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China rejeita críticas sobre morte do Nobel da Paz Liu Xiaobo

Diante das críticas de dirigentes estrangeiros, o porta-voz da diplomacia chinesa afirmou que a condenação não tem "nada a ver com a liberdade de expressão"

Liu Xiaobo: a China foi criticada por vários países pela morte do ativista (NTB Scanpix/Audun Braastad/Reuters)

Liu Xiaobo: a China foi criticada por vários países pela morte do ativista (NTB Scanpix/Audun Braastad/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de julho de 2017 às 09h33.

Última atualização em 14 de julho de 2017 às 09h56.

A China reagiu duramente às críticas de governos estrangeiros, nesta sexta-feira (14), um dia após a morte do dissidente Liu Xiaobo, mas não descartou claramente a eventual libertação da viúva do Prêmio Nobel da Paz, a poetisa Liu Xia.

O governo chinês fez um protesto oficial frente a Estados Unidos, Alemanha, França e Nações Unidas, informou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

Detido há mais de oito anos por "subversão", o opositor político faleceu na quinta-feira (13), aos 61 anos, vítima de um câncer de fígado em estágio terminal.

Foi posto em liberdade condicional no Hospital Universitário de Shenyang, onde estava recebendo cuidados. Pequim se recusou a autorizar sua viagem para que fosse tratado fora do país.

Vários dirigentes estrangeiros, entre eles o americano Donald Trump, o francês Emmanuel Macron e a chanceler alemã, Angela Merkel, prestaram uma homenagem a Xiaobo.

O porta-voz da diplomacia chinesa rejeitou as críticas e disse que são ingerências nos assuntos internos do país, afirmando que a condenação de Liu Xiaobo não tem "nada a ver com a liberdade de expressão".

Além disso, acrescentou o porta-voz, a concessão do Nobel a Liu Xiaobo em 2010 constituiu uma "blasfêmia" por terem premiado um "preso condenado conforme as leis da China".

"Conceder o prêmio a uma pessoa assim contradizia o próprio objetivo do prêmio. O Prêmio Nobel da Paz foi uma blasfêmia", acusou o porta-voz.

Destino de Liu Xia ainda incerto

Com algumas exceções, a imprensa chinesa não divulgou a morte do dissidente, cujo nome continua sendo um tabu no país. Já o jornal "Global Times" noticiou o falecimento e, em editorial, atacou as "forças estrangeiras", sem detalhar quais.

"[As forças estrangeiras] usaram a doença de Liu para melhorar sua imagem e diabolizar a da China", denunciou o jornal, controlado pelo Partido Comunista.

Em entrevista coletiva na quinta-feira à noite em Shenyang, os médicos de Liu Xiaobo garantiram ter feito todo o possível para salvar o paciente. O estado de saúde do ativista se deteriorou subitamente, após receber a visita de médicos ocidentais, que lhe ofereceram tratamento no exterior.

Os médicos chineses disseram que Xiaobo faleceu acompanhado da mulher, Liu Xia. Ela se encontra em prisão domiciliar desde 2010.

Representantes dos Estados Unidos e da União Europeia solicitaram a Pequim que ponha Liu Xia em liberdade e que lhe seja concedida autorização para deixar o país, se ela assim quiser.

Ao ser questionado sobre essa possibilidade, o porta-voz da Chancelaria não a descartou categoricamente, limitando-se a declarar que não se pronunciaria sobre o tema.

Liu Xia está privada de contato com o exterior e nunca pôde ser entrevistada pela imprensa estrangeira sobre o estado de saúde de seu agora falecido marido.

"Continua sob estreita vigilância", declarou à AFP o responsável pela Anistia Internacional na China, Patrick Poon.

O dissidente Hu Jia, pessoa próxima ao casal, disse não ter notícias da família Liu, assim como do funeral do Prêmio Nobel.

"Com certeza, as autoridades não vão nos deixar assistir", lamentou, em conversa com a AFP.

Desde a chegada ao poder do presidente Xi Jinping no final de 2012, a repressão política no gigante asiático aumentou. Além de reprimir defensores dos direitos Humanos, o governo também perseguiu seus advogados, prendendo dezenas de juristas e militantes.

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