Pedro Pablo Kuczynski: se salvou da destituição em dezembro do ano passado - também pedida por seus laços com a Odebrecht (Olivier Douliery - Pool/Getty Images)
EFE
Publicado em 19 de março de 2018 às 20h49.
Última atualização em 19 de março de 2018 às 20h50.
Lima - Parlamentares que apoiam no Congresso a aprovação do impeachment do presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, denunciaram nesta segunda-feira terem sofrido "muita pressão" e que, em alguns casos, até receberam ofertas de dinheiro e obras para as suas regiões para votarem contra a iniciativa.
O legislador César Villanueva, porta-voz da Aliança para o Progresso (APP), declarou que há votos necessários para aprovar a destituição de Kuczynzki no plenário de quinta-feira, mas que "qualquer coisa pode acontecer porque há uma pressão muito forte sobre os congressistas" para votarem contra.
A destituição de Kuczynski pelos supostos vínculos com a Odebrecht pode ser aprovada com 87 votos, de um total de 130 no Congresso unicameral, e, de acordo com a Constituição, o primeiro vice-presidente Martín Vizcarra deveria assumir o cargo.
Em entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros em Lima, Villanueva disse que na terça-feira se reunirá com sua bancada para estudar "uma votação corporativa", ou seja, um voto em bloco a favor do impeachment.
Seu colega da Frente Ampla, Wilbert Rozas, acrescentou que "tem gente que ofereceu dinheiro (aos legisladores indecisos), e obras nas suas regiões".
Rozas citou o caso do congressista Elard Melgar da fujimorista Força Popular, que anunciou que votará contra o impeachment, ao contrário da opinião do restante do partido e que, segundo disse, tem dívidas de dois milhões de sóis (quase R$ 2 milhões) com a Autoridade Nacional da Água.
"Estamos falando de gente com 'rabo preso'. Estão brincando com o destino do país, e o destino do país não passa por essas tramoias", se queixou Rozas.
Alberto Quintanilla, legislador do esquerdista Novo Peru, informou que a sua bancada se reunirá na quarta-feira para confirmar a votação, mas declarou que também esperarão para escutar a defesa de Kuczynski no plenário do Congresso no dia seguinte.
"O mais importante (do pedido de destituição) é que seja um ponto de inflexão para renovar a política no país e o combate à corrupção", afirmou Quintanilla.
O legislador do Ação Popular, Víctor Andrés García Belaúnde, disse que a novidade neste segundo pedido de impeachment apresentado contra Kuczynski "é o lobby e a porta giratória", aparentemente utilizados pelo líder para levar adiante os seus negócios, enquanto fazia parte do governo de Alejandro Toledo.
O pedido de impeachment se baseia nos relatos de depósitos da Odebrecht a contas de empresas de Kuczynski por assessorias financeiras, enquanto era ministro de Economia e titular do gabinete na gestão de Toledo.
Embora o líder tenha negado inicialmente ter tido algum tipo de relação com a construtora, após a divulgação das notícias ele declarou que ergueu uma "muralha chinesa" entre as suas funções públicas e a atividade das suas empresas para evitar conflitos de interesse.
García Belaúnde ressaltou que o cenário mais provável é que Kuczynski seja destituído e que, na próxima sexta-feira, Vizcarra tome posse "com uma recomposição total do governo".
Caso o líder se salve do impeachment, pela segunda vez, "vai a estar mais debilitado e definitivamente não poderá seguir governando", opinou o congressista.
Kuczynski se salvou da destituição em dezembro do ano passado - também pedida por seus laços com a Odebrecht - com os votos de abstenção de um grupo de legisladores dissidentes do fujimorismo, liderados por Kenji Fujimori, o filho mais novo do ex-presidente Alberto Fujimori que cumpria uma sentença de 25 anos de prisão.