Com 2.000 respiradores, mortalidade no Chile é 3 vezes menor que no Brasil
Mesmo com menos de cem respiradores por milhão de habitantes, o país tem uma das menores taxas de mortalidade da América do Sul
Matheus Doliveira
Publicado em 18 de maio de 2020 às 20h16.
Última atualização em 18 de maio de 2020 às 20h29.
Contando exatamente 1912 respiradores hospitalares para uma população de 19,5 milhões de habitantes, o Chile entrou em modo de guerra para evitar que seu sistema de saúde fosse engolido pela pandemia de coronavírus. A tática de aplicar testes massivamente, mais de15.000por dia, vem garantindo ao país uma das menores taxas de mortalidade pela doença na América do Sul, cerca de 25 mortes por milhão de habitantes. Na mesma métrica, o Brasil registra 77 mortes por milhão de habitantes, três vezes mais que o país vizinho.
Até o dia 18 de maio, de acordo com os dados mais recentes divulgados pela secretaria de saúde pública chilena, o país contava46.059infectados e 478 mortes. Para efeito de comparação, a Argentina, um dos primeiros países latino-americanos a adotar medidas severas para controlar a propagação do vírus, conta hoje com pouco mais de8.068infectados e 373 mortes, número de óbitos próximo ao chileno, que, no entanto, tem 5 vezes maisinfectados. Ainda assim, proporcionalmente, a Argentina tem 8 mortes por milhão de habitantes, o melhor cenário da região.
Para proteger seu calcanhar de Aquiles, a pouquíssima oferta de respiradores hospitalares, o Chile seguiu o bom exemplo de países como a Nova Zelândia: adotou medidas de isolamento social muito cedo e entendeu a importância dos testes em massa. No 18 de março, quando o país contava menos de 250 infectados, o presidenteSebástianPiñeradeclarou estado de exceção por catástrofe em todo o território chileno. Desde então, o país já realizou mais de380.000testes, cerca de19.952por milhão de habitantes, segundo a base de dadosworldometers.
Segundo o Ministério da Saúde do Chile, o país conta hoje com 1912 respiradores para toda a população. No Brasil, apenas para o enfrentamento da crise de coronavírus, o governo federal prometeu entregar14.100novos respiradores além dos já existentes. Até agora, no entanto, apenas 6% do montante,2.600ventiladores, foram entregues.
O alto percentual de testes que o país vem realizando é a principal pista de como o Chile está conseguindo manter uma taxa de mortalidade bem menor do que a dos países vizinhos ─ mesmo que, nos últimos dias, o aumento no número de infecções e mortes tenha acendidosinal dealerta por parte das autoridades locais.
Em relação ao Brasil, uma das maiores vantagens do país vizinho é o tamanho de seu território e a concentração de seus casos. Enquanto por aqui a pandemia se divide em três grandes focos ─ São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas ─, no Chile, 70% de todas as infecções estão na capital Santiago.
Mesmo com casos mais concentrados, o país é um exemplo na realização de testes. Em relação ao Brasil, que realiza 3,462 exames por milhão de habitantes, o Chile testa pelo menos 5 vezes mais. A disparidade dos números é também um dos maiores indicadores sobre a diferença de moralidade nos dois países. Embora em números absolutos o Brasil ocupe a13° posiçãonorankingde exames realizados, cerca de735.000, proporcionalmente somoso 110° em testes por milhão de habitantes.
Batalha de Santiago
No balanço mais recente da pandemia, o governo chileno registrou2.278novos casos e 28 mortes, números que vem que aumentando nos últimos dias. Segundo as autoridades locais, além da escassez de respiradores, o nível de ocupação total dos hospitais do país está em 81%. Em Santiago, que concentra mais da metade de todas as infecções do país, 91% dos leitos já estão sendo utilizados.
Para evitar um colapso no sistema de saúde de Santiago, desde às 22 horas locais da última sexta-feira a metrópole entrou em lockdown, adotando as medidas mais rígidas desde o início da pandemia. Um efetivo de 14 mil soldados está garantindo o cumprimento de um toque de recolher que vai das 22h às 5h. O governo local estima que o confinamento obrigatório impactará 70% das atividades da região. Os cidadãos que precisam sair de casa para trabalhar ou fazer outras atividades, como comprar alimentos, são obrigados a apresentar uma licença individual de circulação à polícia.
Além de evitar que novos grandes focos da doença apareçam fora de Santiago, a ideia do governo local é frear o número de novas contaminações. O presidenteSebastiánPiñeradisse que o país precisará do “compromisso de cada chileno” para enfrentar a crise. O Ministro da Saúde, JaimeMañalich, disse que"se a Batalha de Santiago não for levada a sério, a guerra contra o Covid-19 será perdida”.
Embora fique atrás apenas doBrasile do Peru em número de infectados, por ora, as medidas adotadas pelo Chile vem conseguindo garantir uma taxa de mortalidade três vezes menor do que nos países vizinhos.