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Com esgotamento do chavismo, Maduro enfrenta desafio mais difícil nas urnas desde 2013

Para votação em 28 de julho, pesquisas apontam favoritismo de González Urrutia, diplomata aposentado que representa ala mais dura e radical da oposição venezuelana

 (Miguel Gutiérrez/EFE)

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Agência o Globo
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Publicado em 21 de julho de 2024 às 09h19.

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Falta apenas uma semana para a eleição presidencial mais difícil que o chavismo enfrentará desde a morte de seu líder, Hugo Chávez, em março de 2013. No poder como presidente eleito desde abril daquele ano, Nicolás Maduro, o nome escolhido por Chávez em seus últimos meses de vida para ser seu sucessor, disputará pela segunda vez a reeleição contra 12 candidatos opositores.

De todos, o único que representa uma ameaça à continuidade do chavismo após 25 anos de dominação hegemônica da política venezuelana é o diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos, candidato da oposição mais dura e radical ao Palácio Miraflores. Um desconhecido para os venezuelanos até abril passado, quando, em meio a um conturbado processo de registro de candidaturas, terminou se transformando na esperança dos que querem uma real e profunda mudança no país.

O diplomata aposentado, que jamais imaginou disputar uma eleição presidencial, lidera as pesquisas impulsionado pela onda de seguidores da líder opositora María Corina Machado, inabilitada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e perseguida pelo governo Maduro — vários de seus colaboradores foram presos nos últimos meses. Em muitas das sondagens que circulam pelo país, González Urrutia tem entre 40% e 50% das intenções de voto, enquanto Maduro aparece com pouco mais de 20%. Os demais 11 candidatos não superam, juntos, 10%, aponta Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV).

Campanha atípica

Decidida pelo voto eletrônico, a eleição venezuelana não tem segundo turno.

"O chavismo tem uma base dura de cerca de 30%. Se a oposição conseguir que a participação seja elevada, tem altas chances de vencer. Tudo dependerá das jogadas do governo antes do domingo 28 e de como isso impactará na decisão de votar ou não das pessoas", afirma Romero.

A curta campanha eleitoral venezuelana é uma das mais atípicas das últimas décadas. O principal candidato opositor está ausente dos grandes meios de comunicação, não tem recursos para fazer propaganda na via pública e depende, unicamente, da força das redes sociais. María Corina, a grande protagonista da campanha opositora, enfrenta todo tipo de dificuldades para circular pelo país, de bloqueio de túneis a prisões de comerciantes que se arriscam a lhe oferecer um quarto de hotel ou uma comida num restaurante.

Já Maduro percorre o país com um discurso tipicamente chavista em defesa da autoproclamada revolução bolivariana e contra a oligarquia que, como costumava dizer Chávez, se apropriou do país. “Não voltarão”, diz o presidente venezuelano em seus comícios, enquanto González Urrutia e María Corina contam os dias para, em suas palavras, “recuperar a liberdade”.

A sensação entre analistas venezuelanos é de que o fenômeno de González Urrutia está diretamente relacionado ao esgotamento do chavismo. Existem duas novas gerações que não viveram os anos de ouro de Chávez e não querem mais um chavismo com Maduro no Palácio Miraflores. As gracinhas do presidente, que para muitos tenta imitar o falecido líder bolivariano, não só não funcionam mais, como irritam amplos setores chavistas.

"Em grupos com foco em eleitores chavistas, ouvimos as pessoas dizerem que se incomodam quando Maduro dança, que ele é pouco sério e não sabe governar o país", diz o analista Oswaldo Ramírez Colina, diretor da ORC Consultores.

Desejo de mudança

O desejo de mudança, acrescenta Colina, é o sentimento predominante entre chavistas e opositores. A diferença, explica o analista, “é que os chavistas querem mudar mantendo o status quo deixado por Chávez, com um Estado forte e clientelista”.

"A campanha de Maduro frisa conceitos como lealdade, transformação e novos rumos. O problema é que o presidente perdeu credibilidade", afirma Colina.

O analista observa um “divórcio” entre Maduro e amplos setores da sociedade, até mesmo os que recebem ajuda estatal. Recentes declarações do chefe de Estado afirmando que, se não vencer, seu país será cenário de uma guerra civil refletem o grau de nervosismo que predomina no Palácio Miraflores. Em paralelo, a usina de rumores na Venezuela está a todo vapor, e fala-se em risco de fraude, cancelamento das eleições e não reconhecimento de uma eventual vitória da oposição.

A Venezuela tem oficialmente 21 milhões de pessoas habilitadas a votar. Estimativas de analistas indicam que 4 milhões de pessoas poderiam ter se registrado em consulados no exterior, mas, pelas rigorosas exigências do governo, menos de 70 mil poderão votar no dia 28.

Enquanto María Corina denuncia ataques e um cerco cada vez mais apertado à campanha opositora, Maduro e seus colaboradores estão em busca de votos perdidos nos últimos anos, por exemplo, entre os evangélicos, que, segundo estimativas privadas, representam entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de eleitores.

"Sou um homem de fé, aprendida na luta da vida e crescendo", disse o presidente em recente “ato cristão de arrependimento”.

Bônus ‘Bom Pastor’

Maduro, que conta com recursos infinitamente superiores aos de qualquer candidato na campanha, lançou iniciativas como o bônus “Bom Pastor”, um subsídio mensal de cerca de US$ 12 (R$ 65,6) para 20 mil pastores de igrejas cristãs. Segundo a pesquisa da ORC, cerca de 34% dos evangélicos são eleitores de Maduro e 20% poderiam optar por González Urrutia.

A campanha da oposição tem um foco totalmente diferente. Nem María Corina nem González Urrutia prometem programas sociais ou qualquer tipo de ajuda econômica. Praticamente não se fala em economia nos comícios nos quais ambos participam e que costumam mobilizar milhares de pessoas no interior do país. As propostas se centram na promessa do reencontro de famílias fraturadas pelo êxodo de milhões de venezuelanos nos últimos anos, na reconciliação nacional e reconstrução do país.

Dados oficiais indicam que mais de 50% dos venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza, um nível crônico. A classe média é a mais castigada pela dolarização de fato da economia, que elevou os preços internos a níveis similares — ou até superiores — aos de qualquer cidade nos EUA ou Europa. Esse panorama já está normalizado entre os venezuelanos não beneficiados pelo chavismo, por isso a oposição mais dura ao governo apostou em um discurso emocional, que apela ao drama do exílio e, com ele, enfatiza Ramírez Colina, “venceu a batalha nas ruas e nos corações das pessoas”.

Desfecho em suspense

A dúvida que paira sobre a Venezuela é o que acontecerá na noite do dia 28, e a partir da segunda 29 de julho. O analista Leopoldo Puchi traçou diferentes cenários pós-eleitorais, e todos são desafiadores.

"A aceitação dos resultados não será um processo simples nem automático. Dependerá da reação de todos os atores, dentro do chavismo e entre os que apoiam a oposição, como o governo americano", afirma Puchi.

O analista acredita que se Maduro for proclamado vencedor, a Casa Branca não o reconhecerá imediatamente.

"Por outro lado, se o CNE disser que González Urrutia venceu, haverá tensão em setores do governo, que não vão querer aceitar", diz Puchi, que conhece como poucos o mundo chavista.

Sem observadores internacionais com experiência e credibilidade, à comunidade internacional, como disse o assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-chanceler Celso Amorim, restará ter de confiar no CNE. Em 2018, a primeira reeleição de Maduro não foi reconhecida por mais de 50 países, entre eles o Brasil.

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