma plataforma específica de aprendizado, porque assim não conseguiria atingir os alunos mais vulneráveis. Hoje, temos aula no YouTube, TV aberta, rádio, podcast, Instagram, Facebook, WhatsApp, tudo que se pode imaginar", diz Felipe Camarão, secretario estadual de Educação do Maranhão. 

O secretário avalia que só será possível mensurar o impacto desse período fora das salas de aulas no pós-pandemia. "Nosso maior receio hoje não é a falta de avanço na educação dos alunos, mas o retrocesso na aprendizagem. Só saberemos daqui um tempo, quando aplicarmos uma prova em toda a rede para avaliarmos o tamanho do prejuízo", diz.

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