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Contra relógio e cansaço, resgate continua no México

Na capital são reportadas dezenas de pessoas desaparecidas que temem estar nos cerca de 40 edifícios que desabaram

México: "Depois de 72 horas suspendem os trabalhos de resgate e começam a demolição" (Henry Romero/Reuters)

México: "Depois de 72 horas suspendem os trabalhos de resgate e começam a demolição" (Henry Romero/Reuters)

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AFP

Publicado em 21 de setembro de 2017 às 21h27.

Contra o tempo e o cansaço, as tarefas de resgate e ajuda continuam nesta quinta-feira na Cidade do México depois do poderoso terremoto de magnitude 7,1 de terça-feira, quando são somados ao menos 272 mortos e a esperança de encontrar sobreviventes começava a minguar.

Junto com a incerteza pelos eventuais sobreviventes, junta-se o esgotamento de muitos dos milhares de voluntários que foram às ruas desde que o início da emergência, ao meio-dia de terça-feira.

Na capital são reportadas dezenas de pessoas desaparecidas que temem estar nos cerca de 40 edifícios que desabaram e onde se concentram os esforços de resgate nesta quinta-feira.

No bairro central Roma, os socorristas batalham em sua tentativa de encontrar ao menos 23 desaparecidos no que foi um prédio de sete andares, e que agora se tornou uma montanha de escombros.

Das ruínas desta construção, as equipes de resgate retiraram até agora 28 pessoas vivas, de acordo com listas publicadas por eles.

Aaron Flores, de 30 anos, observa as tarefas de resgate. Ali estão sua irmã Karen e seu amigo Paulino Estrada, com quem conseguiu se comunicar por chamada de vídeo e por uma mensagem com seus familiares.

"Nos sentimos consternados, desesperados porque não tivemos sinais" de Karen, diz Aaron.

Armando Albarrán, de 49 anos, acredita que sua sobrinha Karina, de 30 anos, esteja viva, no que era o quarto andar.

"Existem indícios de que ainda há pessoas ali. Ao que parece, ela está com vida, pelo que nos informam. E a verdade é que continuamos de pé", declarou à AFP.

A menina que não existiu

Em meio ao caos e depois de mais de 30 horas, o foco midiático foi o resgate de uma suposta menina nos escombros da escola particular Enrique Rebsamen, no sul da cidade.

Mas a Secretaria de Marinha informou nesta quinta que a criança nunca existiu, embora ainda detectem que há uma pessoa adulta com vida.

"Nunca tivemos conhecimento" da versão da menina, disse à imprensa o subsecretário de Marinha do México, Ángel Sarmiento.

Mas o almirante José Luis Vergara, chefe de resgate e fonte de informação na zona, reconheceu que tiveram socorristas reportando sobre essa menina. "Não há nenhum problema em dar essa informação, pode haver erros, estamos em crise", disse Vergara à emissora Televisa.

"Estava completamente certa de que havia uma menina sob os escombros. Eu estava carregando sais e tanques de oxigênio para o ponto exato onde os 'Topos' (grupo de socorristas voluntários) disseram que eu estava sob os entulhos", disse à AFP Aracely Suárez, universitária de 23 anos que já sente o cansaço de mais de dois dias de voluntariado.

No terremoto de 19 de setembro de 1985, que deixou mais de 10.000 mortos, houve um caso similar, o de "Monchito", menino que teria ficado preso com seu avô durante 20 dias nos escombros de uma casa. Apenas foi encontrado o corpo do idoso e jamais se confirmou a existência da criança.

Na escola foram resgatados com vida 11 menores de idade e uma professora, mas morreram 19 crianças e seis adultos.

O último corpo resgatado foi na madrugada e corresponde a uma professora de 58 anos que trabalhava no local.

O resgate do adulto preso continua.

Derrotar o cansaço

A outra batalha é contra o cansaço. No Parque México do bairro Condesa, a bela arquitetura do início do século XX contrasta com a atividade intensa e as pilhas de alimentos acumulados em um improvisado centro de armazenamento.

"Estamos coordenando grupos, embora haja pessoas que estão se desesperando, estamos aguardando", declara Fernando Olea, a cargo de um grupo de ajuda civil.

Pola Díaz, uma das mais famosas "Topos" do México - grupo de socorristas voluntários surgido após o devastador terremoto de 1985 -, pede que as autoridades não parem os trabalhos de resgate.

"Depois de 72 horas suspendem os trabalhos de resgate e começam a demolição(...). Peço que não sejam tão estritos com este protocolo, que haja um pouco mais de flexibilidade", disse Díaz, de 53 anos, à AFP.

O balanço de mortos é de 137 pessoas na Cidade do México, 73 no estado de Morelos, 43 em Puebla, 13 no estado do México, 5 em Guerrero e um em Oaxaca, segundo dados do sistema de Proteção Civil federal e da Prefeitura da cidade.

Inúmeros países deram amostras de solidariedade, com equipes de socorristas de El Salvador, Panamá e Israel que já estão no México.

Um funcionário americano afirmou à AFP que uma equipe de resgate e maquinário pesado partiram na noite de quarta-feira do sul da Califórnia, depois das condolências enviadas por Donald Trump ao presidente Enrique Peña Nieto.

O México está localizado entre cinco placas tectônicas cujos movimentos o convertem em um dos países com maior atividade sísmica no mundo.

Em 7 de setembro, um terremoto de magnitude 8,1, o mais forte em um século no México, deixou 96 mortos e mais de 200 feridos no sul do país, especialmente nos estados de Oaxaca e de Chiapas.

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