Kamala Harris, candidata à Presidência dos Estados Unidos (Brandon Bell/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 7 de agosto de 2024 às 16h42.
Última atualização em 7 de agosto de 2024 às 16h58.
Após a conclusão do turbulento processo de definição da chapa democrata à Presidência dos Estados Unidos, com Kamala Harris e o governador de Minnesota, Tim Walz, a campanha centra esforços em dois estados que serão decisivos na eleição de novembro, Wisconsin e Michigan. Além deles, o vice na chapa de Donald Trump, J.D. Vance, também participará de eventos nos locais, e sinaliza que vai tentar “espelhar” a agenda democrata.
Depois do discurso de apresentação de Walz na Filadélfia, que teve ares de convenção partidária, ele e Kamala seguem para Eau Claire, no Wisconsin, onde serão acompanhados no palco pelo governador, Tony Evers, e pelo grupo indie Bon Iver.
Em Detroit, devem discursar a governadora Gretchen Whitmer, que tem posição de destaque na campanha democrata desde antes da desistência de Joe Biden, e o presidente do United Auto Workers, um dos principais sindicatos dos Estados Unidos, Shawn Fain. Nos últimos dias, a campanha de Kamala recebeu uma série de endossos de entidades sindicais, que tinham se pronunciado anteriormente a favor de Biden, que sempre manteve um diálogo conciso com lideranças dos trabalhadores de diversos setores.
Segundo a campanha, os dois vão “realçar a escolha que está diante dos eleitores da ‘Barreira Azul’ (estados historicamente democratas) entre a agenda Trump-Vance para enfraquecer os sindicatos e oferecer benefícios fiscais aos ricos às custas da classe média, e a visão de Kamala-Walz para o futuro”.
Dentro do sistema eleitoral americano, que segue o modelo do colégio eleitoral, estados considerados sem uma tendência definida, os chamados “pêndulo”, são os principais alvos das campanhas. E apesar do nome, vários dos estados da “Barreira Azul”, que sempre votavam com os democratas, se mostraram terrenos complicados nos últimos anos — em 2016, Trump venceu em vários deles, incluindo o Michigan e o Wisconsin.
Para reiterar esse compromisso com a região, que ainda se ressente de políticas passadas que levaram à desindustrialização e a uma crise econômica e social em determinadas áreas, Kamala lançou a campanha no Wisconsin, e anunciou que os comitês democratas terão mais de 100 escritórios e 400 funcionários, um número “bem maior” do que os da campanha republicana.
A própria escolha de Walz, governador de outro estado-pêndulo, Minnesota, demonstrou como os democratas estão dispostos a usar todas as ferramentas disponíveis para vencer Trump em novembro. No discurso em que foi apresentado na terça-feira, na Filadélfia, o candidato a vice destacou seu passado como professor, veterano da Marinha e congressista, algo que pode quebrar resistências aos democratas em áreas decisivas.
A média das pesquisas elaborada pelo site RealClearPolling aponta Trump em vantagem no Wisconsin e em Michigan, mas analistas destacam que ainda não há uma quantidade adequada de pesquisas que permita avaliar de forma ampla o impacto da candidatura de Kamala. No quadro geral dos EUA, a democrata já aparece à frente do republicano, e com tendência de alta.
Kamala e Walz não estarão sozinhos. O candidato a vice na chapa de Trump, J.D. Vance, tentará “espelhar” as agendas dos democratas, segundo apontou a CNN, como forma de se reapresentar ao eleitorado e forçar comparações após uma sequência de dias complicados. Vance discursou na Filadélfia depois da apresentação de Walz, na mesma cidade, e sua agenda no Wisconsin e no Michigan inclui eventos pequenos, como reuniões comunitárias, e discursos em campi universitários e auditórios. Trump não o acompanhará no palco.
Depois da empolgação após a indicação na Convenção Nacional Republicana, quando exaltou seu passado no chamado “Cinturão da Ferrugem”, uma das áreas onde houve uma rápida e traumática desindustrialização nos EUA, Vance emendou uma série de polêmicas.
Uma delas envolveu declarações feitas ao então âncora da Fox News, Tucker Carlson, em 2021, quando chamou deputadas democratas e integrantes do governo Biden de "bando de solteironas dos gatos sem filhos que estão infelizes com suas próprias vidas e com as escolhas que fizeram e, portanto, querem tornar o resto do país infeliz também".
Depois que as gravações foram recuperadas, Vance tentou se desvencilhar, dizendo que tinha sido apenas uma brincadeira, e foi apoiado por sua mulher, Usha Vance, que usou o mesmo argumento, mas não teve muito sucesso. Ele foi atacado por feministas, políticas democratas e atrizes de Hollywood, incluindo Jennifer Aniston — um grupo de mulheres, autointutulado “Solteironas dos Gatos”, levantou quase US$ 360 mil (R$ 2,01 milhões) em doações para a campanha de Kamala Harris.
A ligação com o chamado Projeto 2025, um conjunto de propostas conservadoras que inclui limitações ao aborto, a concentração de poderes na Presidência e o corte de verbas ambientais, também preocupa a campanha de Trump, que tem tentado se desvencilhar publicamente do plano. O vice republicano tem uma relação próxima com Kevin Roberts, diretor da Heritage Foundation, que elaborou o Projeto 2025, algo ressaltado por Walz na terça.
"Vance literalmente escreveu o prefácio [do livro a ser lançado em 2025] para o arquiteto do Projeto 2025", afirmou o candidato a vice na chapa democrata, na Filadélfia, completando que “mal pode esperar” por um debate entre os dois.