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Com ascensão do QAnon, eleição dos EUA é alvo de teorias da conspiração

Movimento QAnon ganhou força em 2020 e coloca Donald Trump como salvador em uma guerra secreta contra satanistas e pedófilos

QAnon: movimento ganhou força em 2020, principalmente com o crescimento das redes sociais (Bloomberg/Getty Images)

QAnon: movimento ganhou força em 2020, principalmente com o crescimento das redes sociais (Bloomberg/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de novembro de 2020 às 09h51.

Última atualização em 2 de novembro de 2020 às 09h52.

A teoria conspiratória conhecida como QAnon nasceu na internet. Segundo a narrativa, Donald Trump é o salvador que luta em uma guerra secreta contra um Estado profundo globalista, contra empresários como George Soros, democratas, mídia e até Hollywood para defender a nação de satanistas e pedófilos. Às vésperas da eleição, candidatos republicanos propagam a teoria e estudos mostram que o tema tem influencia sobre o voto.

Levantamento coordenado por Emilio Ferrara, professor da Universidade do Sul da Califórnia, aponta que contas automatizadas têm um trabalho importante na amplificação de teorias conspiratórias. Os robôs representam 13% dos endereços virtuais que espalham teorias de conspiração relacionadas à eleição de alguma forma.

Pesquisadores analisaram 240 milhões de tuítes ligados à eleição presidencial, por meio da busca por palavras-chave e menções aos candidatos. As publicações foram feitas entre 20 de junho e 9 de setembro. A conclusão é que as contas automatizadas podem aumentar em muito a distribuição de teorias conspiratórias, sobre coronavírus, eleição e QAnon.

Segundo o estudo, os endereços que compartilham teorias conspiratórias são "significativamente mais propensos" a tuitar ou retuitar postagens de veículos de extrema direita, como o One America News Network (OAN), Infowars e o Breitbart, site fundado por Steve Bannon, o ex-estrategista de Trump.

"Mais de 20% das contas que compartilham conteúdo dessas plataformas partidárias são robôs. E a maioria dessas contas distribui conteúdo relacionado a teorias da conspiração", afirma Ferrara, em artigo no site The Conversation.

"Quase quatro anos depois que meus colaboradores e eu revelamos como as contas automatizadas do Twitter estavam distorcendo as discussões eleitorais online em 2016, a situação não parece melhor. Isso apesar dos esforços de legisladores, empresas de tecnologia e até mesmo do público para erradicar as campanhas de desinformação nas redes sociais", complementa.

As plataformas de redes sociais tomaram medidas para conter a propagação da narrativa. Em outubro, o Facebook anunciou que eliminaria todas as páginas do QAnon, mas ainda é muito fácil encontrar no ar grupos e páginas que divulgam postagens com a teoria.

Twitter e Reddit já tinham adotado medidas semelhantes. Mesmo antes do banimento completo, no entanto, as páginas ligadas ao QAnon já adotavam estratégias para dificultar a sua identificação e sobreviver nas redes.

Levantamento da organização Advance Democracy, divulgado pela NBC, aponta que 2 em cada 25 tuítes com a hashtag #voterfraud (fraude eleitoral) foram gerados por contas ligadas ao QAnon, amplificando a ideia defendida por Trump de que a eleição será fraudada.

É comum ouvir teorias de conspiração em entrevistas com eleitores de Trump, especialmente os que se identificam com a personalidade do presidente e não necessariamente com versão tradicional do Partido Republicano.

Trump se recusa a condenar a teoria e chegou a dizer que os seguidores do QAnon "lutam" contra a pedofilia e são pessoas "que amam o país". Há casos de seguidores do movimento indiciados por sequestro, terrorismo doméstico e assassinato.

 

A aposentada Martha Mason, que vive no Estado da Geórgia, por exemplo, acredita que há um complô articulado por Soros com a ajuda de Hollywood contra os EUA. "Eu realmente acho que existem pessoas que buscam uma vingança. E George Soros é uma delas", afirma Martha, que diz ter ouvido falar de QAnon, mas não saber o que significa, apesar de replicar parte da tese.

Em junho, o instituto Pew Research Center apontou em pesquisa que a maioria (71%) dos americanos ouviu teorias conspiratórias sobre a circulação do vírus que alegam que a pandemia foi intencional. Um em cada quatro americanos vê alguma verdade nisso - e a tendência é de que mais republicanos acreditem nas teorias do que democratas.

Entre os republicanos, 34% veem a chance de teorias conspiratórias sobre a pandemia serem verdadeiras. Entre democratas, a porcentagem cai para 18%.

A Geórgia é um Estado onde a teoria QAnon extrapola as redes sociais e ganha contornos oficiais. Marjorie Taylor Greene, candidata republicana à Câmara no 14.º Distrito, defendeu abertamente ideias ligadas ao QAnon. Pelas projeções do site Five Thirty Eight, ela deve ser reeleita.

A eleição, porém, colocou as narrativas conspiratórias oficialmente dentro do Partido Republicano. Há dezenas de candidatos que explicitamente defendem o QAnon. Segundo a associação Media Matters, 31 candidatos com campanhas ativas ao Congresso - todos republicanos - demonstraram alguma ligação com a teoria.

Filhos e assessores do presidente já compartilharam nas redes sociais publicações relativas ao QAnon. Donald Trump Jr., filho mais velho do presidente, fez eventos ao lado de Charlie Kirk, um dos agitadores políticos da extrema direita mais bem sucedidos nas redes sociais. O jovem de 26 anos, próximo da família Trump, ele abriu a convenção republicana deste ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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