Ciro: desafio do próximo governo é fortalecer indústria
O deputado federal e ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PSB-CE), que já assumiu publicamente a intenção de ser candidato à Presidência da República, adotou um discurso um pouco mais moderado em relação à condução da política econômica e afirmou que a preocupação com a evolução da dívida pública deixou de ser "protagonista" em seu plano […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h44.
O deputado federal e ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes (PSB-CE), que já assumiu publicamente a intenção de ser candidato à Presidência da República, adotou um discurso um pouco mais moderado em relação à condução da política econômica e afirmou que a preocupação com a evolução da dívida pública deixou de ser "protagonista" em seu plano de governo. No passado, declarações de Ciro sobre a necessidade de negociação da dívida pública federal foram entendidas como uma defesa de calote. E, de certa forma, contribuíram para enfraquecer sua candidatura. Agora, diz ele, a dívida pública retomou uma trajetória declinante, mostrando que a realidade melhorou.
Assim, afirmou, a hora é de trabalhar uma proposta de fortalecimento industrial, que reforce a competitividade do Brasil no mercado externo. Esse é o desafio do próximo governo, que deverá ser combatido com instrumentos diplomáticos, legislação de propriedade intelectual e também com o câmbio. "O Brasil está perdendo espaço no mercado internacional de manufaturados. Há um hiato tecnológico e falta um projeto nacional para resolver isso", afirmou o deputado, após entrevista concedida hoje à TV Estadão.
Sobre o câmbio, apontado por exportadores como uma das fontes de perda de competitividade externa, Ciro diz que o regime flutuante é o mais correto, mas desde que não seja apenas "um mito". "Hoje, esse regime está sujo por causa da estratégia do Banco Central, que mantém a taxa de juros do Brasil como a mais alta do mundo", afirma. "O Brasil remunera como ninguém e traz um fluxo cambial gigantesco", afirma.
Ciro rebate a afirmação de que os juros no Brasil são elevados por causa da política fiscal frouxa, que amplia os gastos do governo e força o BC a adotar uma política monetária mais contracionista. "Não aceito esse argumento", afirma. "Desafio que apontem onde estão sendo feitos gastos desnecessários", diz, acrescentando que já fez exercícios que comprovaram que uma economia importante nos gastos públicos, de bilhões de reais, só seria possível com ajustes em três áreas: Previdência, servidores públicos e transferências governamentais, como o Bolsa-Família. "O que tem de ser cortado é o gasto com o juro da dívida.
Sobre o regime de metas de inflação, que baliza as decisões de política monetária, Ciro diz que esse é um instrumento que "não faz mal, mas que precisa ser discutido". Ele afirma que o sistema de metas foi "introduzido às pressas " pelo então presidente do BC, Armínio Fraga, como uma forma de ancorar a confiança, abalada pela desvalorização cambial.
O problema do regime, segundo Ciro, é que o BC adota ações contracionistas - como a elevação dos depósitos compulsórios - diante de "miragens" de inflação, como a que foi observada em janeiro e fevereiro. Mas o deputado não quis apresentar qualquer proposta alternativa ao sistema. "Vá perguntar para o Serra", afirmou, ao encerrar a entrevista.
Ciro afirma que já começou a levantar nomes que possam ser convidados para sua equipe econômica. Dentre eles, nomes possíveis são o do atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que também é filiado ao PSB, e de Carlos Lessa, que também ocupou o comando do BNDES. "Mas estou mapeando gente nova também.