Conheça a "Disney de Jinhua", na China, onde o Mickey é o porco panda e um quarto custa R$ 7 mil
Por mais de 7.000 reais, hóspedes podem passar uma noite luxuosa com vista para a criação de porcos — e há uma longa fila de espera para isso
Publicado em 12 de setembro de 2024 às 16h32.
Última atualização em 12 de setembro de 2024 às 18h13.
Jinhua, China* - A poucos quilômetros do centro de Jinhua, uma cidade de 7 milhões de habitantes no Sudeste da China, está a Fazenda Internacional do Porco Panda — ou Porco Two-End Black (Duas Extremidades Pretas). Conhecida como a "Disney de Jinhua", o local, uma propriedade de 80 hectares rodeada por plantações de chá verde, é um grande parque de diversões dedicado a uma dos mais célebres figuras da região: o porco panda, uma raça nobre suína chinesa da qual se faz o presunto e algumas iguarias curadas mais badaladas no país asiático.
O animal ganhou esse apelido por causa das características manchas negras no focinho e na parte traseira de seu corpo, que lembram um urso panda. O nome, extremamente comercial em um país onde a personagem Peppa Pig é celebridade e que tem na carne suína a base de seu consumo de proteína, levou a fazenda a apostar forte na marca. Trata-se de um verdadeiro complexo, com museu, brinquedos para crianças, como trens, piscina, hotel — e até uma suíte especial de luxo com vista para os porcos prestes a serem abatidos e se tornarem embutidos especiais.
Por 8888 yuans (cerca de 7.000 reais na cotação atual), hóspedes podem ficar no quarto, que conta com banheira, cama king size e televisão, para apreciar os animais. Quem se hospeda ali ganha um porco para levar para casa depois.
A estadia inusitada viralizou na China e na Ásia ao longo de 2023. Segundo o jornal South Morning China, foram milhões de visualizações no Douyin, o TikTok da China.
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O tour por entre brinquedos e instalações é feito em carrinhos de golfe cor-de-rosa, ornamentados para se assemelhar a um porco. A propriedade de 80 hectares inclui montanhas ondulantes, jardins de chá verde e florestas de bambu, além de mansões no estilo europeu.
A região é conhecida pelas plantações de ervas para chás, como a do chá verde, que serve de alimentação aos porcos.
A 'Disney de Jinhua', na China, onde o Mickey é o porco panda
A Fazenda Internacional do Porco Panda, na China, é um complexo de criação de suínos, com museu, turismo e até um quarto luxuoso com vista para os animais
Criação milenar
A tradição de criação de porcos na região data de mais 1.000 anos — os chineses criariam porcos há mais de 10.000 anos. No museu da fazenda, há inclusive uma menção a quando o explorador Marco Polo, que desbravou a rota da seda no século XIII, teria levado os produtos do local para a Europa. Há quem diga inclusive a visita do explorador teria inspirado a produção dos famosos Jamón Serrano espanhol e prosciutto de Parma, da Itália.
O porco panda foi introduzido em 1820 na região da atual Alemanha, antes da unificação do país, como um presente da China. Também foi enviado de presente para o Japão e a França entre os anos 70 e 80 do século passado.
A EXAME visitou o complexo, que recebe 1 milhão de visitantes anualmente, segundo a empresa.
A fazenda abate anualmente 20.000 animais, que são criados em ambientes controlados para evitar contágio e garantir a qualidade, a partir de 150 matrizes. Durante um ano, os porcos engordam até atingir entre 65 e 75 quilos, quando passam para o abate. Segundo a empresa, isso garante uma carne mais macia. Depois dessa idade, os porcos passariam a adquirir maior musculatura e o couro endureceria.
Na fazenda, há 13 porcos reprodutores machos, responsáveis por repassar a genética selecionada adiante para 150 porcas reprodutoras. Cada mãe tem em média 28 filhotes por ano, em duas gestações.
Depois de dois meses e meio os filhotes já pesam dezenas de quilos e vão sendo transferidos de sala controlada para controlada na fazenda.
O local onde os animais são criados é conhecido como Baixingji, que significa oito estrelas em chinês. O ambiente é climatizado — com ar condicionado no verão — para uma temperatura próxima a 26 graus celsius, o acesso à água é permanente e os porcos crescem sem estresse ou espremidos, como em grandes produções industriais. E não há o odor tradicional de um chiqueiro.
Na fazenda, há inclusive animais que treinam para performar atividades lúdicas, como acertar bolas em pequenos gols ou andar de skate para entreter os frequentadores do complexo.
É esse animal que dá origem ao presunto Jinhua, um tipo de embutido curado a seco, cujo nome homenageia a cidade onde é produzido. Tradicionalmente, o presunto é preservado em novembro em Jinhua, segundo o governo de Zhejiang, província que abriga a cidade. Após várias etapas de processamento, como salga, imersão, lavagem, secagem, modelagem e maturação, e cerca de meio ano de fermentação, o presunto pode ser colocado no mercado.
Sua produção foi listada como um item do patrimônio cultural imaterial nacional em 2008. Atualmente, Jinhua abriga 78 empresas de produção de presunto, gerando empregos para dezenas de milhares de pessoas.
Suíte com vista para os porcos e casamentos do "ano do porco"
Uma das experiências mais marcantes da fazenda do porco panda é a suíte principal. Por 8.888 yuans (7.000 reais), um visitante pode se hospedar ali por uma noite. Em vez de um céu estrelado ou montanhas, a vista é para o estágio final da criação de porcos. O número "8", na China, é soa parecido com a forma chinesa de escrever "ficar rico". Por isso, até o preço tem um significado, de ficar muito rico.
A suíte luxuosa virou febre na Ásia após a Tianmen New, televisão do estado de Zhejiang, postar um vídeo sobre o local no TikTok chinês, e viralizar.
Funcionários contaram à EXAME que houve tanta procura que a suíte já estava reservada até meados de 2025 e que o proprietário da fazenda não sabia se continuaria a locar o quarto. Além da estadia, os hóspedes ganham um porco depois da experiência. Um desses porcos vale 6.000 yuans e pode fornecer carne para uma família durante um ano, de acordo com um relatório do Economic Daily.
Recentemente, o local voltou a viralizar como ponto de casamento de pessoas que nasceram sob o signo do porco no horóscopo chinês. Segundo o site South China Morning Post, no ano passado, o local sediou mais de 200 casamentos, de acordo com Shen Jianjun, proprietário da fazenda.
Devido ao seu crescimento mais lento, tempo de reprodução mais longo e custos mais altos, além da concorrência de raças estrangeiras, os porcos, que são considerados “bonitos”, estiveram quase extintos, segundo Shen.
Uma noiva que realizou seu casamento no local escreveu no Douyin: “Meu apelido é Panda, o sobrenome dele é Xiong, que significa ‘urso’ em chinês, e ambos nascemos no Ano do Porco. Casar na fazenda Panda Pig parecia destino.”
* Os editores viajaram a convite do China Media Group