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Com 27 mortes e 932 casos, Uruguai é referência em luta contra covid-19

Autoridades e especialistas elogiam o "modelo uruguaio" de combate ao coronavírus. Medidas de isolamento foram adotadas no início da pandemia no país

No Uruguai, acabou a lua de mel com o recém-eleito Luis Alberto Lacalle Pou (Ernesto Ryan/Getty Images)

No Uruguai, acabou a lua de mel com o recém-eleito Luis Alberto Lacalle Pou (Ernesto Ryan/Getty Images)

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AFP

Publicado em 1 de julho de 2020 às 10h01.

Última atualização em 1 de julho de 2020 às 19h11.

Logo bem cedo pela manhã e sem alterar seu horário de trabalho em meio a uma pandemia, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, veste sua roupa de neoprene para surfar, algo que não fazia desde que assumiu o cargo em março passado. 

A imagem dessa sessão secreta de surf, há duas semanas, foi divulgada na imprensa local nesta terça-feira (30), no mesmo dia em que a União Europeia incluiu o Uruguai como o único país latino-americano na lista de nações para as quais reabrirá suas fronteiras em julho.

O momento de lazer do chefe de Estado de 46 anos, que disse ter "matado a vontade" de surfar, horas depois de uma reunião oficial, resume a filosofia com a qual seu governo enfrenta a pandemia: "Liberdade" e "responsabilidade".

Os mais céticos alertam que a batalha contra o coronavírus está longe de ser vencida e se perguntam se esse pequeno país, além das vantagens inerentes de uma baixa densidade populacional, realmente fez as coisas melhor do que seus vizinhos.

Lacalle Pou garante que priorizou "a liberdade do indivíduo" contra um "regime policial" da quarentena compulsória.

A população de 3,4 milhões de habitantes respondeu com "comprometimento exemplar". E os funcionários públicos mais bem pagos aceitaram um corte salarial temporário de até 20% para um fundo de crise.

Com um total de 27 mortes e 932 infecções desde meados de março, incluindo apenas 83 casos ativos, o Uruguai também se tornou o primeiro da região nesta semana a retomar aulas presenciais em todos os níveis de ensino.

Em sintonia com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atenta para sinais de possíveis contratempos, nem autoridades nem especialistas se atrevem a declarar vitória.

Mas ambos comemoram esse "modelo uruguaio", que após o terceiro mês devolveu à sua população uma vida semelhante à normalidade.

No início da epidemia, apenas quatro casos motivaram o fechamento de fronteiras e a suspensão das aulas.

De acordo com o infectologista pediátrico Álvaro Galiana, "o aparecimento precoce de casos altamente socialmente conectados, em um momento em que a circulação viral era muito baixa, levou à adoção de medidas apropriadas, mesmo que pensassem que eram exageradas, justamente quando as aulas começaram".

Para isso, ele acrescenta um sistema de saúde com atendimento domiciliar de casos e ausência de multidões em espaços fechados. Não apenas pela ausência de metrôs ou trens de passageiros na capital, mas também por um tempo benevolente que incentivou as atividades ao ar livre.

Henry Cohen, o renomado médico que coordena o grupo consultivo de cientistas do governo, acrescenta à fórmula bem-sucedida da decisão política e sua resposta, a ação do setor científico: "Em fevereiro, eles começaram a trabalhar nos primeiros testes de PCR, que alcançaram rapidamente resultados, em qualidade e quantidade suficiente, acima do que o país precisa hoje.

O Uruguai aproveitou a oportunidade para promover a entrada de migrantes e investimentos.

Hoje em dia, num dos principais pontos turísticos do país, Punta del Este, um destino de férias por excelência, os expatriados encontram residentes ocasionais que escapam do confinamento em Buenos Aires.

Diego Nofal, 34 anos, veio de lá há três anos para trabalhar e ficou.

"Seja para abrir um negócio ou segurança, tudo é mais racional. Tudo é mais difícil", diz o argentino que voará para Madri na segunda-feira. Ele voltará em outubro, junto com a namorada.

"O inverno será com o coronavírus ainda presente; será melhor buscar refúgio aqui novamente."

A Iberia retomará voos diretos entre Montevidéu e Madri a partir do próximo domingo, para uruguaios e residentes.

Mas as fronteiras permanecem fechadas, disse o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Talvi, nesta terça-feira, que esclareceu que estão sendo feitos progressos em "coordenação e reciprocidade para que haja uma abertura bilateral" com a UE.

Queda amenizada

O Uruguai optou por uma ação gradual e sem interromper a economia. A indústria da construção foi retomada em abril. Depois, cafés e restaurantes, e em maio reabriram as academias. Junho marcou o retorno dos shopping centers e a autorização de shows públicos sem multidões. E o futebol, a paixão nacional, retornará no dia 15 de agosto, sem  público.

A avenida 18 de Julio, em Montevidéu, recuperou o barulho. Na avenida costeira, a mobilidade livre com baixo risco permitiu a presença de corredores e pescadores. Contra as recomendações, alguns arriscam compartilhar um chimarrão.

Ainda assim, a economia uruguaia foi atingida: há 200.000 trabalhadores desempregados contra 10.000 pré-pandemia, e uma queda de cerca de 3% do PIB está projetada para este ano.

Um pequeno impacto, comparado com a previsão do FMI de -9,4% para a América Latina.

Planos interrompidos

Facundo Caballero, 29 anos, suspendeu seus planos desde que seu voo para Paris foi cancelado em março. Lá, sua namorada espera por ele, enquanto o tempo de seu visto termina sem aventuras.

"Estou esperando que eles me digam 'você pode ir' e vou embora. Porque, se não, quem sabe se há um novo contágio e eu tenho que ficar de novo", afirma, ansioso.

Por outro lado, Valentina Morais, uruguaia de 30 anos, chegou da Itália em outubro para o verão e planejava voltar em abril.

"Tenho o privilégio de estar aqui", declara a jovem que, depois de conseguir um emprego, hesita em usar a passagem que foi alterada para julho.

As agências de turismo, segundo Graciela Suaya, diretora da Compañía del Sur, percebem um interesse maior: "Mas há uma distância entre o grande desejo de viajar e a possibilidade real", esclarece

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